NYFW: Helmut Lang inverno 2024
No seu segundo desfile como diretor de criação da Helmut Lang, o estilista Peter Do segue apoiado em códigos e estilos emblemáticos do fundador da marca.
Se atentar aos contextos é essencial para analisar o desfile de inverno 2024 da Helmut Lang. A apresentação, que abriu a semana de moda de Nova York na sexta-feira (09.02), é a segunda assinada por Peter Do, estilista de ascendência vietnamita que está no posto de diretor de criação desde maio de 2023.
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Quando o Helmut Lang em si estreou na moda no fim dos anos 1980, a regra era o maximalismo. O glamour e a opulência da década ainda reinavam a todo vapor. A roupa, naquela época, não tinha nada de utilitária nem de prática. Daí o baque pelo que o criador austríaco colocou na passarela: formas simples, roupas cotidianas e uma sensualidade crua, despretensiosa. Enfim, era novidade.
Helmut Lang, inverno 2024. Foto: Getty Images
Helmut Lang, inverno 2024. Foto: Getty Images
Corta para quase vinte anos depois. Peter Do assumiu a difícil tarefa de atualizar e tornar relevante a marca Helmut Lang. Na sua estreia, em setembro passado, as expectativas foram mais ou menos atendidas.
Uns aplaudiram as reedições dos hits dos anos 1990, outros chamaram a apresentação de desfile-souvenir: versões comerciais e óbvias de emblemas do passado, esvaziados de sentidos, tipo produtos encontrados em vendinhas em pontos turísticos.
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Corta de novo, agora para 2024. Para a temporada de inverno daquele ano, Peter Do fez mais uma reunião de clássicos minimalistas de Lang: camisa branca aberta e usada com calça preta de corte reto, casacos de proporções over e ombros arredondados, vestidos colados ao corpo e outros com caimento solto.
Helmut Lang, inverno 2024. Foto: Getty Images
Helmut Lang, inverno 2024. Foto: Getty Images
Estampas e texturas aparecem aqui e acolá, como nas calças e blusas com superfícies que imitam papel-bolha, ou nas camisas e saias xadrez, ora transparentes, ora opacas.
Existe também um senso de proteção. A coleção, aliás, foi chamada de Protection versus Projection. Fato que explica as interpretações de outro elemento importante da iconografia de Helmut Lang: o colete tipo à prova de balas. Já as balaclavas usadas com costumes clássicos são como uma continuação dos famosos capuzes esportivos do designer austríaco.
Ainda assim, parece que falta algo. Como falou o nosso editor de moda, Gabriel Monteiro: “Falta trazer a sensibilidade de Helmut Lang ao adaptar essa roupa utilitária para o dia a dia de um jeito que faça sentido para hoje, sem parecer só um vale a pena vestir de novo”.
Helmut Lang, inverno 2024. Foto: Getty Images
Helmut Lang, inverno 2024. Foto: Getty Images
Vale dizer que a etiqueta foi comprada pelo grupo japonês Fast Retailing em 2006, o mesmo da Uniqlo. Embora seja considerada de luxo, os preços da versão século 21 da marca diminuíram bastante. E isso é importante considerar.
Trata-se de um plano de negócio com impacto direto na criação e no que vemos nas passarelas. Pelo que tudo indica, o objetivo é oferecer roupas com referências nostálgicas, alto apelo de consumo e valores não tão caros.
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Esse último ponto é interessante para entender o porquê falta élan no desfile. Quando Peter Do assumiu o cargo, a marca diminuiu ainda mais seu price point de olho no potencial crescimento da clientela. Por tanto, a imagem precisa ser de fácil entendimento e instantâneo desejo. Complicações, agora não.A sensação que fica é de que Peter Do, conhecido em sua própria grife por uma alfaiataria esperta e contemporânea, precisa encontrar uma maneira de atualizar a sensibilidade que fez das roupas de Helmut Lang revolucionárias e desejos absolutos.
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