NYFW: Altuzarra, verão 2026
Atento aos excessos da inteligência artificial, Joseph Altuzarra dispensa tecnologias para falar das flores.
Pelo salão do edifício Woolworth, em Nova York, se via na cadeira de cada convidado do desfile da Altuzarra uma trouxa de tecido com A polícia da memória (1994). O livro, escrito por Yôko Ogawa, acompanha uma ilha onde coisas, como flores, pássaros, perfumes e fitas, começam a sumir misteriosamente. Enquanto uma força autoritária age para que os habitantes percam toda a memória relacionada aos itens desaparecidos, a narradora tenta resistir, preservando lembranças através da escrita.

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação
Assim como ela, o fundador e diretor criativo da etiqueta, Joseph Altuzarra, não quer se esquecer das miudezas bonitas e, sobretudo, naturais da vida. Em conversa com a imprensa, minutos antes de apresentar seu verão 2026, o designer cita, entre suas aflições, os perigos do uso excessivo da inteligência artificial. “A gente não consegue mais dizer se algo é real ou não”, diz. Veio daí sua vontade de enganar os olhos do observador a partir de trabalhos manuais, dispensando tecnologias.
As flores, uma referência ao livro de Yokô, são as protagonistas. Elas estampam vestidos soltos de seda e se destacam quando são sobrepostas, uma a uma, às superfícies das peças – uma brincadeira esperta com a tridimensionalidade. Os pássaros quase passam despercebidos à primeira vista. Mas são eles que envolvem as golas das blusas, fazendo as vezes dos cachecóis.
Era uma vontade do designer que os elementos da natureza não tivessem uma aparência certinha demais. Por isso, suas costuras são desfiadas e há um exercício, ainda que leve, de surrealismo nas ilustrações, todas feitas à mão. “O desfile tem uma imagem familiar mas, ao olhar de perto, é sutilmente estranho, refletindo a dissonância do nosso tempo”, escreveu a marca em um comunicado.

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação
A estranheza também se faz presente em algumas escolhas. É o caso, por exemplo, do uso de pele falsa em casacos e saias em pleno verão. Mas não se preocupe. Como contraponto, o frescor está nas costas abertas das jaquetas de couro e nos decotes afunilados das blusas de seda. As silhuetas bambolê, com crinolinas internas, que um dia pesaram a roupa feminina, chegam surpreendentemente leves em vestidos esvoaçantes e transparentes.
Entre os destaques, entra a calça harém que em temporadas passadas já havia dado às caras na passarela da etiqueta e agora domina por completo. Superdesejável, o trunfo da coleção está em seu jeito descomplicado até nos looks mais elaborados.

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação

Altuzarra, verão 2026. Foto: Divulgação
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