Se você já foi ao dermatologista ou buscou na internet indicações de cosméticos para uma rotina de skincare básica, as chances de ter recebido a recomendação do uso de vitamina C é grande. O ativo, que tem o nome científico de ácido ascórbico, é uma molécula hidrossolúvel que foi descoberta nos anos 1930 pelo fisiologista húngaro Albert Szent-Györgyi. Mas a sua chegada às fórmulas de cosméticos só aconteceu em 1994, quando Sheldon Pinnell, fundador da SkinCeuticals, descobriu seus benefícios para a pele. O lançamento dos primeiros séruns contendo o ativo aconteceu três anos depois.
Desde então, a vitamina C se tornou um hit do mercado e está disponível em diferentes formatos, concentrações e combinadas a uma variedade de outros ingredientes poderosos. A razão desse sucesso se deve, principalmente, à sua função antioxidante, que combate os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento precoce. “Além disso, ela melhora a viscoelasticidade, estimula a produção de colágeno e inibe a formação das manchas, mantendo a uniformização e a luminosidade da pele”, explica a dermatologista Claudia Marçal.
Mas e a instabilidade?
Nem tudo é vitória na história da vitamina C. “Sua utilização em formulações cosméticas apresenta desafios técnicos devido à sua instabilidade quando exposta a diferentes condições de luz, ar e temperatura. Isso faz com que ela oxide, levando à perda da eficácia do produto”, comenta a farmacêutica Maria Eugênia Ayres. É por isso que, depois de abertos, a maioria dos cosméticos contendo a substância costuma estragar mais rápido do que outros.
De acordo com Maria Eugênia, essa oscilação depende do tipo de formulação. Os que contêm ácido ascórbico, a forma mais pura do ativo, por exemplo, costumam ser mais instáveis. “Os derivados de vitamina C, por outro lado, são moléculas alteradas que ficam protegidas da oxidação enquanto estão no frasco e são ativadas quando entram em contato com a pele”, adiciona. Segundo a dermatologista Ana Maria Pellegrini, apesar disso, muitos médicos ainda indicam as composições puras por elas serem mais potentes. “A escolha depende das necessidades individuais e preferências de cada paciente.”
Efeito colateral
Outro problema envolvendo o ácido ascórbico é que existem muitos relatos de reações adversas após o uso do ativo. “Em peles com hipersensibilidade, ele pode causar irritação, vermelhidão, coceira, descamação, sensação de queimação e sensibilidade aumentada”, alerta Claudia.
De acordo com a dermatologista, esses sintomas também podem aparecer quando ele é utilizado com ácidos, como os glicólico, salicílico, azelaico e retinoico, já que estes alteram a barreira protetora da pele, que responde de maneira reativa. “Outros fatores que podem levar a essas reações são o clima frio e os banhos muito quentes, que deixam o rosto sensibilizado, além da falta do uso de protetor solar”, completa.
Por isso, a indicação de dermatologistas é que a integração da vitamina C à rotina de skincare seja gradual, começando com fórmulas com baixa porcentagem do ativo (como as de 5%) e aplicando apenas em uma parte do rosto, até se certificar de que a pele responderá bem. “Caso contrário, existem outras alternativas de antioxidantes muito eficazes, como a vitamina E, o ácido ferúlico e o resveratrol”, indica Ana Maria.
O veredicto vem da ciência
Com todas essas dificuldades envolvendo a formulação e o uso da vitamina C, somadas ao fato de que já temos outras opções de antioxidantes poderosos no mercado, era esperado que o ativo caísse em desuso. No entanto, isso não aconteceu. Por que não? “Ela já foi muito pesquisada e existem incontáveis estudos científicos que comprovam sua eficácia e segurança. Apesar de existirem, as reações adversas não são tão comuns quanto se acredita”, comenta Claudia. Nesse caso, os benefícios que ela traz para a pele falam mais alto.
Ainda de acordo com a dermatologista, a vitamina C também ganha no quesito versatilidade. “Ela pode estar em diferentes tipos de cosméticos (do sérum ao creme), fazer parte da rotina diurna ou noturna de cuidados com a pele e ainda tem uma boa sinergia com uma série de outros ativos”, defende.
No fim das contas, não existem heróis ou vilões quando falamos sobre o uso da vitamina C. Como tudo no universo do skincare, o ideal é que as indicações de ativos e cosméticos sejam realizadas por um dermatologista após uma avaliação completa da pele e das suas necessidades e restrições.