Novos garimpos online conquistam apaixonados por decoração
Vidros em formato de animais, cadeiras com pé palito, tapeçaria, peças únicas: o novo boom de antiquários no Instagram tem curadoria especial, boas fotos e atendimento agilizado. Confira 11 perfis repletos de achados cheios de estilo e história.
Garimpo, antiquário, curadoria, vintage. Se essas palavras não entraram no seu vocabulário em 2020, pode apostar que é uma questão de tempo. Em 2021, elas pipocaram nas redes – principalmente no Instagram –, mostrando que um certo tipo de negócio veio para ficar: a revenda de móveis, objetos para a casa, peças decorativas, tapetes e artigos de colecionador. Você pode estar se perguntando: “Ué, mas isso já não existia?” Sim, é verdade. Mas há algo novo no comércio de usados. Uma outra geração de garimpeiros, com um baita olhar apurado, está cativando uma clientela que não é fã de móveis antigos apenas por seu status de design. Diferentemente de muitos garimpos já estabelecidos, com peças assinadas, os antiquários que surgiram principalmente durante a pandemia têm seu próprio estilo. Alguns, com uma identidade bem millennial, como a Velharia – pense em fundos-infinitos rosados com peças em formatos de animais. Já outros, como a Archivo, são especializados em itens de madeira e armários de metal, que seguem para a casa do comprador com suas marcas do tempo intactas. Muitos desses acervos, aliás, não se encontram em grandes galpões, mas sim na sala de estar dos garimpeiros que começaram a compartilhar seus achados e fazer disso uma forma de renda, depois de março de 2020.
Com o isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus, os olhos – e as lentes – se voltaram para o interior de nossas casas. Mas os garimpeiros e curadores consultados nesta reportagem não citaram esse como o único motivo para explicar o crescimento de seus negócios. O fato das peças terem história, ao contrário dos itens produzidos em massa e muitas vezes descartáveis, é também um dos pontos favoráveis para o mercado vintage decolar neste momento. “Essa afetividade transforma nossa casa. Pode não ser a solução para o consumo, mas trata-se de uma existência menos agressiva”, descrevem Derek Mangabeira e Rodrigo Beser, casal que dirige a Archivo.
Um outro diferencial desses garimpeiros dos novos tempos é a facilidade com que eles conseguem compartilhar a essência de suas peças nas redes. É o caso da Bartho Brasil, comandada pela arquiteta Andréia Farias, que cria ambientações artísticas para seus achados. Inserir todos os detalhes sobre os itens, como medidas e o estado da peça, também garante a confiança dos compradores. Atendimento por mensagem no Instagram, contato rápido por WhatsApp ou um site bem organizado para a venda também torna tudo mais atraente, como comprova a Verniz, loja já conhecida no ramo, mas que cresce por seu olhar apurado, boas fotos e facilidade de compra. Nesse meio surgiram até as atualizações de feed ou stories com hora e data marcada: é uma forma da fiel clientela saber quando chegarão novos produtos, que muitas vezes serão “disputados” através dos comentários.
As peças vêm das mais diversas fontes: de buscas intensas em sites e leilões nacionais e internacionais, de famílias-vendem-tudo, bazares de igrejas, grandes antiquários e até de ferros-velhos, caçambas ou da própria calçada. “Muitas vezes, as pessoas não têm conhecimento da qualidade das coisas antigas”, conta Anna Lara, da Casebre Store. Objetos, móveis e até eletrodomésticos atravessaram o tempo e hoje, mesmo depois de 50 ou 60 anos, ainda funcionam ou resistiram sem serem danificados.
Para quem trabalha com esse mercado, o garimpo é mais do que conseguir a melhor pechincha para revender pelo preço mais alto que alguém consideraria pagar por tal objeto. É mais sobre trabalhar os afetos: todos os garimpeiros e curadores acreditam que cada peça é perfeita para alguém, mesmo que demore um pouco para que elas encontrem o dono ideal e sejam vendidas – o que, na verdade, não tem sido o caso ultimamente.
Conheça a seguir 11 antiquários, garimpos e lojas que fazem o clique valer a pena:
Archivo
Foto: @archivo.co
“Quando saímos para garimpar, vamos com o olhar aberto para receber qualquer tipo de objeto, mas sempre passando pelo filtro daquilo que conversa de alguma forma com a Archivo. E, nesse sentido, valem todos os lugares: feiras, galpões, ferro-velho, caçambas, vendas de garagem”, contam Derek Mangabeira e Rodrigo Beser. Durante a pandemia e repensando o futuro profissional, o casal composto por um fotógrafo e um diretor de arte, desengavetou a ideia de compartilhar a paixão pelo garimpo. Surgiu, então, a Archivo, que apresenta peças com um estilo rústico, mas ainda assim muito harmônico.
Caixas decoradas, armários de metal, banquinhos de madeira e luminárias são as grandes pedidas na Archivo, que oferece ainda móveis de maior porte, como armários espelhados. Mas o maior sucesso são placas antigas, como as peças de acrílico antiga da loja de roupas masculinas Sua Majestade, que já se esgotaram e até hoje são procuradas pela clientela. O motivo para garimparem? Sempre o afeto, afirmam: “Essa afetividade transforma nossa casa. Pode não ser a solução para o consumo, mas trata-se de uma existência menos agressiva. É essa aura que estimula a curiosidade e que separa esses objetos de todos os demais e os torna únicos.”
Bartho Brazil
Foto: @bartho_brazil
“Não gosto da arquitetura nova. Porque a arquitetura nova não faz casas velhas”, escreve Mario Quintana no poema “Arquitetura Funcional”. A frase virou referência para os garimpos com afeto da Bartho Brazil, também nascida nos tempos de pandemia e criada pela arquiteta e diretora de arte Andréia Farias. O perfil já existia no Instagram como algo mais pessoal, mas mudou com a quarentena. “Depois de quatro meses em casa, saí a vender várias peças que tinha estocado”, conta Andréia. “No meu caso, eu não faço restaurações. Gosto de ver as marcas do tempo gravadas nos objetos. Tenho uma mesa antiga com uma cavidade em um dos lados. Sempre fico imaginando o que teria acontecido”, conta.
A profissão ajudou Andréia a construir um novo olhar para tirar a poeira da forma como vemos itens vintage. Com produção artística caprichada, as imagens dão contexto para os clientes imaginarem as peças sendo usadas em suas casas, como parte do dia-a-dia. Um dos sucessos mais recentes são as taças coupé: com menos saída para bares e restaurantes durante a pandemia, foi quase natural que a busca por esses utensílios bonitos e com preço mais acessível crescesse. As atualizações e vendas acontecem todos os sábados pela manhã nos stories do Instagram da Bartho.
Brecha.Casa
Foto: @brecha.casa
Quem já passou uma tarde garimpando em brechós e antiquários pela cidade conhece a sensação de felicidade ao encontrar uma boa peça. Foi esse sentimento que conquistou os amigos Ana Clara Watanabe e Tiago Zani, que transformaram sua paixão no Brecha.Casa, antiquário que recebe peças de estilo elegante. O projeto estreou em janeiro deste ano e já está no radar de quem é apaixonado por decoração. As peças são clássicas, com linhas atraentes, fruto de um garimpo feito sem pressa. “Uma das melhores partes da curadoria é ir buscar o produto na casa do vendedor. Sempre acabamos sentando, conversando e conhecendo mais sobre o que tem por trás daquela peça – tanto que as primeiras cadeiras que disponibilizamos levavam o nome dos antigos donos”, conta a dupla.
Além da venda, eles disponibilizam parte do acervo para aluguel: “Nosso objetivo também é colaborar com composição de cenários em produções de arte ou até mesmo facilitar para que as pessoas mudem a casa ou resolvam alguma necessidade específica e momentânea”, explicam. Então, se aquela vontade de mudar a casa temporariamente surgir ou se você precisar de uma peça para compor um vídeo ou foto, considere o Brecha. “Estamos em constante mudança e acabamos transmitindo isso para o ambiente que habitamos. Para não diminuir o ciclo de vida útil de um produto, o garimpo e o aluguel fazem com que a peça continue vivenciando histórias por muito mais tempo”, finaliza a dupla.
A CasaCaju
Foto: @a.casacaju
Em agosto de 2020 as amigas Camilla e Júlia – que se conheceram pela internet – perceberam, também através dos algoritmos, que os amigos estavam cada vez mais interessados e curiosos sobre os achados de suas casas, ambas decoradas com peças de segunda mão. Decidiram, então, fazer um teste que decidiria se teriam um garimpo: tentariam vender 12 peças. “Tudo se esgotou em menos de 20 minutos. Desde então, não paramos de trabalhar”, conta Camilla. Surgiu assim a Caju: que além de uma junção do nome da dupla, resgata brasilidade: “Amamos a cultura brasileira, e trazer um nome tão popular e tão conhecido é um ato de autoafirmação e resistência”, contam.
O amor pelos achados para casa muitas vezes é precedido pelo garimpo de roupas. E esse foi o caso das amigas, cujos armários são praticamente todos compostos por peças de brechó. Para elas, o crescente questionamento sobre a produção e consumo das roupas agora se volta para o interior das casas. “A lógica é a mesma: queremos uma matéria-prima mais durável (tanto que alguns dos objetos têm mais de 50 anos), preços melhores, saber das condições de trabalho de quem fez a peça e produção zero de lixo”, compartilha Júlia. “É com bastante verdade que dizemos: tudo que precisamos já existe. A Casa Caju quer tornar possível o encontro desses objetos e, com isso, provocar menos surpresa ao dizer que temos casas inteiras feitas com objetos de segunda mão”, finaliza a dupla.
Casebre Store
Foto: @casebre.store
Bonecas de porcelana, laços, rendas e tecidos: entrar no Instagram da Casebre Store é como entrar em um mundo paralelo. Esse universo de contos-de-fada surgiu de uma conversa entre mãe e filha sobre a vontade de ter um casebre em meio à natureza. “Em dias tão caóticos, quem não deseja uma casinha no meio do nada, não é mesmo?”, contam Laureani, mãe, e Anna Lara, filha. Durante a pandemia, elas começaram a compartilhar esse universo de uma forma particular: focando no colecionismo.
“Os amantes do vintage também são colecionadores de objetos bem peculiares de épocas passadas: moedas, telefones, livros, caixinhas de música, espelhos”, descrevem. As peças vêm de feiras de antiguidades e garimpos pela cidade e até do ferro-velho. Na casa dos clientes, os garimpos viram objetos de decoração e, em alguns casos, voltam a ser usados depois de anos parados. “Isso é o que fazemos: colocamos a magia de volta nos objetos”, finaliza a dupla.
Jardin Velharia
Foto: @jardinvelharia
O Jardin Velharia existe hoje onde funcionava anteriormente o Jardin do Centro, uma cafeteria e loja de plantas que surgiu em 2015, na Vila Buarque, com comando do casal Ina Amorozo e Jean Manuel da Silva. Com a pandemia, os 300 clientes diários que passavam por lá minguaram. “A gente já tinha planos de um dia abrir uma loja de móveis antigos, mas a conjuntura toda fez com que tivéssemos que colocar essa ideia em prática no susto”, conta Ina. Vender os móveis e decorações das cafeterias desativadas foi o primeiro teste para ver se a ideia daria certo. Hoje, além de atenderem por WhatsApp e alimentarem o Instagram (com mais de 60 mil seguidores), também criaram um site que ajuda a catalogar as peças.
Por lá, é possível encontrar uma grande variedade de móveis e objetos – tanto itens que parecem ter saído da casa de avós quanto peças de design. O foco, no geral, é nas décadas de 1950 a 1980. “Como temos uma curadoria bem versátil, garimpamos em tudo quanto é canto. Mas nós, lojistas, garimpamos também entre nós”, conta. “Como cada um tem seu próprio nicho de garimpo e perfil de loja, é bem comum a gente estar garimpando por aí e se deparar com uma peça que não é tão interessante para a gente mas que será um achado para um parceiro lojista. E vice-versa!”, explica. Depois do período de fechamento de serviços na capital de São Paulo por causa da pandemia, a loja na Santa Cecília voltará a receber clientes com todos os cuidados.
Laranja Vintage
Foto: @laranjavintagebrazil
Leandro, criador do Laranja Vintage, tem uma expertise praticamente inigualável no universo do garimpo: ele trabalhou durante nove anos no Bazar Samburá, na Vila Mariana, em São Paulo, um espaço de aproximadamente 2.500 m2, queridinho dos garimpeiros por seus preços baixos, e que destina a renda obtida com a venda das peças à AACD. Depois desses anos de “escola”, mais a faculdade de design de produto e um tempo trabalhando com restauração de móveis, seu olhar ficou treinado para descobrir relíquias com preços justos. Em 2019, pouco antes da pandemia, resolveu tentar consolidar o caminho que vinha traçando e criou um perfil no Instagram para compartilhar seus achados.
No Laranja, os garimpos são de todas as épocas e de todos os estilos. O que Leandro preza é por peças que tenham a possibilidade de transformarem a casa do morador. “Nesses tempos de pandemia, não apenas passamos mais tempo em casa, como tivemos mais tempo para olhar com carinho para o lar. Esse é o espírito do Laranja Vintage”, comenta.
Obazar
Foto: @obazar.sp.sp
A Obazar surgiu há um ano e meio, um pouco antes da pandemia, como um jeito das amigas Ana Lara Gomes e Bia Betarello venderem seus garimpos pessoais. “As pessoas estão querendo coisas que não sejam descartáveis e que não venham de uma indústria exploradora. Nós temos nossos restauradores e não costumamos discutir com eles os valores pedidos. Isso muda a forma com que nos relacionamos com as peças, e de algum modo é sentido por quem compra”, fala a dupla sobre a responsabilidade no negócio.
Com muitos garimpos vindos de fora do Brasil, a Obazar tem uma linha bem focada nos anos 1960 e 1970, “quando surgiu uma ideia da era atômica, onde tudo transpirava modernidade”, contam. Também são experts na curadoria das colchas suzani, bordadas a mão e que vêm do Uzbequistão. “O que não achamos, fazemos, como os pratos com decalque, que são nossos favoritos. Nosso foco é, na verdade, o que gostaríamos de ter em nossas casas. O que nos serve e nos diverte”, apontam.
Tapilogie
Foto: @tapilogie
Em agosto de 2020, o apartamento de Mariana Wakim começou a se amontoar de tapetes únicos: nascia a Tapilogie, garimpo focado nos têxteis, que surgiu também nos tempos de pandemia. O nascimento do empreendimento foi fruto do próprio interesse de Mariana, que buscava itens para sua casa. “Esse tempo nos fez mudar a nossa relação com o lar. Nosso desejo de torná-lo tanto funcional quanto aconchegante aumentou muito. Os tapetes são uma peça-chave para trazer personalidade de forma descomplicada, sem reformas, furos nas paredes ou tinta. Basta estender um tapete para trazer ares novos ao espaço”, conta Mariana.
As relíquias encontradas por ela podem vir de países que têm tradição na confecção, como Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão e Índia. Mas, recentemente, peças incríveis também vieram de Minas Gerais, Romênia e França. “A origem importa menos do que o trabalho manual e a história por trás. Meu garimpo é muito movido à intuição”, descreve. Hoje em dia, ela recebe mensagens de pessoas que gostariam de vender suas peças, repletas de afeto, que às vezes estão há décadas na mesma casa ou na mesma família. “Vintage, para mim, é aceitar as peças e valorizar suas marcas e imperfeições como parte integrante de sua história. Meus tapetes favoritos são aqueles que chamo de “perfeitamente desgastados”, com restauros e variações de cor. O antigo, para uns, é novidade para outros, e a melhor opção de consumo é fazer circular o que já está no mundo”, prega. As atualizações acontecem sempre às quintas-feiras, às 11h, com um pré-lançamento com fotos, medidas e valores às quartas.
Velharia
Foto: @velharia__
Assim que começou o isolamento social e a pandemia se intensificaram no Brasil, em março de 2020, Ana Clara viu seu salário cair pela metade. Usou o momento para testar uma ideia que sempre teve em mente: vender garimpos para casa e criar sua própria empresa. Arrematou um conjunto de pratos e uma bandeja, ofereceu nas redes sociais e, então, a Velharia, sua empresa de antiguidades, foi tomando forma. Hoje mais focada em porcelanas e com um nicho do público millennial, ela faz sucesso no Instagram com peças descoladas e ousadas em um fundo rosado: pense em cumbucas de vidro com o formato de animais e frutas ou em copos de cristal cor-de-rosa (estes viraram até alvo de disputa nas redes).
“As fotos são importantes, pois devem ser bonitas, mas precisam também mostrar a verdade, que muitas vezes envolve desgastes e sinais do tempo”, comenta Ana. E por que garimpar? “Hoje em dia tudo está a um clique. Você encontra a mesma peça sendo vendida em três lojas diferentes por todo o tipo de preço. Tudo isso faz parte de um sistema de consumo insustentável, que gera muito lixo e insatisfação. Num antiquário, a peça é única, mesmo que existam outras parecidas, e sua relação com ela e com a sua história também será única. Pode ser um ato pequeno comparado ao capitalismo como um todo, mas é um jeito singelo de ir contra esse movimento e apoiar pequenos negócios”, finaliza ela. Fique de olho: as atualizações do garimpo chegam todos os dias no feed, de segunda à sexta, às 20h.
Verniz
Foto: @vernizsp
Paulo Bega, Fábio Matheiski e Luciano Tartalia são três amigos e ex-modelos de passarela que viraram sócios e idealizadores da Verniz. A loja de peças antigas surgiu em 2014, parte de uma primeira leva de garimpos que se estabeleceu na cidade, e continua sempre no radar dos apaixonados por peças atemporais. “De lá para cá, a demanda com certeza aumentou muito, principalmente nos últimos meses, depois do começo da pandemia”, conta Paulo. Com um olhar mais voltado para peças que tenham um status de arte, alguns móveis e objetos da Verniz têm assinatura de grandes nomes, mas nem sempre é assim. “Gosto de resgatar móveis anônimos, que contem histórias e tenham cicatrizes do tempo”, declara Luciano.
Com boas fotos, peças com boas histórias, uma oficina própria de restauro e olhar aberto para todo o tipo de móveis, a Verniz é hoje uma inspiração e modelo para diversos novos negócios no ramo. Agora, atendem também por mensagem no Instagram e WhatsApp. A loja no Jardins só voltará a receber visitantes após a retirada das restrições de circulação da cidade de São Paulo.
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