Valentina Bandeira: 2023 é o ano dela

Prestes a estrear no Beija sapo, hit na Copa do Mundo Feminina, a atriz e YouTuber colhe os frutos de uma carreira profícua.


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Valentina Bandeira Divulgação MTV



Valentina Bandeira é mais conhecida como Valen, e o diminutivo do nome aqui cai bem. Acelerada, do tipo que dispara palavras na velocidade, ela parece ter surgido neste ano e tomado conta de todos os lugares – da TV ao cinema, do YouTube ao feed do Instagram. 

Mas não é de hoje que ela se prepara para o sucesso. Nascida na França 29 anos atrás, criada no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro desde os 3, Valen é cria da televisão em vários sentidos. 

Iniciou sua carreira no Teatro Tablado, celeiro da juventude artística do Rio, atuou nas novelas Geração Brasil, Totalmente demais e Todas as flores, participou da série As canalhas e do programa humorístico Zorra, da Rede Globo. Cresceu também em frente às telas, consumindo desenhos e novelas.

Agora, se prepara para comandar o Beija sapo, que estreia dia 17 de setembro, na MTV. Programa que já foi apresentado por Daniella Cicarelli e que promete fazer com que seu nome ganhe ainda mais fãs, seja consolidado. 

“Eu vim caminhando, caminhando e realmente me apresentei pro grande público neste ano. Agora, preciso de uma consolidação pra realmente definir que 2023 é o meu ano”, diz ela. “Mas acho que ainda estou nessa fase de realização, sabe? Talvez, meu ano seja 2024 mesmo. Vamos ver como o programa vai repercutir.” 

A seguir, os principais tópicos da entrevista feita por vídeo, no pré-feriado e que passa por Cazé TV, referências, saúde mental e beleza, entre outras coisas. Sim, Valentina Bandeira é do tipo que não poupa palavras. 

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Valentina Bandeira Divulgação MTV

A Copa do Mundo é sua

“Tudo começou com uma minientrada minha na Cazé TV (canal do YouTube de Casimiro, outro case da comunicação digital), durante os amistosos da seleção brasileira. Em seguida, eles me convidaram para cobrir a Copa e passar 40 dias direto na Austrália e Nova Zelândia. As pessoas, às vezes, têm a impressão de que carreiras são meteóricas, de que alguém aparece e  uhu, ela tá no auge’. Não é assim. Eu sou muito da construção, da observação das coisas, de fazer com bastante atenção, de entender qual é o melhor lugar pra fazer cada coisa, o que cada público curte. Só fui convidada para a Cazé por conta do trabalho que venho fazendo na internet ao longo de 2022.” 

A volta da Austrália

“Desde quando me anunciaram no Beija sapo, e eu já ia para a Copa Feminina, foi uma convergência de coisas muito grandiosas, minha agenda realmente começou a ficar descontroladamente entupida, todo mundo querendo um pedacinho desse momento, né? A Copa fez, sim, uma diferença em como as pessoas me enxergam. E acredito que cada vez mais as pessoas vão ser capazes de explicar quem eu sou, entender quem eu sou e todas as coisas que sou capaz de fazer.”

Beija sapo, mas sem compromisso

“Ser solteira me deixa mais livre pra poder falar besteira – inclusive, quando eu for namorar, tenho que namorar uma pessoa muito tolerante, que seja capaz de me ouvir falando loucuras, porque eu acho que foi essa liberdade que me alçou nesse lugar também. O podcast que eu fazia antes (Match o papo) e que me levou até o Beija sapo demandava muita liberdade pra poder brincar ali com aquela história, com aquelas pessoas. Você poder eventualmente dar mole pra alguém ou falar alguma coisa que talvez eu me sentisse podada se estivesse compromissada… Então, não ter compromisso me ajudou em vários aspectos. E gravar o programa tem sido muito incrível, porque é uma volta minha pra televisão, onde aprendi tudo. Eu sou filhote de televisão, vou fazer 30 anos e ainda sou muito da geração que consome Rede Globo, que ainda liga a TV de manhã e só desliga à noite. É como se tivesse unido a minha linguagem de internet com todo meu know-how de TV. Fora isso, me diverti muito, muito! O Beija sapo era uma coisa tão grandiosa e que as pessoas amavam tanto, que eu fiz um compromisso comigo de me divertir, sabe? E acho que consegui realizar isso.” 

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Família, família

“Cara, eu tive uma educação muito libertária e que trabalhou muito a minha subjetividade, tanto pelos meus pais, quanto pelo meu processo analítico, quanto pelo colégio em que eu estudei. Trabalhar essa subjetividade, essa individualidade era muito importante e acho que isso me fez uma boa comunicadora. Eu tive pai gay (o bailarino e diretor Ricardo Bandeira), que quebrou muitas barreiras e já veio com uma ideia de educação que me estimulasse a ser quem sou, a existir da minha maneira. Por mais que o meu núcleo seja muito preconceituoso com internet, por exemplo, com qualquer coisa que fale sobre cultura popular, porque eu venho de uma elite cultural muito pedante, em que tudo que é popular é criticado, esse trabalho da subjetividade me fez entender o que eu gosto e o que eu quero. Minha família teve um papel fundamental em me estimular a ser quem eu sou e me fazer ter coragem de furar a bolha.”  

Biscoito fino? 

“A elite cultural do Rio de Janeiro é tóxica, superpreconceituosa e excludente. Vir morar em São Paulo me fez ver como o Rio é provinciano em relação à maior cidade da América Latina. O quanto essa ideia carioca de centralizador da cultura é uma ideia que só está dentro dessa bolha. Você sai um pouquinho desse núcleo e encontra um Brasil gigantesco, com gente muito talentosa fazendo coisas brilhantes, gente muito profissional, muito capaz, que não é filho de ninguém… Sem criticar os meus, porque eu tenho o maior orgulho da onde eu vim e da minha família, tive que percorrer um caminho muito árduo pra poder convencer as pessoas de que o que eu estava fazendo merecia ser olhado, que eu não queria mais ser uma atriz erudita que ia ter um monólogo e fazer drama no cinema nacional de baixo orçamento.” 

Saúde mental

“Acho que todos precisam lidar com suas próprias frustrações e problemas, independentemente do meio. Lidar com a vida, sabe? Eu faço análise desde os meus 8 anos de idade. Tenho uma saúde mental complexa, então preciso estar sempre olhando de muito perto.” 

Sexualizada, eu?

“Pela minha trajetória de vida, eu tive muita dificuldade com esse lugar da sexualização. Vim de um colégio francês, onde as coisas funcionavam de um jeito muito diferente. O Brasil é um país muito mais carnal, excitado, com uma relação muito mais fluida com o corpo do que a França. E eu tinha muito medo sim de ser sexualizada, principalmente antes de entenderem que eu era uma menina muito inteligente. Acho que fiz toda uma estratégia, mesmo que não tão bem elaborada, mais no instinto mesmo, pra entenderem que eu era inteligente antes de ser sexualizável. E, aí, agora, acho que tou lidando com isso de uma forma muito peculiar, porque acho que nas minhas redes e em todos os trabalhos a sexualidade tá ali bem pungente, mas ela é muito própria, mais artística mesmo. É uma forma também de ver se eu encontro ela em mim de alguma maneira, se consigo abraçar ela melhor dentro de mim.”  

Valentina Bandeira por Valentina

“Sou muito mais introspectiva. Sou filha única de pais separados, minha mãe trabalhava o dia inteiro, meu pai foi morar fora quando eu era nova, então, sou uma pessoa da solidão, da introspecção. Isso é uma vertente em mim fortíssima. Mas acho que o que mais deixa as pessoas curiosas pra entender é minha capacidade de ser várias pessoas dentro de uma só. Eu posso ser a pessoa mais introspectiva do mundo ou a mais extrovertida. Posso ser muito engraçada e posso ficar calada e tímida. E não tenho expectativas em relação a mim, porque eu sou maluca mesmo. Tenho 20 anos de terapia, sou extremamente dentro da realidade das coisas, extremamente sã, mas gosto de poder ser o que eu quiser, na hora que quiser, do jeito que estiver me sentindo. Então, não tenho muito como explicar como é que eu sou. Aliás, acho que é isso que me permite fazer o meu trabalho com excelência. Eu entendo o que o outro quer e me adapto.” 

Ficção x realidade

“É muito louco como o meu trabalho pra Cazé TV tem insumos de atriz. É lógico que eu não estava feliz todo momento que eu tava lá, mas tenho todo um preparo de dez anos em novela que me permite levar meu sentimento pra onde eu quiser que ele vá. Isso é da minha origem. Eu sou uma atriz que está sendo repórter ou que está sendo apresentadora. Em todas essas linhas, o meu berço como atriz é a base de tudo, de onde tudo prolifera.” 

Inspirações

“Tenho o antigo e o novo testamento. A minha vida inteira as figuras representativas do que eu gostaria de ser eram Andrea Beltrão, Fernanda Torres, Débora Bloch, a Adriana Esteves, a Renata Sorrah, a Fernanda Young… Depois vieram, Caruso, Adnet, Gregório, Queiroga, Larica total, Choque de cultura, Falha de cobertura, esses moleques todos. E aí depois a internet entrou na minha vida, foi indo, foi indo, cheguei a Tatá Werneck, Casimiro, Patrícia Ramos, de quem sou fã descomunal. Acho ela brilhante, brilhante, uma mulher preta de 23 anos é tudo de mais revolucionário e atual, é o que a gente precisa, uma comédia no timing perfeito, uma comédia que não fala só de homem. Ela é uma mulher fazendo comédia disruptivamente.”  

Rir do quê? 

“Essa coisa de você querer fazer piada depreciando o outro ou promovendo racismo, homofobia, isso aí não é comédia, é crime. Eu acho que pra ser um bom comediante é muito mais difícil do que isso, você não falar merda é o básico do básico como ser humano. Um bom comediante tem que ter timing, saber o momento certo pra falar aquela palavra que vai fazer o outro rir, ter a perspicácia de retomar uma coisa que o outro falou há cinco minutos e que foi engraçada e que por repetição a piada acontece. É estar extremamente atualizado, saber qual é o zeitgeist, o que está sendo engraçado no momento. Qualquer artista, seja quem for, precisa estar acompanhado pelo seu tempo. Você é a tradução do seu tempo.” 

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Belezinha 

“Não tinha relação nenhuma com moda e beleza, aliás, tinha uma relação de pânico, de terror. Eu não podia me sentir bonita, sentir que alguém poderia olhar pra mim e dizer ‘meu Deus, que mulher gostosa, que mulher bonita’. Fui construindo muito aos pouquinhos essa relação na minha vida íntima e pessoal. Quando estou dentro do personagem da apresentadora e ponho uma supermaquiagem linda, uma roupa linda, eu penso que talvez a Valen da vida pessoal também possa se sentir assim. Se consigo performar isso lindamente enquanto tou com três câmeras ligadas na minha cara e administrando uma plateia de 80 pessoas, por que eu não consigo fazer isso quando eu vou pra night sair com meus amigos, sabe? É um trabalho que tou fazendo agora, um pouco tardiamente. Mas acho que ainda tenho bastante tempo pela frente, porque tenho uma referência, que é a minha mãe, que também foi ter essa experiência de beleza, de confiança, mais velha, depois dos 40. Por ter nascido na França, onde também não há essa obsessão com a juventude, acho que estendi a infância e a juventude até onde pude. Apesar de eu dar PT, de fumar maconha cedo, fui muito garota até muito mais velha.”

A vida secreta dos adultos

“Comecei a amadurecer ano passado, com 28 anos, e tou num momento de repaginação mesmo, de plena ebulição do que eu escolhi ser. O entendimento pleno de que 30 anos é ser adulto começou agora. Acho que tou num momento muito especial e sempre tive a sensação de que eu ia viver esse momento nessa idade. Eu me programei pra estar muito bem-sucedida nesse momento, eu sonhei com isso, eu desejei e estou muito feliz mesmo com tudo o que me trouxe até aqui. Só preciso loucamente tirar férias (risos). Mas vou gravar um filme da Globo Play de Natal e ainda tem muita coisa pela frente até o final do ano.” 

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