Lenny Niemeyer: Alto Verão 2024
Lenny Niemeyer incorpora materiais rústicos, típicos do artesanato brasileiro, ao seu olhar modernista do beachwear em coleção de alto verão 2024.
Lenny Niemeyer apresentou nesta segunda-feira, 29.11, a sua coleção de alto verão 2024, com uma atenção especial para o artesanato brasileiro.
“Vejo que o grande luxo agora é trabalhar com esse artesanato, imaginar formas desafiadoras com a palha brasileira. Estou encantada com isso”, ela explica no backstage, antes do desfile.
Lenny Niemeyer, alto verão 2024. Foto: Zé Takahashi
A rusticidade estava presente desde a locação, a sede da Cinemateca Brasileira, na Vila Mariana, em São Paulo. O conjunto de galpões com tijolo à vista do século 19 não foi o acometido por um incêndio em julho de 2021. Na verdade, o edifício devastado foi o galpão da Vila Leopoldina, que guardava um acervo centenário. Mas a escolha do lugar foi bem-vinda para mexer com a memória e lembrar que qualidades nacionais demandam preservação.
Corta para a roupa e essas qualidades brasileiríssimas são a seda orgânica, chamada de seda rústica e produzida no Vale da Seda, no Paraná, pelo Casulo Feliz. Outro tesouro nacional é a palha de buriti, que ganha formas arrojadas, por meio do crochê, nas mãos da Associação de Artesãs de Barreirinhas, no Maranhão.
Lenny Niemeyer, alto verão 2024. Foto: Zé Takahashi
Lenny já trabalhava com essas comunidades antes, de forma terceirizada, mas decidiu nesta estação tirar o artesanal única e exclusivamente dos acessórios, como chapéus, bolsas e sandálias, e levar também para as roupas. A responsável por ajudar tal movimentação foi a estilista Raissa Colela, que estreitou os laços da marca com as artesãs e expandiu o uso dos materiais.
Lenny Niemeyer: palha do futuro
Formada em arquitetura, Lenny é conhecida por suas linhas de quê modernista – não à toa, a estilista lembra com frequência que nomes como Oscar Niemeyer e Lygia Clark são inspirações. O seu desenho é limpo, amplo, geométrico, o que não significa, porém, minimalista, afinal ela também explora volumes que criam desenhos para além do corpo e usa estampas ampliadas, que precisam de distância para serem compreendidas.
Lenny Niemeyer, alto verão 2024. Foto: Zé Takahashi
O ponto é que muitas vezes a sua imagem tende a cair num lugar futurista (o que é espetacular e faz do seu beachwear tão original). Pense no verão 2018, inspirado nas artistas Emma Kunz e Hilma af Klint, ou na coleção de aniversário de 30 anos da marca, apresentada em Niterói, em 2021, e o alto verão 2023, uma colaboração com o estilista Leandro Benites, desfilada no final do ano passado. Todas elas, para mulheres fantásticas do agora e do amanhã.
Fato positivo é que a rusticidade da palha de buriti não tira esse jeito contemporâneo de Lenny, uma essência de jogar tudo pra frente, um desejo que aponta sempre por algo novo. E é o equilíbrio que permeia toda a sua coleção de número 32, com maiôs inteiros de cestaria ou envolto por pétalas de palha, em contraponto com caftãs e capas fluidas de seda.
Lenny Niemeyer, alto verão 2024. Foto: Zé Takahashi
Camisas amplas andam ao lado de vestidos com shapes esculturais, longos que vão até o chão, estampados com imagens digitalizadas de cestaria, dividiam espaço com macacões cheios de texturas e paetês localizados. Sim, a palha tem mil e uma possibilidades.
Destaque para os conjuntos com base de alfaiataria abertos nas laterais e com ráfia por toda a extensão da lapela e nas costuras das calças, além das sobreposições de coletes que caiam como telas nos ombros. Trata-se de imagem forte do que o Brasil pode fazer com os seus ricos materiais, desde que com um design afiado.
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