Na alta-costura, a volta da meia-calça

Recuperando a imagem vintage do boudoir, Valentino, Schiaparelli, Dior e Fendi trazem o acessório de volta aos holofotes.


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Valentino | Fotos: Divulgação



A mais recente semana de alta-costura, em Paris, teve uma protagonista um tanto improvável. Quem roubou a cena não foi um vestido, um terno extremamente bem cortado ou uma supermodelo. Teve tudo isso, é verdade, mas quem marcou presença em quase todos os desfiles foi a meia-calça.

Teve meia-calça com bordados fazendo as vezes de malha, teve modelo de couro recortado, cortado a laser e até a saudosa conhecida meia 7/8 com fio 15. Uma das últimas vezes que esse modelo fez sucesso foi nos anos 1970, quase sempre combinada com scarpin, sandália de tira e cinta liga. É só lembrar de algumas das coleções mais icônicas de Yves Saint Laurent e das fotografias de Guy Bourdin e Helmut Newton. O boudoir entrava em cena para trazer a sensualidade frágil de uma mulher forte, que entendia e celebrava o sexo, ainda que escondido embaixo de vestidos de chiffon.

O momento agora é outro, mas com algumas semelhanças. Nas últimas temporadas, de alta-costura e prêt-à-porter, falou-se muito de um retorno à formalidade, à elegância e a uma moda mais arrumada. E teve o sexo também, né? A sensualidade voltou a ser um assunto quente, depois de quase dois anos privados de contatos, encontros e toques.

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Yves Saint Laurent alta-costura, inverno 1982.Foto: Helmut Newton

A criação da meia-calça, contudo, tem viés mais prático. Foi no dia 15 de maio de 1940, que os primeiros modelos, tal qual conhecemos hoje, foram vendidas pela Dupont, nos Estados Unidos. A fibra de nylon resistente e flexível substituiu a seda, usada até então para cobrir e esquentar a perna de homens e mulheres por décadas.

Logo após a invenção, durante a Segunda Guerra Mundial, os EUA impuseram um embargo para o uso do material. Com a alta demanda na produção de paraquedas e outros itens bélicos à base de nylon, o tecido passou a ter seu uso restrito. Foi só em 1945, que ele voltou a ser vendido. Na ocasião, as meias-calças com essa matéria prima esgotaram em seis horas, na loja de departamentos Macy’s. Filas gigantes também foram registradas em outras lojas pelo país. Esse foi o tamanho do impacto do acessório na época.

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Dior.

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De volta para o presente, a versão ultra fina que vimos neste verão 2022 ficou esquecida por um bom tempo. Ela foi substituída por uma meia mais grossa, gráfica e estampada, quase como uma legging. A peça virou hit quando a stylist Lotta Volkova começou a trabalhar com Demna Gsavalia na Vetements e Balenciaga e fez do item parte essencial daquela imagem. Em 2020, ela lançou sua primeira colaboração com a Adidas Originals. Nela, o acessório se transforma completamente e ganha ares esportivos com os chamados leg warmers. “O look criado por Lotta foi o mais longe que as meias-calças chegaram do visual que elas tinham no começo dos anos 1970”, explica o editor de moda da ELLE, Lucas Boccalão. “Fazia muito tempo que elas não apareciam nas passarelas com esse ar antigo, sexy e até um pouco decadente.”

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Fendi.

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Nesta temporada, a sobreposição de versões com bordados brilhantes foi destaque no desfile da Dior, por Maria Grazia Chiuri. Na passarela, elas foram combinadas a collants – em alusão à meia-calça do balé – e saias na altura do joelho. Já na Fendi, tudo ficou mais tecnológico. Apesar do ar vintage, a peça ganhou detalhes cortados à laser em formas de flores, mostrando que dá para trazer modernidade a esse look que já vem dando o nome há tanto tempo.

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Schiaparelli.

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Mas foi na Schiaparelli e na Valentino que o clima boudoir apareceu com mais força. Os vestidos pensados por Daniel Roseberry foram combinados a meias de fio 15, ora com os pés de fora, ora com uma parte mais escura, tipo um shorts, como nas versões antigas do acessório. A melhor e mais definitiva versão na alta-costura, no entanto, foi a da marca comandada por Pierpaolo Piccioli. Já no primeiro look, o minivestido com decote estruturado foi arrematado com uma meia 7/8 superfina. A partir dali, todas as peças curtas vinham acompanhadas do item, que traz um ar sensual instantâneo até aos visuais mais coloridos.

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Valentino.

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