Kieran Culkin é favorito ao Oscar com personagem irritante e adorável

Famoso por interpretar Roman Roy em Succession, ator é um rapaz que revisita as origens da família em "A verdadeira dor", dirigido por Jesse Eisenberg.


Kieran Culkin



Vencedor do Emmy e do Globo de Ouro por seu trabalho como Roman Roy em Succession, Kieran Culkin está fazendo uma trajetória parecida com a de Da’Vine Joy Randolph. No ano passado, ela ganhou todos os prêmios de atriz coadjuvante até chegar ao Oscar com Os rejeitados

Kieran venceu o Globo de Ouro e os prêmios da maioria das associações de críticos, incluindo as de Los Angeles e Nova York e o National Board of Review. Está indicado ao SAG, Bafta e Critics Choice e ao Oscar de ator coadjuvante por seu trabalho em A verdadeira dor, que estreia nesta quinta-feira (30.01) no Brasil. É favoritíssimo para levar a estatueta dourada.

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O filme é escrito, dirigido e protagonizado por Jesse Eisenberg, candidato ao Oscar de roteiro original. Kieran interpreta Benji, primo de David (Eisenberg). Os dois cresceram juntos, eram inseparáveis, mas a vida os afastou. Sobrou aquela nostalgia do passado. Só que David agora é um responsável homem de família, enquanto Benji está à deriva, especialmente após a morte da avó de ambos. 

Os dois se reúnem para uma viagem à Polônia, onde visitarão o lugar onde ela nasceu e também os locais que representam o horror pelo qual membros de sua família e tantos outros passaram, incluindo o campo de concentração e extermínio de Majdanek. 

David é neurótico, ansioso, certinho. Benji é aquele tipo de pessoa imprevisível, doce em um momento e insuportável em outro, capaz de imensa empatia e de ser horrível com as pessoas. Os dois lidam com o luto pela avó e com o trauma intergeracional de formas diferentes. Batem cabeça o tempo todo, por mais que haja amor, nesse drama com momentos cômicos.

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Jesse Eisenberg e Kieran Culkin no set de A verdadeiera dor Foto: Agata Grzybowska, Courtesy of Searchlight Pictures, © 2024 Searchlight Pictures All Rights Reserved.

O filme é parcialmente autobiográfico – por exemplo, Jesse descende de judeus poloneses e rodou cenas na casa de sua família na década de 1930, quando a Alemanha nazista ocupou o país. Ele chegou a pensar em interpretar Benji, mas foi desaconselhado por Emma Stone, uma das produtoras do filme. Era um papel muito exigente, e ele ia dirigir A verdadeira dor também.

Jesse não conhecia o trabalho de Kieran, mas já tinha cruzado com ele em testes e outras ocasiões – inclusive, o ator namorou Emma no passado. “Ele tem uma qualidade atípica: é extremamente direto, mas também agradável e emocionalmente muito aberto”, disse Eisenberg em entrevista com a participação da ELLE. “Para Benji, eu precisava de alguém que gosta de antagonizar, mas também fosse doce. Que é meio malvado, mas também amoroso.”

Kieran também participou de entrevista com a ELLE. A seguir, os principais trechos:

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Foto: Courtesy of Searchlight Pictures, © 2024 Searchlight Pictures All Rights Reserved

Por que interpretar Benji

“Logo que li o roteiro, achei muito engraçado porque eu conheço alguém assim em que você nunca sabe qual vai ser a reação dessa pessoa. Benji me surpreende sempre, por isso quis fazer. Foi muito divertido.”

Quanto de Kieran há em seu personagem

“Você não sabe que versão terá dele em determinado momento. Provavelmente, há algo disso em mim, mas gostaria de acreditar que sou um pouquinho mais previsível e no controle das minhas emoções. Eu o entendi imediatamente e talvez deva conversar com meu terapeuta sobre isso. Mas não me vejo de jeito nenhum nessa pessoa. Só o entendo totalmente.”

Personagem irritante

“Engraçado, talvez tenha percebido como ele era irritante no roteiro, mas achei engraçado. Mal podia esperar para interpretar esse cara fazendo bullying com os outros. Quando você está interpretando, justifica o personagem. Você é o herói da sua própria história. Foi muito libertador fazer o personagem. Mas, ao assistir, havia momentos em que queria socar aquele sujeito. O Jesse, que em princípio queria interpretar o Benji, me disse que parte do que o personagem faz e fala são coisas que ele, Jesse, gostaria de poder fazer e falar.”

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Foto: Courtesy of Searchlight Pictures. © 2024 Searchlight Pictures All Rights Reserved.

Semelhanças e diferenças entre Benji e Roman, de Succession

“Com certeza, vejo semelhanças na maioria dos personagens que interpreto. Por exemplo, todos falam demais. No caso de Roman, decidi logo no primeiro dia que era um personagem que sabia que nunca sofreria nenhuma consequência. Ele sempre se daria bem. Com Benji, não. Ele apenas não tem filtro, como sua avó não tinha, precisa dizer o que está sentindo. Benji tem muitos problemas, mas também empatia, muito amor pelos outros, consegue ler as pessoas, tem interesse por elas. Ele constantemente está buscando por momentos reais. Roman, não. Ele podia ser charmoso e dar atenção a alguém, mas apenas se fosse tirar proveito daquilo. Também precisava de sua família – seu pai, seus irmãos – para ter uma identidade própria, para refletir sobre si mesmo. Benji entende quem ele é, mas precisa da família por amor. Só que nem sempre sua família está presente para ele.”

Pesquisa

“Não senti necessidade, primeiro porque Benji é espontâneo, ele não pesquisou nada antes da viagem. Ele só quer visitar a casa da sua avó. Segundo, porque para mim o filme fala desses dois personagens que se afastaram depois de passarem sua infância juntos. Eles estão em posições diversas na vida e são muito diferentes. Sobre Majdanek, não quis fazer pesquisa porque tinha a impressão de que Benji não tinha feito. E ele nunca tinha ido a um campo de concentração, como eu. Queria ter a experiência da primeira vez como Benji. O que me impressionou é a pouca distância entre o campo e a cidade. As pessoas em Lublin, durante a Segunda Guerra, podiam ver o que estava acontecendo.”

A experiência com Jesse

“Ele tem três funções no filme: ele atua, escreve e dirige. Sabia que é um bom ator. Amei o roteiro de cara, entendi quem era aquela pessoa e a dinâmica entre os dois. Mas não sabia como era o diretor Jesse Eisenberg. Tinha visto o primeiro longa dele (Quando você terminar de salvar o mundo, de 2022), gosto muito, mas não sabia como ele trabalha com os atores. E é engraçado ser dirigido por outro ator ou mesmo por alguém da minha idade. Comecei quando era criança (seu primeiro papel foi aos 8 anos, em Esqueceram de mim, de 1990, ao lado do irmão Macaulay), então o diretor sempre era alguém mais velho e experiente. E agora que têm a minha idade, às vezes são menos experientes. Pode ser difícil de ajustar. Mas vê-lo no set foi inspirador. Me deu até vontade de dirigir também, e olha que esse não é um plano meu.”

Começo difícil 

“Houve um certo desacerto no início. Estava vindo de Succession, onde não havia nenhuma marcação de cena, de onde eu deveria ficar ou por onde andar. Era muito livre. Então, sabia que ia ser diferente no filme, mas Jesse chegou com uma ideia muito específica. Ele tinha planejado tudo e gravado uma prévia de cada cena no celular. Mas comecei a questionar certas coisas, queria que ele explicasse certas decisões. No fim, fui me adaptando a algo mais estruturado, e ele também foi relaxando e me deixando tentar certas coisas.”

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