SPFW N60: Dendezeiro
Com jeito marrento e funk no tema, a Dendezeiro mostra evolução técnica e apresenta sua melhor coleção até agora.
Hisan Silva e Pedro Batalha, fundadores e diretores criativos da Dendezeiro, encerraram a trilogia Brasiliano com o desfile da noite do último sábado (18.10). A sequência de apresentações começou com referências ao sertão brasileiro na SPFW N58, passou pela cultura do Norte do país na SPFW N59, e agora avança pelos bailes funk do Sudeste – desde os black dos anos 1970 e 1980, com influência do soul estadunidense, até os que viraram coisas nossas, depois de subirem os morros cariocas.
Dendezeiro, SPFW N60.
Foto: Danilo Grimaldi / Agência Fotosite
Dendezeiro, SPFW N60.
Foto: Danilo Grimaldi / Agência Fotosite


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Os estilistas partem da escorregadia Lei da Vadiagem, de 1941, que permitia às autoridades prender pessoas incapazes de comprovar uma renda ou ocupação. Até ser considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em 1988, a contravensão penal funcionou como um instrumento de controle social, sobretudo de indivíduos pobres, sem trabalho formal, muitas vezes negros e em situação de vulnerabilidade. Era, como define a dupla, um “mecanismo de exclusão que moldou o país”.
A partir daí, Hisan e Pedro pensam em como o que já foi jogado à clandestinidade representa uma cultura de gueto rica, digna de ser celebrada. Nas roupas, isso se traduz em conjuntos monocromáticos de jeans, jaquetas bicolores de ombros largos e macacões industriais usados com boné. Há blusões, coletes de couro preto e bolsas tote com cores retrô, como verde oliva, amarelo mostarda e vermelho cereja. Também aparecem conjuntos de paletós sem lapelas com bermudões, tudo xadrez – uma colaboração com a Dod Alfaiataria – , e casacos de estilo cafetão, com a gola virada para cima, meio James Brown. Já os shorts minúsculos estão mais próximos dos funks carioca de batidão.
Dendezeiro, SPFW N60.
Foto: Danilo Grimaldi / Agência Fotosite
Dendezeiro, SPFW N60.
Foto: Danilo Grimaldi / Agência Fotosite


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O acting dos modelos é parte importante da cena: as meninas têm atitude de patricinha preta e os garotos marrentos ficam entre um gangster e um malandro. A música, tocada ao vivo na passarela em picapes, funcionou como um esquenta para a edição paulistana de uma festa que a Dendezeiro já organizou em Salvador e no Rio de Janeiro. O evento – e o desfile – amarra bem a ideia de que o fervo é um território político e de resistência.
O ponto alto, no entanto, não é apenas a temática esperta e boa de assistir, mas o amadurecimento das propostas levantadas pela etiqueta desde o seu começo em 2018. É perceptível o refinamento na obsessão pelas tonalidades de pele, agora reproduzidas com precisão nos conjuntos de couro que acompanham a cor dos corpos dos modelos. Reaparece o bom diálogo entre alfaiataria e streetwear, com pitadas de sertanejo como um elemento western. A construção com o couro e a atenção às modelagens se destacam. É o grande exemplo do look na estica: elegante e seguro de si.
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