90 anos de Giorgio Armani
Em nove décadas de vida e quase meio século de marca, Giorgio Armani atravessa as oscilações da moda com um universo próprio e consistente.
Giorgio Armani completa 90 anos nesta quinta-feira (11.07), confirmando o título que carrega há um tempo: é o criador de moda mais longevo em atividade – e sem planos de aposentadoria.
Depois de largar uma potencial carreira na medicina, o italiano ingressou no universo da moda no final dos anos 1950, como vitrinista da loja de departamentos La Rinascente, em Milão.
Giorgio Armani ao lado de duas modelos, ao final do desfile de alta-costura de inverno 2024 da Armani Privé. Foto: Getty Images
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Antes de fundar a casa que leva o seu nome, em 1975, duas semanas após o seu aniversário de 41 anos, com (reza a lenda) o dinheiro da venda de um carro, ele passou pelo masculino de Nino Cerruti
Desde então, Armani construiu um império, que o transformou no segundo homem mais rico da Itália. Trata-se do resultado de uma obsessão por controle, que transparece no negócio – ele é conhecido pelo envolvimento em tudo o que acontece na empresa – e nos códigos estéticos, imune às flutuações da moda.
A alfaiataria da casa Giorgio Armani
Vindo das entranhas da moda masculina, Giorgio Armani criou sua primeira grande assinatura ao rever a alfaiataria clássica para criar uma identidade milanesa elegante e ensolarada. Ele foi contra todas as tradições rígidas da Savile Row, o berço da alfaiataria londrina, para construir calças e paletós de tecidos leves e desestruturados, com modelagem ampla e confortável.
Essa foi a época da sedimentação de uma imagem ambígua de gênero na alfaiataria, sempre tão ligada ao estilo machão à la James Bond. Os mesmos cortes foram adaptados para as mulheres, na sua versão Made in Italy do power dressing dos anos 1980.
Uma paleta de tons próprios
Giorgio Armani tem uma relação especial com as cores, que parecem vistas sob uma sombra permanente, a ponto de diminuir a saturação até dos raros tons mais vibrantes. Não à toa, há quem o compare a Claude Monet e a turma dos pintores impressionistas na arte.
Independentemente das tendências das estações, estão sempre na sua paleta os azuis, velhos favoritos, ao lado dos pretos, cinzas e rosas pálidos. Mas seu predileto de fato, que Armani defende como sinônimo de elegância atemporal, é o greige: uma mescla óptica entre o cinza e o bege que pode ser quente ou fria e remete aos tecidos crus.
Modelo com costume no tom greige, durante o desfile masculino de inverno 2025 da Giorgio Armani. Foto: Getty Images
A valorização dos orientalismos
O estilista italiano carrega certa fascinação pela ásia. As inspirações por culturas únicas, como a chinesa, a malaia e a uzbeque foram sua maneira de dar uma quebra ao rigor criativo que mantém nas coleções. Ao longo das décadas, o criador importou elementos, grafismos e formatos que se encaixam na sua visão de mundo. E com a vantagem de conseguir trabalhá-los, na maior parte do tempo, sem grandes exotismos, maneirismos ou apropriações culturais.
Armani Privé, alta-costura verão 2024. Foto: Getty Images
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Controle total da imagem
Giorgio Armani entendeu rápido que a imagem de moda é essencial e soube construir uma iconografia particular por meio das suas campanhas. Muito disso, devido à colaboração criativa com o fotógrafo de moda Aldo Fallai, amigo com quem trabalhou por mais de três décadas. Os dois sedimentaram uma comunicação visual com uma luz dura e, muitas vezes, em preto e branco. O designer clicou com um tanto de outros fotógrafos-estrelas, como Craig McDean, Peter Lindbergh, Alas & Piggott e Brett Loyd.
Campanha de inverno 1984 da Giorgio Armani fotografada por Aldo Fallai. Foto: Aldo Fallai
O cinema como marketing
Colaborações entre criadores de moda e o cinema não eram novidade nos anos 1980, mas ganharam um novo patamar quando Giorgio Armani entrou no jogo. A sua estreia em Hollywood foi em Gigolô americano (1980), estrelado por Richard Gere. O estilista foi procurado pelo diretor Paul Schrader, que aproveitou toda a coleção de verão de então para vestir o seu protagonista, um michê de luxo aficcionado por roupas caras. O filme (primeiro de dezenas com a assinatura Armani) foi o grande responsável por colocar a marca no radar do desejo, oficializando as telonas como plataforma global de marketing de moda.
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Para além da passarela, o tapete vermelho
Outra dobradinha de Giorgio Armani com a indústria cinematográfica foi nos tapetes vermelhos. O seu primeiro alvo foi Diane Keaton, a quem convenceu a usar um blazer masculino ao ganhar o Oscar de Melhor Atriz por Noivo neurótico, noiva nervosa, em 1978. Anos mais tarde, a marca criou um time próprio de relacionamento para vestir atores e atrizes nas premiações, novidade na época. O resultado foi a transformação total do estilo hollywoodiano e a criação de momentos icônicos, como o com Julia Roberts de terno e gravata em 1990, Daryl Hannah de baby doll de seda em 1994 e uma série de atores com black ties feitos sob medida.
Julia Roberts de costume Giorgio Armani durante o Globo de Ouro de 1990. Foto: Getty Images
Giorgio Armani e um lifestyle para chamar de seu
Uma das únicas grandes marcas a sobreviver fora de conglomerados de luxo, Giorgio Armani não só mantém a empresa familiar como criou um universo que orbita ao redor dela. Além das linhas de roupas — incluindo a Armani Privé, que faz parte do calendário de alta-costura desde 2005 —, o seu nome abraçou uma miríade de áreas: os costumeiros perfumes, óculos, cosméticos e maquiagens, mas também uma própria linha de decoração, mobiliário, doces, flores, clubes, hotéis, restaurantes e cafés ao redor do mundo. Todas amarradas sob uma estética rigorosa e discreta, como o próprio.
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