O design, por elas
Conhecidas por sua arquitetura autoral e belíssimos projetos de interiores, estas profissionais se apaixonaram pelo universo do design de móveis e, nessa área, também provam seu talento na criação e no desenho apurado de peças.
Elas são profissionais renomadas, cada uma com sua história, seu caminho percorrido. Em comum, evidenciam a conquista de novos horizontes para dar vida a seus sonhos – e desenhos. As quatro mulheres desta reportagem adicionaram às suas obras de design o mesmo espírito da arquitetura que praticam, imprimindo às peças um estilo próprio e um olhar peculiar.
A paulistana Melina Romano estudou na Academia Italiana de Firenze e deu start na carreira com o design de mobiliário. Mas, ao voltar para o Brasil, em 2007, encontrou um mercado muito fechado e decidiu apostar na arquitetura de interiores e desenvolver a marcenaria dos projetos. A vontade de desenhar peças autorais, porém, nunca desapareceu – e ganhou ainda mais força depois da chegada do primeiro filho. “A maternidade deixou mais latente o desejo de me expressar de outra forma”, conta. Há três anos, ela desenvolve móveis tanto para a indústria quanto séries únicas, como as mesas e aparadores da coleção Elos, feita em parceria com a Bravio Studios. “Essa linha escultural evoca o que chamo de design contemporâneo manual, a meio caminho entre o artesanal e o industrial”, explica.
Já a arquiteta e designer de interiores paulistana Roberta Banqueri, que até pouco tempo atrás ainda conciliava os projetos residenciais e corporativos com a criação de móveis, decidiu se concentrar no design – pelos menos por enquanto. “Quando mergulhei no universo da criação e da indústria, me apaixonei, quis me jogar na experiência de poder desenvolver, lançar e posicionar um produto no mercado”, diz. “A minha alma estava pedindo por esse movimento.” Desde 2019, ela assina coleções de mobiliário com linhas arquitetônicas precisas, que incluem sofás e poltronas de formas arredondadas e assimétricas, cadeiras de estrutura tubular inspiradas na estética brutalista e mesas de madeira orgânicas.
Em um momento profissional diferente, a arquiteta e urbanista catarinense Juliana Pippi anda nas nuvens com o lançamento de sua primeira linha de móveis, a Poesia, com visual leve, marcado por treliças e ripas arredondadas de tauari maciço. “É cada vez mais importante trazer a natureza para dentro de casa, e a madeira representa o DNA brasileiro”, afirma. Antes, ela já tinha feito incursões pelo design têxtil, com uma extensa e festejada coleção de tecidos, revestimento cerâmico e objetos decorativos, além de utilitários.
Também com formação voltada para a arquitetura e o urbanismo, a mineira Juliana Lima Vasconcellos trabalhou por muito tempo com obras de médio e grande porte. Mas, ao assinar o desenvolvimento de projetos de interiores para alguns dos empreendimentos, encontrou um atraente caminho a ser explorado. “Me apaixonei pelo mobiliário dentro do contexto dos projetos”, lembra. “Eu gostava de coisas estranhas que eu não via no mercado, nas lojas.”
Desde essa época, Juliana, que tem um forte viés fashion, além do gosto pelo diferente, imaginava móveis específicos para cada ambiente e se jogou nas experimentações. Sua primeira linha de produtos foi lançada em 2015, para uma mostra de décor. “Desenhei tudo, tapete, mesa, estante, luminária, sofá, poltrona”, conta. “Amarrei o visual das peças em uma estética meio futurista, dos anos 1960, o que deu força aos projetos que vieram depois”, revela.
Hoje, Juliana virou uma designer conhecida lá fora também. Sua cadeira Girafa integra o acervo permanente do Museum of Arts and Design, em Nova York, cidade onde também vende suas criações, além de outros pontos no planeta. A boa notícia é que está prestes a abrir um charmoso showroom em São Paulo e parte dos produtos será feita em parceria com a marca mineira América Móveis.
Confira, a seguir, um pouco mais sobre as referências e a visão de design dessas quatro profissionais.
MELINA ROMANO
O design
O mundo não precisa de mais móveis que sejam apenas bonitos, e sim de peças com história e propósito, desenhadas para um lugar em especial.
Referência forte
O essencialismo. Eu parto dos projetos para chegar nos móveis e tudo é pautado pelo que é essencial para o cliente. Invisto em linhas retas e diferentes materiais, muita textura e aproach artesanal, o que gera peças únicas.
O material dita a forma ou a forma dita o material?
Não há uma regra. Depende de como você quer se expressar. Na coleção Elos, a mistura de gesso, resina e materiais orgânicos é o que traz a possibilidade de esculpir cada peça artesanalmente.
Um desejo
Criar produtos com cerâmica, seguindo essa ideia do design contemporâneo manual. Quero aprender e poder aplicar esse material para além do utilitário e quem sabe trazer para o mobiliário. Me interessa a manualidade da cerâmica para criar peças autorais.
ROBERTA BANQUERI
O design
Com a arquitetura e interiores pude apurar meu olhar sobre as dimensões, proporções, composições e, principalmente, a ergonomia. Busco utilidade, conforto e um desenho técnico bem resolvido.
Referência forte
Modernismo, brutalismo e minimalismo. Mulheres como Zaha Hadid, Lina Bo Bardi e Charlotte Perriand, além de Vico Magistretti, Alvar Aalto e Santiago Calatrava.
O material dita a forma ou a forma dita o material?
Em alguns caminhos, a funcionalidade fala mais alto, em outros, o material. Gosto quando a função dá a forma, mas há situações em que a estética, a busca por algo inusitado, está à frente da função.
Um desejo
Me dedicar a produtos como luminárias, metais e objetos em geral. Ver minhas criações nas casas das pessoas me traz um sentimento de realização e gratidão com o universo pela oportunidade de eu me reinventar.
JULIANA LIMA VASCONCELLOS
O design
No início, com os projetos de interiores, pude unir minha facilidade com a matemática, o meu lado racional, com a minha veia artística, o meu lado criativo. Nesse momento comecei a imaginar os móveis, a fazer as primeiras experimentações.
Referência forte
Gosto das formas puras, do art déco e do modernismo brasileiro. As artes visuais têm um peso enorme nas minhas criações assim como a vida cotidiana, as relações humanas e a natureza.
O material dita a forma ou a forma dita o material?
As duas coisas. Às vezes, a matéria-prima faz um resgate da ancestralidade e do emocional, como a madeira e as tramas feitas à mão. Mas, se estou num momento mais reflexivo ou minimalista, me volto para as peças de vidro. Busco a materialidade por meio de sensações.
Um desejo
Nunca fiz objetos. Tenho vontade de criar uma linha de porcelana e vidro para a mesa. São peças muito presentes no dia a dia das pessoas, e eu acredito que as refeições à mesa são como o coração da casa, onde nos encontramos, conversamos e demonstramos afeto.
JULIANA PIPPI
O design
A arquitetura me trouxe uma sensibilidade para imaginar criações diferentes daquelas que eu encontrava no mercado – meu design é afetivo, as peças desenvolvem uma relação com a casa e as pessoas.
Referência forte
Vivências em todos os ramos das artes, como design, moda e cultura. Para mim todas as artes são inspiradoras.
O material dita a forma ou a forma dita o material?
Gosto de trabalhar com a verdade dos materiais. Eles falam por si sós. Me identifico muito com a madeira, a palha e o feito à mão. Para mim, a tecnologia serve para valorizar essa habilidade quase natural que temos, diferentemente de tantos outros países.
Um desejo
Alguns sonhos eu já estou realizando com o lançamento da linha para quartos desenhada por mim, com peças que remetem às minhas memórias de infância. Mas ainda quero criar algo que possibilite unir arquitetura, arte e moda, como um biombo. Seria desafiador.
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