Chanel, inverno 2024 alta-costura
Chanel apresenta coleção de alta-costura de inverno 2024, a primeira sem Virginie Viard na direção criativa.
A Chanel apresentou a sua primeira coleção sem Virginie Viard na direção criativa – e fez questão de destacar a informação. Segundo comunicado enviado à imprensa na manhã desta terça-feira (25.06), a coleção de inverno 2024 de alta-costura é assinada pelo estúdio de criação da casa – ou seja, pela equipe interna de design. Ao fim do desfile, ninguém apareceu para receber os aplausos.
Para contextualizar, a estilista Virginie Viard, que era os braços direito e esquerdo de Karl Lagerfeld, se tornou diretora de criação da Chanel, após a morte do amigo e mentor, em 2019. Pegando todo mundo de surpresa, a grife comunicou a sua saída no dia 06 de junho. Até o momento, nenhum sucessor foi anunciado.
Chanel, inverno 2024 alta-costura. Divulgação
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Fora a cadeira vazia, não houve grandes mudanças no que se viu na passarela. A principal novidade foi a locação. O endereço tradicional dos desfiles da maison é o Grand Palais. Porém, depois de um bom tempo em reforma, a construção do fim do século 19 foi reservada para abrigar as competições de esgrima nos Jogos Olímpicos de Paris.
A alternativa foi a Opéra Garnier – mas não o palco principal, e sim os corredores em seu entorno. Sob direção do cineasta Christophe Honoré, o cenário reproduzia os camarotes, com seus assentos e cortinas de veludo vermelho. O convite vinha até com um binóculo de teatro (os opera glasses) e instruções de como usá-lo.
A coleção também é inspirada pela decoração e pelo o que o ambiente representa. Após quase cinco anos de propostas bem pés no chão, o drama volta a animar a passarela da Chanel, ainda que bem de leve. O foco são os códigos essenciais da grife, sua relação com as artes cênicas e com a própria Ópera de Paris (no ano passado, a etiqueta se tornou sua grande patrona, mas as relações com a instituição vêm desde 2018).
Chanel, inverno 2024 alta-costura. Divulgação
Não por acaso, o primeiro look era um casaco-capa de ópera de presença imponente. Tinha ainda blazers com mangas bufantes, casacos longos cobertos de bordados brilhantes e acabamentos de plumas, vestidos de bailarina com cabochões de cristal, um casaco coberto de laços dourados, capas escovanças, babados pregueados e muitos, muitos, bordados.
Entre as novidades na porção mais noite do inverno 2024 de alta-costura da Chanel estão os vestidos de jérsei laqueado. Em preto ou creme, o tecido parece couro envernizado ou vinil, mas com caimento leve e confortável. Volumes e silhuetas referenciam estilos dos anos 1980, vide o vestido de noiva à la princesa Diana.
Chanel, inverno 2024 alta-costura. Divulgação
Apesar do glamour e opulência do cenário e atuação das modelos, boa parte da coleção é dedicada a opções, digamos, cotidianas. Um cotidiano bem especial, no caso. Não faltam opções de tailleurs de tweed, cada um deles mais brilhante e decorado – havia pérolas e cristais bordados, camélias de joias sobre paetês e decotes enfeitados com cristais e ouro. Nos acessórios, os hits são os laços pretos para prender o rabo de cavalo e as mary janes acetinadas com saltos decorados.
As propostas mais lady like de Virginie Viard aparecem nos vestidos transparentes brilhantes e no uso recorrente de pequenos laços. Já seu estilo descontraído pode ser encontrado nas camisetas, regatas, túnicas, bodies e vestidos de corte simples de tweed de chenille, assim como nas calças de jérsei – tudo inspirado no figurino desenhado por Coco Chanel para o balé Le Train Bleu, em 1924.
Chanel, inverno 2024 alta-costura. Divulgação
Antes do desfile, o presidente da marca, Bruno Pavlovsky, comentou vagamente as mudanças no comando. Ele elogiou Virginie pela sua condução e sucesso comercial. Desde que ela assumiu a direção criativa, em 2019, as vendas do prêt-à-porter cresceram 2,5 vezes anualmente. As vendas de 2023 atingiram um recorde de 19,7 bilhões de dólares, 16% a mais do que em 2022.
No entanto, o executivo indicou que a relação teria chegado a um limite de saturação. Após agradecer a estilista, ele disse que a Chanel estava pronta para o próximo capítulo. Quem comandará essa nova fase, contudo, não foi revelado, nem o prazo para tanto.
Detalhes sobre a partida da francesa foram evitados. A ênfase no fato de que a coleção foi feita por um time interno, no entanto, não ajudou muito. Dado o curto intervalo entre o comunicado de desligamento e a apresentação, é pouco provável não ter dedo de Virginie no inverno 2024 de alta-costura da maison. A menos que o contrato tenha sido rompido bem antes do anúncio oficial.
Chanel, inverno 2024 alta-costura. Divulgação
E como na alta-costura quem dá a palavra final é a cliente – que aqui têm um gosto declarado por estilos clássicos e nada ousados –, a apresentação de hoje não deve sofrer grandes impactos comerciais. Financeiramente, a Chanel, segunda maior marca de luxo do mundo em números de vendas, tem estofo de sobra para aguentar um tempo sem um diretor de criação.
A questão é que, na moda, timing é tudo. E o ponto de saturação mencionado por Pavlovsky pode indicar justamente o limite de atuação dos números acima da criatividade, do ponto de vista.
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