SPFW N60: Normando 

Normando desfila coleção sobre o folclore amazônida de um jeito sombrio e animalesco. 


Normando, SPFW N60.
Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite



Desde que estrearam nas passarelas da São Paulo Fashion Week em outubro de 2024, Marco Normando e Emídio Contente dividem um olhar extraordinário sobre o Brasil com a Normando. Para a coleção apresentada na edição de número 60, a dupla recorre ao folclore amazônida de um jeito sombrio e animalesco.

Normando, SPFW N60.

Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

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De forma resumida, os paraenses Marco e Emídio oferecem um ponto de vista particular e verdadeiro de um universo retratado – quase sempre por estrangeiros – de forma caricata. Eles já falaram dos modernistas do Norte para desmistificar a vanguarda sudestina sobre o movimento. E deram zoom nas palafitas molhadas de comunidades ribeirinhas da região para ampliar o repertório visual sobre suas formas de vida. Agora, eles se debruçam sobre a mitologia amazônica. Ou, em um viés mais pessoal, sobre as histórias que ouviam quando crianças.

São lendas como a do Mapinguari, o monstro de um olho só que vive na floresta. A da Rasga Mortalha, a coruja cujo o som do voo lembra um tecido rasgando e a presença é um presságio da morte. E a da Cobra Grande, ou Boiúna, uma serpente adormecida embaixo da cidade de Belém que, se acordar, leva a capital paraense para o fundo das águas da Baía do Guajará.

Normando, SPFW N60.

Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

Normando, SPFW N60.

Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

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No imaginário infantil dos criativos, a fantasia se misturava à realidade. Afinal, até mesmo a opacidade terrosa do rio Guamá e toda a fauna ao seu redor já é de se admirar e amedrontar, sem a necessidade de mitos. 

Nas roupas, a alfaiataria, que é a base da marca, ganha uma cartela de cores soturnas e intercorrências animalescas. Os blazers formam casulos, como se fossem um exoesqueleto que ampliam as costas e protegem as cabeças. Os vestidos de malva, uma fibra de origem vegetal comum em sacarias de café, formam volumes arredondados, como o de uma criatura de curvas sinuosas.

Normando, SPFW N60.

Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

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Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

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Os botões e bordados de sementes de jarina amazônica, o tal do marfim orgânico, parecem dentes. Uma estampa digital mistura a textura de diferentes bichos em um só desenho. O ovo, enigmaticamente potencial em vida, pontua o colo de um longo plissado e, um chifre de búfalo do Marajó, em outro de crepe de seda. 

O mais interessante é que essa viagem amazônica chega a peças factíveis e que se conectam com a região não só no campo temático. O tingimento com bactérias encontradas em rios da amazônia estampa a figura de um corpo feminino em um vestido branco. Já o recorrente trabalho da dupla com látex agora avança em uma versão combinada ao linho. Diferentemente das peças puramente feitas do material e com aparência de couro das coleções anteriores, as de agora têm a resina aplicada sobre um tecido plano, com resultados de visuais diversos. Alguns lembram uma superfície plastificada, outros um vinil opaco e emborrachado.

Normando, SPFW N60.

Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

Normando, SPFW N60.

Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

Normando, SPFW N60.

Normando, SPFW N60. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

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Além de um desenvolvimento têxtil próprio da Normando, esse blend de látex com linho e algodão reforça uma característica recorrente nos desfiles da dupla: uma sensualidade quase fetichista. Outro elemento que continua presente são as ofertas comerciais mais fáceis, em especial as camisetas estampadas com motivos emblemáticos do tema atual. Trata-se de um baita exemplo de que não é necessário ir muito longe para encontrar as respostas sobre si.

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