Sete personagens marcantes de Gilberto Braga

Vida do autor de novelas como "Dancin’ days", "Vale tudo" e "Paraíso tropical", é passada a limpo em livro.


Camila Pitanga como Bebel, da novela Paraíso Tropical, de Gilberto Braga
Camila Pitanga como Bebel, da novela "Paraíso Tropical" Foto: Arquivo pessoal



A vida de Gilberto Braga (1945-2021), por si só, daria uma boa novela. Daquelas que prendem a atenção do público do primeiro ao último capítulo.

Em 1945, um mês antes de Braga nascer, sua avó, Rosa Tumscitz, foi assassinada pelo marido, padrasto do pai, com direito a manchete nos jornais da época. Em 1963, o pai de Braga, Durval, teve morte súbita após subir uma escada durante uma viagem de férias a Minas Gerais, com apenas 44 anos. Em 1972, foi a vez da mãe de Gilberto, Yedda Tumscitz, que se jogou da janela do apartamento em que morava, em Copacabana.

Autor de novelas de grande sucesso exibidas na Rede Globo entre as décadas 70 e 2010, como Escrava Isaura (1976), Dancin´days (1978) e Vale tudo (1988), e as minisséries Anos dourados (1986) e Anos rebeldes (1992), Braga estreou na TV Globo em 1972, com a adaptação do livro A Dama das camélias, de Alexandre Dumas.

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Foto: Divulgação

Fez sucesso logo de cara e não demorou para que ele fosse alçado ao panteão de autores consagrados da televisão brasileira. A maior parte de suas obras, ainda hoje, permanecem entre as maiores audiências da Globo, em seus respectivos horários.

Grande parte desses sucessos foram concebidos a partir da imaginação e do talento de Braga, cuja vida real, também cheia de altos e baixos, como vimos acima, é bem explorada na biografia Gilberto Braga – O Balzac da Globo. Lançado recentemente pela Editora Intrínseca (352 páginas, R$ 130), o livro resgata a trajetória do autor carioca, cujo sonho era ser cineasta, e os bastidores da televisão brasileira durante mais de quatro décadas. 

A própria concepção do livro é digna de roteiro. Em 2019, Braga convidou o jornalista Artur Xexéo para escrever a biografia. O trabalho foi interrompido pela morte do jornalista, em 2021. Houve então o convite ao jornalista Mauricio Stycer para continuar o trabalho. Quatro meses após a morte de Xexéo, também em 2021, foi a vez da partida do próprio Braga, aos 75 anos.

Suas histórias e personagens inesquecíveis – vilões, vilãs, mocinhos e mocinhas –, muitas vezes foram inspirados em pessoas que ele conhecia ou até da própria família.

Dos perrengues da juventude, quando não sabia muito bem o que queria fazer da vida e defendia o sustento como professor de francês e crítico de teatro no jornal O Globo, ao topo da carreira na principal emissora de televisão do país, não há como falar da história do entretenimento nas telinhas sem citar Braga.

Suas histórias e personagens inesquecíveis – vilões, vilãs, mocinhos e mocinhas –, muitas vezes foram inspirados em pessoas que ele conhecia ou até da própria família. As tramas que retratam as classes média e alta da sociedade, que o biografado sempre transitou muito bem desde a juventude, graças às aulas de francês que ministrava para os ricos, quase sempre levam na receita ambição, dinheiro e vingança. Por dinheiro, aliás, que Braga, sempre muito sincero, dizia escrever novelas, já que o sonho da sua vida seria dedicar-se ao cinema. 

Claudia Abreu Gilberto Braga e Malu Mader Credito Arquivo Pessoal

Gilberto Braga, entre Claudia Abreu e Malu Mader, que protagonizaram diversas novelas e minisséries do autor Foto: Arquivo pessoal

“Tudo que eu sei aprendi no cinema”, exagerava. Mas, se gostava tanto da sétima arte, por que não se dedicou a ela com mais afinco, profissionalmente inclusive? O próprio novelista respondeu a Xexéo, com a sinceridade que era a sua marca: “Preguiça. Tinha me dado bem em televisão. Achei bobagem tentar.” E completou: “Você atinge um público muito maior com TV do que com um filme, peça ou romance.”

Com seu currículo de mais de 30 obras, entre novelas e séries, Braga está entre aqueles que ajudaram a tornar as telenovelas brasileiras em um fenômeno cultural e sociológico de notável importância. “Num gênero menor, visto como descartável por muitos, Gilberto conseguiu se conectar com grandes audiências e colocar o Brasil na tela. Várias de suas novelas, a rigor, ajudam a contar a história do país”, registra Stycer.

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Sonia Braga como Júlia Matos, dançando com personagem de Paulette Reprodução/TV Globo

As personagens que marcaram a obra Gilberto Braga:

Dona Xepa, de Dona Xepa (1977)
A feirante vivida por Yara Cortes simbolizava a mulher forte e batalhadora, de classe média, que luta para criar os filhos, mas não tem o esforço reconhecido por eles.

Julia Matos, de Dancin’ Days (1978)
A ex-presidiária imortalizada por Sonia Braga é um dos principais personagens do primeiro grande sucesso de Braga no horário de novelas das oito.

Chica Newman, de Brilhante (1981)
Personagem de Fernanda Montenegro, Chica é uma mãe aristocrática e autoritária que não aceitava a homossexualidade do filho, Inácio (Dennis Carvalho), para quem estava previsto, além de um bom casamento convencional, suceder os pais nos negócios da família.

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Camila Pitanga como Bebel, de Paraíso tropical Divulgação/TV Globo

Lurdinha, de Anos dourados (1986)
Na minissérie ambientada no Rio de Janeiro dos anos 50, a jovem de classe alta Lurdinha (Malu Mader) luta para vencer os preconceitos da época e viver seu grande amor com Marcos (Felipe Camargo).

Odete Roitman, de Vale tudo (1988)
O Brasil parou para descobrir quem era o assassino da vilã Odete Roitman. Foi um dos grandes papéis da atriz Beatriz Segall, cuja personagem virou sinônimo de arrogância, prepotência e vilania.

Heloísa, de Anos rebeldes (1992)
A atriz Claudia Abreu roubou a cena na minissérie, no papel da filha de um milionário que entra para a luta armada ao lado de grupos de esquerda, durante a ditadura militar.

Bebel, de Paraíso tropical (2007)
A prostituta Bebel, personagem secundário vivido por Camila Pitanga, conquistou o público com seu jeito bem-humorado, roupas extravagantes e seu romance com Olavo (Wagner Moura) .

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