Uma prévia da Maison Gainsbourg, por Charlotte
Diretora do novo museu parisiense, a cantora e atriz posta em seu Instagram fotos de objetos inéditos que o público verá a partir do dia 20 de setembro.
Casa em que Serge Gainsbourg viveu por 22 anos, a Maison Gainsbourg virou museu, livraria e piano-bar, um complexo que vai ser inaugurado no próximo dia 20 de setembro, em Paris. Diretora do projeto e herdeira da propriedade onde passou a infância, a cantora e atriz Charlotte Gainsbourg, filha do artista com Jane Birkin, vem postando em seu perfil no Instagram imagens de objetos pessoais de Gainsbourg, em uma prévia de parte do acervo que ela preservou praticamente intacto desde 1991, quando ele morreu no sobrado de 130 metros quadrados no bairro de Saint Germain-de-Près.
Tiradas em preto e branco pela própria Charlotte (“A casa do meu pai, as minhas imagens”, ela escreve nas legendas dos posts), as fotografias mostram detalhes como o da escada que, coberta com tapeçaria floral em preto e branco (combinação que predomina em toda a decoração), leva até o primeiro andar, onde ficavam os quartos dela, da meia-irmã Kate Barry (filha do primeiro casamento de Birkin) e de Serge e Jane (eles viveram juntos no endereço até 1980, quando se separaram).
Tapeçaria floral P&B, que domina toda a decoração da casa onde Gainsbourg morou Reprodução @charlottegainsbourg
As marionetes com a imagem do cantor que aparecem nas redes sociais de Charlotte e também no site da Maison Gainsbourg são de épocas diferentes. A maior é de 1973 e foi encomendada pelo empresário de Birkin, a pedido da cantora, para celebrar os 20 anos de carreira de Gainsbourg na época. Décadas mais tarde, Charlotte pediu à marionetista Virginie Gilbert, mulher de Pascal Gilbert (dono da companhia Gepetto), criador do primeiro boneco, para que ela criasse uma segunda marionete em homenagem à abertura da Maison. Gainsbourg gostava tanto de seu boneco que o deixava sentado na poltrona onde compunha muitas de suas canções. E é lá que ele segue, agora em companhia de uma nova versão.
Os cigarros Gitanes, a marca que Gainsbourg fumava, não foram colocados como cenário: as bitucas que aparecem na imagem são da época em que ele morava na casa. Os sapatos richelieu Zizi, da Repetto, modelo que o cantor não tirava dos pés, são outro exemplo de algumas das marcas registradas de Gainsbourg em exposição na Maison e antecipadas por Charlotte nas suas redes sociais.
As marionetes com a imagem do cantor Reprodução @charlottegainsbourg
Há, porém, muito mais objetos icônicos do estilo do cantor preservados no endereço onde ele morou, para a sorte de quem conseguiu comprar um dos ingressos, esgotados até dezembro (o piano-bar e a livraria ficam num prédio ao lado, projetado por Jean Nouvel, têm visitação gratuita, sem hora marcada). A garrafa de pastis Ricard, bebida com a qual o artista começava o dia (!), segue no mesmo lugar onde ele a deixou antes de morrer, por exemplo. A escultura L’Homme à tête de choux, do francês Claude Lalanne, também permanece na casa desde que foi fotografada para a capa do disco homônimo, de 1976.
Os cigarros Gitanes, os preferidos de Gainsbourg, e as bitucas intactas Reprodução @charlottegainsbourg
O hábito quase obsessivo de não mover nada do lugar talvez tenha vindo da infância de Charlotte. A cantora e atriz, que viveu na casa de 1971 a 1980, cresceu aprendendo a desviar dos inúmeros bibelôs, fotografias, livros, esculturas e três pianos no meio da sala – um deles, elétrico, comprado pelo pai para ensiná-la a tocar. Gainsbourg compunha centenas de músicas cercado pela decoração que ele mesmo criou (ajudado pela decoradora cult da época, Andrée Higgins), com destaque para as paredes totalmente forradas de tecido preto, inspiradas no estúdio de Salvador Dalí anos 1950. O cantor justificava o caráter meticuloso de sua decoração afirmando que a organização externa era necessária para compensar seu caos interno.
Os sapatos Repetto de Gainsbourg Reprodução @charlottegainsbourg
Nas paredes da escada fotografada por Charlotte, imagens da família misturadas às mulheres com quem Gainsbourg se relacionou, entre elas Brigitte Bardot, com quem ele pretendia morar no endereço quando comprou o imóvel (ela terminou com ele antes disso). Em entrevista na época, Birkin conta que, embora vivessem em família, aquele era um espaço que refletia a personalidade do cantor, com exceção do quarto das crianças, que era dedicado exclusivamente a elas.
Em breve, as portas para esta dimensão do universo criativo do artista estarão abertas aos que apreciam sua estética, que marcou toda uma geração e definiu o estilo francês de uma época. Não é pouca coisa.
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