Três vezes Diana

Lady Di é interpretada por Kristen Stewart em Spencer, que estreia no Brasil, é tema de novo documentário, exibido em Sundance, e retorna na inédita temporada de The Crown.


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Arte: Gustavo Balducci



Depois de ter sua estreia adiada no Brasil, chega nesta quinta-feira (27.01) aos cinemas do país o aguardado Spencer, longa em que Kristen Stewart interpreta Lady Di. Ela ainda será vista no streaming em novembro, quando Elizabeth Debicki assumirá o papel da Princesa de Gales nas duas últimas temporadas de The Crown.

E enquanto a série da Netflix mostra Lady Di no panorama maior do reinado de Elizabeth 2ª e
Spencer examina as dimensões psicológicas de uma mulher sufocada em suas circunstâncias, o documentário The princess, que acaba de ser exibido no Festival Sundance, aponta sua câmera para a mídia e para o público e em sua relação com a princesa.

Conheça a seguir mais sobre o filme, o retorno da série e o novo documentário:

Spencer

Com ares de terror psicológico, Spencer, dirigido pelo chileno Pablo Larraín (Jackie), visita a Sandringham House no Natal de 1991, para o último feriado de Diana com os Windsor, antes de se separar de Príncipe Charles (Jack Farthing).

Àquela altura, o casamento que dez anos antes parecera digno de um conto de fadas já estava condenado ao fim. O herdeiro ao trono britânico já não escondia da esposa seu romance com Camila Parker Bowles — a quem Diana chama, no filme, de Jane Seymour, terceira esposa do Rei Henrique 8º e por quem ele decapitou sua esposa anterior, Ana Bolena.

Presa em um casamento sem amor, mas forçada a manter as aparências, Lady Di vai de extremo a extremo em busca de medidas que lhe permitam manter sua identidade: ora é uma mãe carinhosa para os príncipes William (Jack Nielen) e Harry (Freddie Spry); ora é uma jovem que sofre de bulimia, em cenas difíceis de assistir. No filme, Diana delira, sofre e chora.

A Chanel, grife da qual Lady Di foi embaixadora, abriu as portas de seu acervo para a figurinista Jacqueline Duran, que aproveitou a liberdade criativa que permeia a história para reimaginar alguns dos looks de Lady Di para o filme. Ombros marcados, botões dourados, conjuntos e color block marcam o figurino impecável de Kristen para interpretar a personagem.

Outro destaque vai para a atuação de Sally Hawkins (A forma da água), que interpreta a camareira Maggie, única pessoa em Sandringham com quem Diana consegue conversar, trocar confidências e expor o que está passando pela sua cabeça.

Spencer (sobrenome de solteira de Lady Di) estreou no Festival de Cinema de Veneza, em setembro de 2021, e chegou aos cinemas dos Estados Unidos dois meses depois, quando também estava previsto para ser lançado no Brasil. Sua estreia, no entanto, foi adiada. O filme está cotado para o Oscar, e apesar de ter sido esnobado pelo SAG Awards, rendeu uma indicação de melhor atriz para Kristen Stewart ao Globo de Ouro. (MB)

Lady Di Kristen Stewart

Divulgação/ Diamond Filmes

“The Crown”, 5ª temporada

Depois de Emma Corrin dar vida a uma jovem Lady Diana na quarta temporada de The Crown — papel que rendeu à atriz um Globo de Ouro e uma indicação ao Emmy —, Elizabeth Debicki irá assumir o papel da Princesa de Gales nas duas últimas temporadas da série, que troca de elenco regularmente para acompanhar a progressão temporal da trama.

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Elizabeth Debicki usando o Vestido da Vingança Reprodução

Imagens mostram Elizabeth usando o “vestido da vingança”, modelo ousado escolhido por Lady Di para ir a uma festa da Vanity Fair no mesmo dia em que Príncipe Charles (agora interpretado por Dominic West) confessou em rede nacional que traía a ex-esposa, em 1995. A atriz também foi vista gravando a última aparição pública de Diana, em 03.07.1997, dois dias antes do acidente que lhe tiraria a vida, no Royal Albert Hall (Londres), após assistir a uma apresentação de Gala Real do Lago dos Cisnes, ao lado de seu namorado, Dodi Al Fayed (na série, Khalid Abdalla).

A Netflix ainda não divulgou a sinopse oficial da nova leva de episódios, que irá ao ar em novembro deste ano, mas segundo imagens dos bastidores e de divulgação do elenco, a série deverá cobrir os eventos da década de 1990, um período bastante conturbado para a família real britânica.

Em 1992, Elizabeth 2ª assistiu à ruptura do casamento de três de seus filhos: Príncipe Andrew e Sarah Ferguson em março, Princesa Anne e Mark Phillips em abril, e Charles e Diana em dezembro. No mesmo ano, um incêndio atingiu o Castelo de Windsor, obrigando a Rainha a abrir o Palácio de Buckingham ao público para ajudar a financiar a restauração. Três anos mais tarde, Lady Di deu uma polêmica entrevista à BBC, em que comentou a relação de Charles com Camilla Parker Bowles. “Éramos três neste casamento”, disse ela ao repórter Martin Bashir. E como já citado, em 1997, Diana morreu em um trágico acidente de carro em Paris, quando estava sendo perseguida por paparazzi. (MB)

The princess

Com estreia mundial no Sundance Festival, que se encerra em 30.01, The princess não traz novas entrevistas com membros da aristocracia, comentaristas da realeza ou testemunhas do nascimento da princesa, desde seu casamento de sonhos com Charles até sua morte em um túnel de Paris. O documentário utiliza exclusivamente imagens de arquivo.

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É senso comum culpar a família real e a imprensa pela vida atribulada e pela morte da princesa, já que o desastre aconteceu pois o motorista fugia dos paparazzi que tentavam fotografar Diana com Al-Fayed. Não à toa, o motivo alegado pelo seu filho mais novo, o Príncipe Harry, e sua mulher, Meghan Markle, para se afastar de suas obrigações reais e se mudar para a Califórnia foi fugir da opressão de uma e da perseguição de outra.

O filme mostra como o assédio à tímida assistente de ensino de uma creche aconteceu desde o início de seu relacionamento com Charles – se é que dá para chamar assim um casamento de certa forma arranjado. Há certas cenas que lembram aquelas vividas por Amy Winehouse e exibidas no documentário Amy (2015), de Asif Kapadia.

Estão lá as entrevistas desconfortáveis de Charles e Diana e, claro, aquela famosa, depois da separação, quando ela admitiu sua infidelidade, mas também falou do caso de seu ex com Camilla. Mas The princess não cai em explicações fáceis, deixando claro que muitas vezes Diana também se beneficiou de seu apelo junto à imprensa.

O documentário ganha força, porém, quando traz as pessoas comuns, tanto quem idolatrava Diana quanto quem era rápido em julgá-la. Não faltam trechos de programas de auditório em que sua personalidade, suas ações, seu casamento eram debatidos, nem os chamados “fala povo” nas ruas de Londres. Também são curiosos os trechos de filmes caseiros de pessoas assistindo pela janela ao casamento real. Ou de um grupo de amigos jogando cartas e tecendo comentários maldosos sobre as notícias do acidente com a princesa em Paris, até o anúncio de sua morte.

Diana provocou histeria desde sua chegada à arena pública, ainda na adolescência. As reações à sua presença eram fortes, com choro compulsivo na alegria e na tristeza. Foi sua aproximação com o povo, afinal, que a tornou tão popular e ao mesmo tempo um problema para a família real. The princess diz claramente: ok, a família real a sufocou; ok, os veículos de imprensa e de televisão agiram como abutres. Mas tudo isso aconteceu porque nós, o público, alimentávamos essa obsessão. No fim das contas, os culpados somos todos nós. (MM)

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