Como é fazer um cruzeiro de luxo pelo Mediterrâneo?
A ELLE Brasil esteve a bordo do Explora I, luxuoso navio da Explora Journeys, e conta como foi esse cruzeiro pela costa da Grécia, da Croácia e da Itália.
“Você está começando muito bem”, disseram-me diferentes jornalistas que me acompanharam nesta viagem a bordo do Explora I, quando revelei que esta era a primeira vez que eu fazia um cruzeiro. Experts no assunto, continuavam: “Não se acostume, nem sempre é assim”. Meus amigos, quando souberam da notícia, imediatamente alertavam: “Não esquece de levar um Vonau (remédio para a náusea)!”, “Toma antes de entrar no navio. Nem espere passar mal, porque vai passar”…
De fato, o Explora I não é um cruzeiro qualquer. Trata-se de um navio tão soberbo que, quando ele começou a navegar, eu sequer percebi: tive que olhar pela janela e ver a paisagem se movendo para entender que isso estava acontecendo. Levei o meu Vonau para passear pelo Mediterrâneo e nunca recorri a ele durante a viagem. “É como se o Explora I fosse a Ferrari dos navios, compreende?”, comparou o capitão italiano Pietro Sinisi, quando conversamos. “Compreendo”, pensei, dado que, no decorrer dos nossos oito dias navegando, posso contar nos dedos de uma mão as vezes que senti um balanço mais avantajado.
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Mas é claro que o Explora I não se destaca somente de um ponto de vista técnico. “É um barco pequeno”, repetia o PR suíço Nico Mauron da Explora Journeys, enquanto nos levava para conhecer provavelmente o quarto ou quinto restaurante do navio. “É um barco pequeno”, dizia de novo depois de mostrar a quarta piscina, o terceiro bar, a segunda academia…
No quarto deck – são 12 ao todo – algumas lojas ajudam a entender o luxo do navio. Enfileiram-se à esquerda da escadaria uma Piaget, uma Cartier, uma Rolex e uma Panerai. Do outro lado, a Journeys é uma multimarcas de moda, beleza e bebidas com uma curadoria muito surpreendente de marcas originárias de diferentes regiões do planeta. Na perfumaria e no skincare (meus territórios prediletos), por exemplo, frascos da argentina Fueguia 1833 dividem espaço com cremes da italiana Luce di Sorrento.
Agora, quando o assunto é comida, fica nítido o empenho do navio em te conquistar. O restaurante Fil Rouge é um francês contemporâneo (o Pâté en Croûte da entrada é um must!) que abre para o jantar e também para o café da manhã. “São famosos os ovos beneditinos com caviar”, sugere Nico. Já o Med Yacht Club – como o nome faz imaginar – tem cardápio mediterrâneo. De tudo o que provei, destacou-se o delicadíssimo carpaccio e o tortelone de ricota com manteiga de sálvia. O Sakura é um asiático-fusion sofisticado: o Dim Sum, o pato com melancia e a profusão de sushis e sashimis merecem aplausos. Além deles, ainda tem o Marble & Co., especializado em carnes; e o Anthology, restaurante tipo fine dining com pegada italiana contemporânea. Este último, o único não incluído no pacote do cruzeiro.
Mas, para além dessas opções no formato mais tradicional de restaurante, há também o Emporium Marketplace: um espaço com ilhas que servem desde pizzas e sanduíches até tortas e frutas, passando por assados de carne, cozidos indianos, crus japoneses, queijos franceses, massas italianas – uma verdadeira volta ao mundo gastronômica. Foi lá que eu cometi escabrosidades indulgentes, como uma refeição que teve como entrada uma fatia de marguerita, seguiu para uma bouillabaisse (clássico ensopado de peixe francês) como prato principal, depois enganchou em uma spanakopita (folhado grego recheado de espinafre e queijo feta) e desembocou em uma torta-mousse de chocolate. Nada faz sentido, mas tem coisa melhor do que uma baguncinha assim?
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Tudo sempre acompanhado pela carta de vinhos incluída no cruzeiro. Dentro dela, por sinal, um destaque absoluto – o campeão de todas as rodadas, o vinho mais querido pelo nosso grupo: o rosé francês, quase translúcido de tão claro, La Vieille Ferme. Falando em bebida: fiquei viciado no Cosmopolitan (o mais equilibrado que já experimentei), adorei o Lemon Drop Martini (uma versão do clássico com direito a Limoncello e borda de sal, 100% energia de verão em alto-mar) e me surpreendi com o Between the Sheets (um drink com rum branco, conhaque, Triple Sec e suco de limão).
E depois dessas tacinhas, vamos descansar? O Explora I tem 461 cabines. Logo que eu entrei na minha, fiz um vídeo e mandei para meus amigos mais experientes em cruzeiros. A seguir, as reações: “Nossa, parece um hotel!”, “nunca fiquei em uma cabine tão espaçosa!”, “gente, essa sacada para o mar é um sonho”… Pensei o mesmo. Ainda mais quando vi que o secador de cabelo que eles disponibilizam para os hóspedes é nada menos do que um Dyson – o modelo mais desejado (e oneroso) do momento.
Pouco depois descobri que a minha cabine – ainda que perfeita para mim –, na verdade, era a mais modesta do navio. São 11 tipos de acomodação, ao todo, divididas em quatro categorias: Ocean Suites, Ocean Penthouses, Ocean Residences e Owner’s Residence. A última – para se ter uma noção da escalada do luxo – tem uma piscina com borda infinita na própria sacada. Isso sem contar na sala de jantar, no banheiro gigante com banheira… Dá para passar a vida lá – olhando para o mar.
Por fim, não posso deixar de falar do roteiro: tão elegante quanto o próprio navio. Esqueça o fervo do verão europeu de ilhas gregas tradicionais como Mykonos e Santorini. Patmos – nossa primeira parada – é absolutamente pacata, pacífica, quase silenciosa. Não à toa, foi lá que João (o apóstolo) escreveu o livro do Apocalipse. A caverna em que a revelação aconteceu é aberta à visitação, assim como o monastério, ainda mais no topo da ilha banhada pelo azul profundo do mar Egeu, em contraste com as construções locais – quase todas em branco com bege. Ainda na Grécia, depois de um dia de navegação, atracamos em Corfu e embarcamos em um passeio organizado pelo próprio Explora I pelas formações rochosas de Paleokastritsa, um vilarejo no noroeste da ilha. Nunca vi um mar de água tão transparente.
Um cenário parecido se repetiu quando paramos em Otranto, na Itália, e visitamos algumas de suas baías. Desta vez, contudo, ao invés de chegarmos às cavernas de barco, pulamos dele e fomos nadando. Depois, passeamos pela cidade da Puglia que, sim, é italiana, mas tem um quê turco, devido a invasão do Império Bizantino na Antiguidade Tardia, que dá a ela um charme diferente.
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Na sequência, navegamos até Zadar, na Croácia. Ali, conheci (e me emocionei profundamente) com o Órgão do Mar – obra arquitetônica fascinante assinada pelo arquiteto Nikola Bašić. Inaugurado em 2005, os degraus de mármore que descem até o mar “cantam” conforme as ondas batem neles. Isso acontece porque há um sistema de tubulações similar ao de um órgão que – com a passagem do ar – emite diferentes notas, ora separada, ora simultaneamente, criando harmonias dissonantes. Depois da Segunda Guerra Mundial, a orla de Zadar estava destruída. Para se reconstruir, o primeiro projeto simplesmente levantou um muro entre a cidade e o mar – de modo que a sua população ficou isolada das águas que a entornam. A ideia do Órgão do Mar é a de recuperar a orla para a população da cidade. No pôr-do-sol, os degraus ficam cheios de gente e a música se mistura às risadas e às conversas. Impossível não se emocionar.
A última parada é Veneza, cidade de beleza maximalista, de romance incontornável, cinematográfica. Desfecho explosivo para um roteiro, até aqui, tão discreto. Em um passeio associado ao Explora I, visitamos as ilhotas de Murano – onde conhecemos uma das principais fábricas do histórico vidro local, a Ferro & Lazzarini – e Burano. Eu, que sou fã ávido do reality show de competição Vidrados, da Netflix, me esbaldei: saí de lá até com uma pulseirinha que, não resisti, tive de comprar. Fica, portanto, nesse colorido das miçangas de vidro veneziano dessa pulseira, um eterno lembrete das minhas primeiras (e muito luxuosas) aventuras em alto-mar. Que venham as próximas!
Pedro Camargo viajou no Explora I a convite da Explora Journeys
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