Os favoritos de Maeve Jinkings

A atriz de longas como O Som ao redor e Aquarius conta quais as séries, filmes, peças, discos, cantores e shows que a marcaram profundamente, de Emicida a Lovecraft country.


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Você provavelmente viu Maeve Jinkings na tela do cinema nos últimos anos. A atriz interpretou a dona de casa entediada que se masturba com uma máquina de lavar de O som ao redor (2012), a motorista de um caminhão boaideiro em Boi Neon (2015) e a filha da última moradora do edifício Aquarius, no longa homônimo de Kleber Mendonça de 2016, com o qual foi ao Festival de Cannes. Maeve é um rosto conhecido do cinema pernambucano, apesar de ter nascido em Brasília e crescido em Belém. Na TV, também foi Joana, personagem que embaralhou a trama, ambientada no Sertão, da minissérie Onde nascem os fortes (2018). Aqui, ela – que se prepara para filmar mais um longa – divide os muitos discos, filmes, séries, livros que a marcaram, além dos atores que a inspiram:

Um filme que você não se cansa de assistir à reprise: 2001: Uma odisseia no espaço.

Uma série que você maratonaria de novo: We are Who We Are, Killing Eve, Fleabag, Lovecraft country, I may destroy you… Cada uma por razões muito diferentes, são séries que me inspiram muito.

Um ator/atriz que te fez querer atuar: Foi tudo bem lá atrás. Cinema estrangeiro: filmes do Chaplin, Holly Hunter em O piano, todo o elenco de A guerra do fogo. Mais crescida, me apaixonei também por Liv Ullmann e Gena Rowlands. Cinema nacional: Marcélia Cartaxo em A hora da estrelaDona Flor e seus dois maridosA marvada carneMacunaíma. Novelas: o elenco de Roque Santeiro, Vale tudo, Tieta e Sassaricando.

Um papel que gostaria de ter interpretado: Orlando, papel que foi de Tilda Swinton na adaptação para o cinema do livro de Virginia Woolf.

Para quem daria um Oscar? Gena Rowlands e Fernanda Montenegro, pelo conjunto da obra!

Uma peça que gostaria de rever: Cacilda!, com Bete Coelho, Leona Cavalli e direção de Zé Celso, no Teatro Oficina.

Um livro de cabeceira: tenho muitos amores, mas Amada, de Toni Morrison, me arrebatou como poucos.

Que cantor/cantora/banda nunca falta em uma playlist sua? Nina Simone, Björk, Caetano, Madonna, Amy Winehouse, Nação Zumbi, Céu, Alessandra Leão, Elis, Marisa Monte, Emicida, Racionais MC’s, Conde do Brega, Janis Joplin, Daft Punk… A lista é longa e tenho uma playlist pra cada estado de espírito!

Três discos que você levaria para uma ilha deserta: Só três??? Que difícil. Transa, Cinema trascendental (ambos de Caetano Veloso) e The dark side of the moon (Pink Floyd).

Um show inesquecível: Milton Nascimento, em um estádio em Brasília, na minha infância. Nunca esqueço do estádio inteiro cantando junto “Maria, Maria”. O show dos Menudos, em um estádio em Belém do Pará também foi bem marcante! Sou eclética desde sempre (risos). Show de 30 anos do Da lama ao caos (Nação Zumbi), em Garanhuns (PE). Roger Waters tocando na íntegra The dark side of the moon, em São Paulo. Aquilo foi como uma ópera de rock. Björk no Tim Festival! Amy Winehouse em Recife, apenas seis meses antes de sua morte.

Um show que você ainda quer assistir: Madonna e Beyoncé.

Qual cantora/cantora/banda você anda dando repeat ultimamente? Ando completamente apaixonada por Alice Smith e Blood Orange, que conheci por fazerem parte da trilha sonora de séries que amo. Emicida tem trazido luz pra minha vida.

Quem você adora seguir no Instagram? @FracassadaAtriz! Vocês têm que conhecer! Ela satiriza as dificuldades diárias que toda atriz ou ator passa na vida. É hilário e às vezes trágico (risos). Tem também o extraordinário @comidasaudavelparatodos, da jornalista Juliana Gomes, onde ela fala sobre as diversas armadilhas que a indústria alimentícia se esforça para nos impor.

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Uma exposição inesquecível: O retorno do desejo proibido, de Louise Bourgeois, em 2011, no PROA de Buenos Aires. Visitei a mesma exposição em SP. Também me marcou muito a expo Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985, na Pinacoteca (São Paulo). E minha visita solitária ao museu do Van Gogh, em Amsterdã. Eu chorava copiosamente enquanto mandava mensagens à minha família… Queria dividir aquela beleza com alguém.

Uma descoberta recente nas artes: O que eu descobri não é novo… e talvez esse seja o ponto. A fim de driblar a desigualdade de gênero na literatura, passei os últimos anos decidida a ler apenas mulheres (na lista, Virginie Despentes e sua Teoria King Kong) e, de preferência, mulheres pretas. Depois, me rendi também a homens pretos e trans. Estou falando de Um defeito de cor (Ana Maria Gonçalves); A caminho de casa (Yaa Giasi); O avesso da pele (Jeferson Tenório); Torto arado (Itamar Vieira Junior); Amada (Toni Morrison); Marrom e amarelo (Paulo Scott); e Paul B Preciado (Manifesto contrassexual). Isso abriu um universo muito mais rico para mim, descobri artistas incríveis que o machismo e racismo acadêmico esconderam por muito tempo. Nunca os livros tinham atravessado meu corpo a ponto de gerar sensações físicas, quase metafisicas, como aconteceu nesse processo, nunca havia chorado daquela maneira… Eles me deram um reboot, sabe? Me ensinaram a RE-ver o mundo.

A atriz

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