Zanini de Zanine explora a tridimensionalidade nas telas
O designer Zanini de Zanine, que este ano comemora uma trajetória de duas décadas, dá mostras de seu múltiplo talento ao se encontrar também na pintura.
Consagrado aqui e lá fora pelo mobiliário e pelas esculturas de madeira maciça de traços fortes, o carioca Zanini de Zanine anda desbravando novos territórios. Recentemente, descobriu o gosto pela pintura por meio de tintas e texturas sobre telas, nas quais, como no design, figura apenas o traço essencial.
“O desejo de me expressar em outra linguagem, com novas palavras, expressões e poesias, se instalou em mim como um prazer vital”, diz dos quadros minimalistas, marcados por veios, caminhos e formas abstratas em alto-relevo sobre fundos monocromáticos.
Ao se observar a trajetória de Zanini de Zanine, era de esperar que sua expressividade nas superfícies planas extrapolasse a bidimensionalidade. “O tridimensional já pertence ao meu ofício e se provou muito presente no campo da pintura”, reflete. “As formas saltam da tela e evidenciam as oscilações de sombras, intensas ou leves.”
Ele incorporou à sua técnica a ligação indissolúvel entre as suas esculturas e a pintura que vem desenvolvendo. O novo momento tem trazido surpresas. “Redescobri pinturas e desenhos abstratos feitos por mim na infância e até encontrei o nome do meu pai na lista de aprovados da turma de pintura da Escola de Belas-Artes de São Paulo, que provavelmente ele não cursou”, conta Zanini sobre o arquiteto, escultor e designer autodidata José Zanine Caldas.
A seguir, ele fala sobre sua trajetória de 20 anos e os novos caminhos que está trilhando.
Obra de Zanini de Zanine exposta no ambiente do arquiteto Nildo José, na Casacor. Foto: Denilson Machado
Como surgiu a pintura no seu caminho?
Em 2017, comecei a registrar no papel as sombras e luzes das minhas esculturas de madeira. (O designer se refere às peças do Atelier Zanini de Zanine.) Em seguida, percebi que tonalidades e relevos foram se soltando dos desenhos, em um exercício de liberdade, uma verdadeira fuga mental, como um desprendimento do que até então eu vinha fazendo. Foi nesse momento que a necessidade de me expressar por meio da pintura emergiu.
Aonde você quer chegar?
No futuro, quero que a pintura tome cada vez mais tempo da minha rotina. Por enquanto, os quadros que venho criando estão sendo registrados e, em breve, farão parte do livro dos meus 20 anos de carreira, que será lançado no segundo semestre deste ano.
Quais são as suas principais referências e fontes de inspiração?
Elas vêm desde as texturas das casas de taipa, que conheci em minhas viagens na infância, passando por registros de ateliês de artistas como Sergio Camargo, Burle Marx, Tunga, Rubens Gerchman, Amelia Toledo e Carlos Vergara, entre outros amigos de meus pais, até chegar à fotografia e ao cinema, um campo que complementa de forma única minha apuração do olhar.
A paleta monocromática tem uma razão especial?
Sim. Foi uma escolha para que eu conseguisse dar ênfase à sombra e ao relevo encontrados na superfície das telas. É uma fase, uma procura pelo neutro, que evidencia o destaque nos detalhes.
Como a mudança para Belo Horizonte impactou seu trabalho?
Desde o começo da pandemia, tenho ficado muito mais tempo em Minas Gerais, um lugar que reserva grandes surpresas, inclusive culturais. Essa passagem tem sido muito importante para eu desenvolver um “olhar de fora” sobre o Rio, minha cidade natal, justamente para contrapor o meu olhar de carioca sobre o mundo.
Que balanço você faz de sua trajetória de 20 anos?
Minha vocação é muito mais a de um pesquisador do que a de um designer ou desenhista industrial, a minha formação. Não só pela busca de materiais, cores, texturas e linguagens, mas também pelo lado antropológico, de querer entender e pesquisar comportamentos e culturas. Percebo esse caráter de pesquisa amadurecido, em que eu me permito buscar diferentes formas e expressões, entre elas os registros mais pessoais.
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