Conhecemos a agrofloresta da WTNB em Pindamonhangaba
Para tornar sua cadeia produtiva mais sustentável, Ana Clara Watanabe criou uma agrofloresta para a sua marca, a WTNB, no sítio de sua família.
A história do sítio Motoko-Teruaki começou muito antes da agrofloresta da WTNB, marca de Ana Clara Watanabe. Há cerca de 65 anos, o avô da estilista comprou um terreno de 55 mil m² em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, para plantar tomates. Com o tempo, a produção diminuiu e o espaço foi destinado ao lazer da família. Pelo menos até fevereiro.

Os pés de algodão da agrofloresta da WTNB. Foto: Blínia
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Criada em 2023, a WTNB nasceu com a proposta de fugir das lógicas tradicionais do mercado. Ana Clara começou trabalhando com tecidos de descarte (ainda presentes em algumas peças), técnicas de upcycling e até mobiliário – como contamos no Volume 12 da ELLE Brasil. A entrada de seu namorado, Hugo Takemoto, e da amiga e cliente Sofia Leonardi como sócios da empresa, em dezembro de 2024, transformou a maneira com que a marca olhava para a sustentabilidade.
Com o aporte da nova estrutura societária, a WTNB criou sua agrofloresta. Trata-se de um sistema de plantio que integra diferentes culturas agrícolas com árvores e a vegetação nativas da região, formando um ecossistema equilibrado. Essa prática ajuda a manter a biodiversidade do terreno, favorece a regeneração natural do solo, dispensa o desmatamento e não depende de insumos químicos.

Ana Clara Watanabe na agrofloresta da WTNB. Foto: Blínia
A Far Farm, consultoria especializada em tornar cadeias de abastecimento mais sustentáveis, estruturou uma área de 1.200 m² e ajudou na escolha das culturas. “Tudo o que plantamos é calculado para ter nutrientes suficientes para o algodão crescer”, explica Ana Clara, que também planta abóbora, abacate e caqui no mesmo espaço.
Além de mais sustentável ambientalmente, o impacto social da agrofloresta é relevante. “Em pouco tempo, além da fibra que vai virar tecido, colhemos mais de mil legumes. Esses alimentos são distribuídos entre nossos funcionários e doados à comunidade”, explica Ana Clara. Esse é um dos alicerces da prática: a autonomia dos agricultores. Os legumes e frutas garantem a alimentação da família dos trabalhadores, que podem ainda vender o excedente, trazendo mais estabilidade econômica.
A meta inicial, para o período de fevereiro a julho, era colher 100 kg de algodão, mas o inverno rigoroso reduziu a produção em cerca de 40%. Após dois meses de secagem, o material segue para uma tecelagem responsável pela produção do tecido. Neste teste, explica Ana Clara, o algodão colhido dará origem a um fio mais grosso, ideal para a sarja.

O algodão da agrofloresta da WTNB. Foto: Blínia
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Em novembro de 2025, um ano e meio após sua apresentação de estreia, a WTNB deve desfilar uma coleção feita parcialmente do algodão cultivado no sítio. “As roupas partem de uma pesquisa sobre vestimentas japonesas em diferentes épocas, especialmente as peças usadas por agricultores. Estamos explorando tingimentos naturais com barro, carvão e ferrugem. Também desenvolvemos capas de chuva de fibra de banana, em parceria com uma produtora aqui de Pindamonhagaba”, adianta.
A partir do ano que vem, a WTNB vai lançar uma linha mais comercial feita exclusivamente do algodão do Motoko-Teruaki, destinando 70% dos lucros para a manutenção da agrofloresta. No futuro, a meta é ampliar a área de plantio. “Queremos mostrar que esse tipo de produção é viável e que marcas com maior poder aquisitivo poderiam financiar produtores rurais. Existe um mito de que o algodão é o vilão da moda, mas é possível trabalhar com ele de forma menos nociva, gerando impacto socioambiental positivo.”
A jornalista Giuliana Mesquita viajou à convite da WTNB e da Heineken.
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