Paris Fashion Week: Loewe inverno 2024

Jonathan Anderson adora brincar com a percepção. Por isso, ele mexe em silhuetas, transforma materiais para mudar a sua aparência, enrijece o que era para ser fluído, encurta o que a gente costuma ver alongado… No desfile de inverno 2024 da Loewe, apresentado na sexta-feira (01.03) na semana de moda de Paris, não foi diferente.

Nessa temporada, ele exagera no volume de um item banal, traz uma textura ao tricô de forma que a lã pareça sua versão mais natural, trabalha estampas, inclui elementos inesperados. Isso só pra citar alguns exemplos. Dessa vez, a loucurinha típica de Jonathan Anderson surge principalmente por meio da inspiração que ele usa como referência ao show.

Loewe, inverno 2024. Foto: Getty Images

O estilista irlandês adora olhar para o mundo das artes como um ponto de partida de sua moda. E o escolhido da vez foi Albert York, artista estadunidense que pintava paisagens idílicas e motivos florais. 18 obras de suas obras, datadas de 1963 a 1990, estavam expostas na passarela que funcionava como uma galeria de arte para os convidados presentes, no espaço em que aconteceu a apresentação.

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Dando sequência à referência no trabalho do pintor, Jonathan cria uma espécie de hiperfoco, como se desse um grande zoom em itens típicos de uma casinha bucólica e bem inglesa, como os desenhos dos pratos botânicos da Chelsea Porcelain Manufactory, a primeira fábrica de porcelana da Inglaterra, fundada em 1743; e detalhes dos móveis super esculpidos de Thomas Chippendale.

Loewe, inverno 2024. Foto: Getty Images

Dá para ver tudo isso nas estampas de cachorros e pássaros meio esquisitas, mas inteiras bordadas de contas, inspiradas em York, além das estampas de vegetais como cebolas e rabanetes, vistas nos pratos de porcelana e ainda na lapela do sobretudo, que parece de metal mas é feita de madeira esculpida para lembrar os pés das poltronas do escultor.

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As florzinhas que decoram vestidos fluídos recortados com cintos soltos na frente, balonês, modelos assimétricos, botas e conjuntos de moletom recordam aquelas tapeçarias de casa de vó, mas, aqui, ressignificadas.

Na silhueta, o quadril cresce, seja nas calças-balão, seja nos camisetões enormes. Nas calças de alfaiataria, o fecho é deslocado, assim como a fivela do cinto. E, nos paletós, a cauda clássica do smoking é jogada para as laterais, criando uma nova modelagem para o costume.

Loewe, inverno 2024. Foto: Getty Images

Os acessórios são, como sempre, um show à parte: têm botinhas sem salto, sacolas estampadas e bordadas e até uma bolsa em formato de um punhado de aspargos, feita de pelúcia.

E você pensou mesmo que eu ia usar a palavra idílico e não explicar o que ela significa? Segundo o dicionário, o termo designa algo que resulta de um sonho, de um devaneio, que é longe da realidade, utópico até. E é esse olhar, o mesmo que Albert York emprestava para as paisagens que o cercava, que Jonathan Anderson projeta nas roupas da Loewe.

Elas são um pouco mais do que parecem ser, porque estão envoltas de um filtro próprio, quase mágico, do estilista.