Os melhores Vinhos Verdes para o seu verão 

Leves, refrescantes e frutados, os brancos e tintos do norte de Portugal fazem belos casamentos com praia, piscina e com nossa gastronomia. Confira dicas de harmonização e de rótulos de todos os preços.


taça de vinho branco com plantação ao fundo
Foto: Getty Images



Imagine um vinho refrescante, leve, aromático, fácil e gostoso de beber. Que seja bom de piscina e amigo das tardes e noites de calorão. Que combine lindamente com o camarãozinho frito ao alho que você pediu à beira-mar. Que tenha preço bacana e não arrombe o orçamento. Mas que, dentro de sua categoria, também ofereça opções mais refinadas, para o jantar em que se quer impressionar.

Se você busca essas qualidades em seu vinho de verão, podemos ter inúmeras ideias ao redor do mundo. Mas poucas regiões as reúnem tão bem – todas de uma vez – como a dos Vinhos Verdes, noroeste de Portugal. Seus brancos, de aguda acidez, são a cara do nosso verão. Os tintos da região, embora menos conhecidos no Brasil, também têm pegada leve, ácida e frutada.

“Os Vinhos Verdes têm tudo a ver com o Brasil e com nossos hábitos gastronômicos. Vêm de uma região muito dinâmica, que permite várias possibilidades de estilo. Podem ser frescos e jovens para o dia-a-dia e para o momento pé na areia. Ou complexos e harmonizar com peixes de rio gordurosos ou carne de porco”, diz Gustavo Giacchero, sommelier do restaurante Pacato, de Belo Horizonte, e embaixador dos Vinhos Verdes no Brasil.

Onde houver comida do mar, é certeza que os Vinhos Verdes chegam junto. É claro que com as comidas portuguesas eles são um espetáculo: bacalhau, bolinhos, alheira, polvo, sardinhas na brasa. Também casam lindamente com sushis, sashimis e outras sutilezas da culinária japonesa. Com queijos leves, como a burrata e o de cabra, são sensacionais. Encaram preparos apimentados das gastronomias indiana, tailandesa e mexicana. Se você pensar em moquecas, capixaba ou baiana, a imaginação e o prazer vão longe, tipo caminho sem volta.

A região dos Vinhos Verdes é a maior área vinícola demarcada em Portugal e abriga variedades de uvas com características particulares e um traço fundamental em comum: a tal acidez que refresca e faz a boca salivar, pedindo mais. Em muitos casos, ela garante aos vinhos longevidade e capacidade de evolução. O papo de que os verdes só são bons quando consumidos poucos meses após o engarrafamento ficou no passado.

plantação de vinhas

Parreiral da Quinta da Lixa. Foto: Divulgação

“Existem os dois lados. Vinhos jovens e diretos, que devem, preferencialmente, ser consumidos logo, e vinhos que evoluem com o tempo. É uma convicção nova dentro da própria região. Na virada do século, certos produtores começaram a se preocupar em elaborar mais rótulos com potencial de guarda”, diz o sommelier.

Com maior conhecimento de suas uvas, diversos produtores também têm se preocupado em fazer mais vinhos monovarietais (de um só tipo de uva), explorando detidamente as características de cada cepa e sua relação com o terroir. Isso não quer dizer que os blends (misturas de uvas) perderam em popularidade. Pelo preço geralmente mais camarada, podem ser a salvação de uma tarde de verão low budget.

Opções não faltam: os Vinhos Verdes estão muito bem representados no portfólio das importadoras brasileiras. Para saber o que esperar das principais uvas da região, confira nossas dicas e do sommelier Gustavo Giacchero.

Alvarinho

Das uvas brancas da região dos Vinhos Verdes, Alvarinho é a mais “gorducha”, apesar de miudinha no cacho. Seus vinhos são mais encorpados, têm boa estrutura, mas estão longe de pesar na boca. A acidez própria da variedade faz um belo contraponto com a boca cheia de frutas tropicais (maracujá) e de polpa branca (melão).

“Essas notas se repetem no aroma, além de um citrino sutil e um floral bem marcado”, diz Gustavo. Bons vinhos elaborados com a uva cheirosinha, quando guardados, podem ganhar notas maduras, como damasco seco e amêndoas. Vale a pena esperar um tempinho para saborear um Alvarinho velho – é possível arriscar pelo menos cinco anos de guarda, sem medo. Alguns exemplares aguentam dez ou mais anos de descanso, desde que se armazene bem a garrafa – em adega climatizada, de preferência.

Monção e Melgaço, no topo de Portugal, é o pedaço onde a Alvarinho se dá melhor (na vizinha Galícia, Espanha, onde é chamada de Albariño, ela também é rainha). O enólogo Anselmo Mendes é uma das grandes referências no cultivo e na vinificação da variedade e seus vinhos são fundamentais para entendermos a Alvarinho em algumas de suas mais perfeitas traduções. De sua quinta saem vinhos jovens, como Muros Antigos Alvarinho, engarrafado três meses após seu descanso em tanques de inox, e o Curtimenta, que adormece por nove meses em carvalho (importação da Decanter).

A Quinta do Soalheiro, também de Monção e Melgaço, é um laboratório de vinificação de Alvarinho. A equipe do enólogo António Luis Cerdeira consegue elaborar vinhos de estilos bem diferentes com uma só uva, do espumante ancestral pét-nat a blends de safras antigas, passando pelo vinho laranja (alguns deles ainda não disponíveis no Brasil). Gustavo indica o Soalheiro Granit, com frutos colhidos em solo granítico, que aportam mineralidade à bebida. O vinho clássico da casa, Alvarinho Soalheiro, é mais um exemplo do que é possível fazer com a casta em seu esplendor (importação Mistral).

garrafa de vinho branco em cima de uma pedra

Alvarinho Soalheiro. Foto: Divulgação

Outros rótulos bastante interessantes são o Alvarinho Deu La Deu (Casa Santa Luzia), Quinta de Santiago Alvarinho (Wine2All), Quintas de Melgaço (Winerie), Quinta da Calçada Alvarinho (World Wine), João Portugal Ramos Alvarinho (Grande Adega), e o bom de preço Aveleda Alvarinho (TodoVino).

Harmonização do sommelier: Alvarinho com moqueca baiana.

Loureiro 

A Loureiro tem acidez solar, sem que isso signifique a sensação de chupar limão quando se bebe. Seus vinhos vêm com aromas citrinos, florais e herbais, um toque de grama verde e outro da folha de louro que origina seu nome – levíssimos e bem temperados. Na boca, a sensação “azedinha” é redonda e misturada a grapefruit, melão e um quê salino. O vinho ideal para o verão.

Seu terroir mais rico está na sub-região de Ponte de Lima, embora haja bons exemplares de Loureiro em outras zonas – é uma das mais plantadas nos Vinhos Verdes. Quando guardado, um bom exemplar de Loureiro ganha notas de frutas secas e favo de mel, sem que se dissipe a acidez persistente, que chama outro gole.

Quinta do Ameal e Aphros Wine, ambas de Lima, são vinícolas essenciais para que se prove a Loureiro em sua máxima expressão. O rótulo Ameal Loureiro é um exemplo clássico da casta. Quinta do Ameal Escolha, elaborado com dois dos melhores vinhedos da propriedade, passa por estágio de seis meses a um ano em barricas e vem com mais corpo e complexidade. A vinícola ainda faz um vinho doce de colheita tardia, o Special Harvest, que é de beber chorando de felicidade (importação da Qualimpor).

garrafa de vinho branco sobre um tronco

Ameal Loureiro. Foto: Divulgação

O rótulo Aphros Loureiro tem acidez sideral e revela a tipicidade que o produtor Vasco Croft consegue extrair das uvas com agricultura biodinâmica e vinificação de baixa intervenção. Aphros Daphne é mais evoluído, pela passagem por madeira. O pét-nat Aphros Phaunus é uma boa pedida para quem quer provar a magia dos Vinhos Verdes na forma de espumante (importação da Wine Lovers).

Gustavo ainda indica os vinhos de Loureiro da Adega Ponte de Lima (Pão de Açúcar) como opções de boa relação custo-benefício. Outras apostas são Niepoort Dócil Loureiro (Grand Cru) e Quinta da Lixa Compromisso Loureiro (Nossa Quinta). Produtores de Monção e Melgaço também fazem Loureiros de respeito, como Anselmo Mendes Muros Antigos Loureiro (Decanter).

Harmonização sommelier: Loureiro e frango com quiabo e angu mole, à moda mineira.

Avesso

A Avesso tem esse nome atravessado por causa de sua conduta birrenta. Dá-se bem em regiões mais secas e distantes do oceano, ao sul dos Vinhos Verdes, como Basto e Baião. Ela entrega a mesma acidez vibrante da Loureiro, porém seu aroma e seu paladar, já na juventude, trazem frutas secas, castanhas e avelãs. Ao evoluir na garrafa, desenvolve notas terrosas, minerais e petroladas (cheirinho de plástico).

garrafa de vinho com uma casa rural ao fundo

Casa de Vilacetinho Avesso Reserva. Foto: Divulgação

“É uma uva que sai da caixinha e surpreende. Tem produção menor, mesmo na região dos Vinhos Verdes, e vale a pena conhecê-la”, diz o sommelier. Suas dicas são Quinta da Covela Avesso (Sonoma), Quinta da Raza Avesso (VM Vinhos), ABCDarium Avesso (Casa Santa Luzia) e Casa de Vilacetinho Avesso Reserva (Quinta de Olivares). A última vinícola também elabora o Espumante Vilacetinho Branco (Americanas) com Avesso.

Harmonização do sommelier: Avesso com tambaqui ao tucupi, à moda paraense.

Blends

Os brancos mais básicos dos Vinhos Verdes costumam misturar várias uvas. Entram Alvarinho, Loureiro, Avesso e também Azal, Arinto, Trajadura. Os blends tendem a ser ligeiros e menos encorpados. É assim a maioria dos verdes mais baratos que encontramos nos supermercados, mas isso não quer dizer que não haja nobres misturas, cheias de encanto e complexidade.

Casa de Vilacetinho Avesso e Alvarinho (Rota do Azeite e Vinhos), delicado e elegantíssimo, é bom representante dos blends bons de bico. Na mesma faixa, há Allo Alvarinho e Loureiro, da Soalheiro (Mistral), Muros Antigos Escolha (Alvarinho, Loureiro e Avesso, na Decanter), Tapada dos Monges Alvarinho e Loureiro (Wine Lovers) e o delicioso espumante Portal da Calçada Cuvée Prestige Brut (Arinto e Loureiro, na World Wine), produzido pelo método charmat.

Vinho branco sobre a mesa com 3 taças

Bico Amarelo: bom custo benefício. Foto: Divulgação

Entre os mais simples, Bico Amarelo (Loureiro, Alvarinho e Avesso, da Qualimpor) é uma excelente opção de blend com preço bacana: menos de 100 reais. Assim são 1808 Colheita Vinho Verde (Loureiro, Arinto e Avesso, no Magazine Luiza), Muralhas de Monção (Alvarinho e Trajadura, na Casa Santa Luzia), Azevedo Loureiro & Alvarinho (Zahil) e Adega Guimarães (Loureiro, Arinto, Trajadura e Azal, na Grand Cru). 

Harmonização do sommelier: blend de Alvarinho, Loureiro e Trajadura com surubim na brasa.

Tinto

Sim, há tintos na região dos Vinhos Verdes e quem domina a parada é a Vinhão, uva bem diferente e intrigante até no nome (no Douro, é chamada de Sousão). “Quem se acostumou a vinhos volumosos, como Malbec e Cabernet Sauvignon, pode se surpreender com os tintos mais frescos e de acidez marcada dos Vinhos Verdes”, diz Gustavo.

Sua cor muito intensa e opaca engana os sentidos. Na boca, o Vinhão é muito frutado, de corpo leve. Por tradição, é bebido em cumbucas de cerâmica branca e não demoramos a imaginá-lo numa quermesse portuguesa, fazendo par com sardinhas na brasa. Essa facilidade de harmonização com comidas gordurosas permite ao Vinhão encarar nossos pratos mais opulentos, como a feijoada. “A acidez limpa a boca e a leveza de corpo e de taninos não faz pesar.”

Para começar, um Vinhão básico é Estreia Reserva (Vai Vinho). Boa pedida para conhecer a casta, pois seu preço está por volta dos 50 reais, um achado. Se gostar da uva diferentona, pode partir para rótulos mais caros, como o Desfiado Premium (Magazine Luiza), Aphros Vinhão (Wine Lovers) ou Opacco, da Soalheiro (Mistral), blend fora do comum: Vinhão e Alvarinho.

Outra uva da região, essa mais rara, é a Alvarelhão. Tem a tal acidez, porém moderada, e traz taninos leves, originando vinhos delicados. Anselmo Mendes é um entusiasta da casta e elabora o Pardusco (com leve passagem em barricas usadas) e o Pardusco Private (de descanso mais longo em madeira), ambos da Decanter. Outra dica fora da curva é Pequenos Rebentos Atlântico Tinto (Grapy), mescla de uvas pouco conhecidas: Cainho Tinto, Pedral, Doçal e Alvarelhão. “Um baita tinto, de elegância absurda”, diz Gustavo.

garrafa de vinho tinto com taça ao lado

Pardusco Private. Foto: Divulgação

Por fim, se você quer curtir a Alvarelhão em três versões diferentes, é preciso sair da região dos Vinhos Verdes (a gente deixa) e dar um pulo no vizinho Douro. A vinícola Quinta dos Avidagos lançou um projeto bem maluco: vinificou Alvarelhão em branco, rosé e tinto. Para fazer vinho branco de uva tinta, basta macerar as frutas sem as cascas. Dessa técnica surgiu o Ex Tinto, cremoso, com aromas de ervas e frutas tropicais. O rosé Quase Tinto e o Mesmo Tinto completam a trilogia (importação Abbo, cujo canal de vendas online, bravino.com.br, estará disponível em breve). 

Harmonizações do sommelier: Vinhão com frango ao molho pardo e blends de Alvarelhão com frango assado com purê de cenoura, gengibre e mel (o prato está no cardápio do Pacato, em BH).

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