Dirk van der Kooij aposta na sustentabilidade no design

Pioneiro no uso de plástico reciclado com impressão 3D, o designer holandês mira na produção totalmente sustentável e no conceito de "móveis para sempre".


design sustentável: estúdio de Dirk van der kooij
O estúdio de Dirk van der Kooij. Foto: Divulgação



Não deixa de ser poético que o lar-oficina do designer holandês Dirk van der Kooij ocupe o espaço de uma antiga fábrica de armas desativada, em meio a uma floresta, nos arredores de Amsterdã. É lá que ele e a namorada, a colorista Phillipa Atkinson, vivem e trabalham, com o gato Aubergine aos pés. Pioneiro no uso do plástico reciclado com impressão 3D, ele se prepara para novos voos, sempre focado em ações que protejam o planeta.

Agora, acaba de comprar o prédio vizinho, três vezes maior que o atual, que será autossuficiente em energia solar (por enquanto, Dirk usa a energia verde de um fornecedor). No novo endereço, dará start à produção de uma linha de cadeiras de alumínio – reciclado, óbvio – em parceria com especialistas holandeses em dobra e soldagem de metal. Nas horas vagas, a maior diversão do designer, de 39 anos, é construir playgrounds para Aubergine. Entre um trabalho e outro, Dirk conversou com a ELLE Decoration Brasil sobre design sustentável e consumo, além de dar dicas para quem vai a Amsterdã.

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Luminária de Dirk van der Kooij. Foto: Divulgação

Por que você escolheu o plástico reaproveitado como a sua matéria-prima?
É um material tão estranho que até hoje ainda me surpreende. Especialmente o reciclado: não há dois lotes que reajam da mesma forma à pressão, ao calor, ao pigmento. No sentido de que cada peça é única, ele se assemelha à madeira. Eu levei muito tempo para desenvolver a sensibilidade para essas diferenças silenciosas. Devo dizer também que a inovação, estranhamente, nem sempre é o nome do jogo aqui, na nossa oficina. Como somos um estúdio totalmente autoprodutivo, muito do que desenvolvemos está vinculado às máquinas que temos, mais do que às formas ou aos materiais. Nós nos esforçamos para fazer uma pequena coleção de objetos com os mais altos padrões. Embora os produtos não mudem na aparência, estamos a todo momento aperfeiçoando o processo de como são feitos. Vou ficar muito empolgado se achar uma forma de encontrar um transformador de energia menor ou um botão mais fácil de pressionar!

Como você cria o padrão de cores nas mesas? As tintas também são sustentáveis?
A cor nunca foi o meu forte. Temos uma colorista em tempo integral, a Phillipa, que faz as mesas Meltingpot e pesquisa novas opções para a coleção de cadeiras. Como cada peça é única, a combinação de matizes é totalmente intuitiva, o que nos leva a ter uma relação viva com a cor. As tintas, à base de óxido, são derretidas direto no plástico, o que faz com que nossas criações sejam coloridas por completo, e não apenas na superfície. Para garantir que possam ser recicladas continuamente, sempre usamos a menor porcentagem possível de pigmentos.

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Cadeiras Chubby, feitas com plástico reciclado do interior de geladeiras. Foto: Divulgação

Em meio aos alertas de catástrofe climática, você acha possível que o design e a sustentabilidade ainda estejam desvinculados?
Não, mas definitivamente não é o padrão da indústria. Quando comecei, usar plástico reciclado foi uma forma de me sentir menos culpado por criar produtos sabendo que, lá no fundo, a melhor coisa que eu poderia fazer em termos de sustentabilidade era não produzir mais nada! Acabamos de comprar um novo espaço, que nos ajudará a concretizar a nossa visão de produção totalmente sustentável. Por exemplo, vamos começar a coletar toda a poeira e o confete que sobram do CNC (corte por comando numérico computadorizado) para reciclar e usá-los novamente. Cada ação é importante e espero que, ao construir sistemas inteligentes e eficientes, possamos provar que a produção sustentável também é um modelo de negócios atraente. Material à parte, porém, acho importante que os designers projetem menos. Eu tenho muito cuidado para não acrescentar muitas peças novas à coleção. Prefiro projetar, dentro da cultura de “móveis para sempre”, peças que não se tornarão rapidamente obsoletas quando comparadas aos lançamentos. Vejo isso como um protesto silencioso contra a cultura do descarte.

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Dirk van der Kooij e sua inseparável gata Aubergine. Foto: Divulgação

Como é o Dirk fora do estúdio?
Olha, por muito tempo não houve Dirk fora do estúdio. (risos) Moro num loft sobre a oficina, então nunca saio do trabalho. No fim de semana, o meu ritual favorito é fazer compras no mercado orgânico de Amsterdã, o Noordermarkt. Nós levamos um carrinho enorme, muito exagerado mesmo, pois tem até pneus (risos), e o enchemos com produtos locais. A maioria vem quase sem embalagem. A comida holandesa não tem muita reputação, mas existem alguns restaurantes bons por aqui, aonde também gosto de ir. Se estiver em Amsterdã, recomendo uma visita ao VRR ou ao Gebr. Hartering. E não perca o sorvete de gergelim com molho de caramelo de soja do De Parel! Quanto ao resto, não sou um grande consumidor. Sou da cartilha do “quem compra bem compra só uma vez”. Em termos de roupas, essa é uma missão mais difícil, pois mesmo as peças mais sofisticadas não duram tanto. Por isso, gosto de me imaginar como um designer de roupas na minha aposentadoria. (risos)

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