Quem é Julia Ducournau, a segunda mulher a vencer Palma de Ouro
"Titanes", longa-metragem da diretora francesa, tem cenas desconcertantes e dividiu o público de Cannes.
Julia Ducournau estreou no Festival de Cinema de Cannes em 2016, com Grave, seu primeiro longa-metragem. O filme, sobre uma estudante de medicina atraída pelo canibalismo, foi muito bem recebido. Cinco anos depois, a diretora francesa voltou a Cannes para apresentar Titane, em que mistura drama e ficção científica e parte novamente do corpo humano para discutir uma série de questões. Desconcertante, o longa lhe consagrou como a segunda mulher a levar a Palma de Ouro, prêmio máximo do evento, e a primeira a receber a honraria sozinha (em 1993, Jane Campion dividiu a Palma de Ouro, por O piano, com o diretor Chen Kaige, por Adeus, minha concubina).
O longa é arquitetado para incomodar. Logo no início, um acidente de carro leva uma criança, Alexia, a precisar de um implante de titânio para reconstruir seu crânio — daí o título —, deixando uma cicatriz acima de sua orelha. Ao sair do hospital, ela corre para beijar o veículo que quase a matou.
Anos mais tarde, Alexia não faz questão de esconder a marca que herdou da cirurgia. Ela vive como dançarina, e em uma cena, performa um ato erótico em um cadillac em chamas para um público em êxtase. Ela deixa a apresentação com graxa entre as coxas. Com o tempo, sua barriga começa a crescer e seus peitos, a derramarem um líquido viscoso, preto.
Titane (ainda sem previsão de estreia do Brasil) é o segundo longa-metragem da carreira de Ducournau, 38 anos, que tem uma breve carreira até aqui. Ela trabalhou como diretora em dois episódios da série Servant, produzida por M. Night Shyamalan (O sexto sentido) e disponível no Brasil pela Apple TV+.
Em Cannes, Spike Lee lembrou Warren Beatty no Oscar de 2017, que se enganou ao anunciar a estatueta de melhor filme do ano. Quando estava divulgando o prêmio de melhor ator, o diretor sem querer começou a ler o nome do filme que ganharia a Palma de Ouro, mas os outros membros do júri o impediram antes que ele terminasse. Todos, porém, já sabiam que Titane era o grande vencedor do festival, enquanto a longa de lista de premiados era revelada.
Segundo Ducournau, o anúncio antecipado fez com que toda noite fosse surreal. “Foi perfeito por ser imperfeito”, disse a diretora quando finalmente subiu ao palco para receber a Palma de Ouro. Ela disse que até então acreditava que os filmes vencedores do prêmio eram perfeitos. “Mas hoje estou neste palco e sei que meu filme não é perfeito — acho que nenhum é aos olhos de quem o faz. O meu chega a ser monstruoso.”
Outros ganhadores da noite foram Ahed’s Knee, de Nadav Lapid, e Memoria, de Apichatpong Weerasethakul, que dividiram o Prêmio do Júri (cujo último vencedor foi Bacurau, em 2019). Já Leos Carax, diretor de Annette, recebeu o prêmio de melhor diretor, enquanto o japonês Ryûsuke Hamaguchi foi contemplado como melhor roteiro, por Drive my car, inspirado no livro homônimo de Haruki Murakami. O estadunidense Caleb Landry Jones (Nitram) e a norueguesa Renate Reinsve (The worst person in the world) receberam os prêmios de melhor atriz e melhor ator, respectivamente.
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