O boom das bolsas divertidas que estão por toda a parte
Enquanto volta a preferência por roupas clássicas e atemporais, os acessórios ficam cada vez mais lúdicos.
Existe um contraste notável neste momento em que a moda volta a cair de amores por peças de aparência simples, sóbria e clássica, o tal quiet-luxury: bolsas divertidas e nada convencionais. Melhor exemplo é o modelo em formato de pombo, de JW Anderson, usada até por Sarah Jessica Parker durante as gravações da segunda temporada da série And Just Like That.
Carrie Bradshaw usa bolsa de JW Anderson. Foto: Getty Images
Quem não viu o acessório por lá, com certeza já passou por ele em algum outro canto das redes sociais ou da vida real mesmo. Rolou até lista de espera para colocar as mãos na clutch, que mal chegava às lojas e já esgotava.
A vontade de não se levar a sério e fugir do óbvio a partir do que se coloca no corpo é um movimento que vinha numa crescente intensa, até os primeiros sinais de cansaço do mercado. Mas se as roupas perderem o bom-humor na última temporada, os acessórios, não. E não estamos falando só do segmento de luxo.
É só olhar para a bolsa Vivid, da Roarvale, que muda de cor com o calor. Seu material preto fosco se transforma em um tie-dye dinâmico e vibrante nos tons de verde, amarelo e vermelho ao entrar em contato com a luz solar, toque humano ou qualquer fonte capaz de aumentar a temperatura de sua superfície. A nova-iorquina Puppets And Puppets também fez barulho na cena local com seus modelos decorados com biscoitos, donuts e ovos fritos bastante verossímeis. De longe, não há quem diga que os alimentos são falsos.
“O mercado de acessórios tem essa liberdade. Conseguimos brincar um pouco mais”, diz o designer paulista Alexandre Pavão. Desde 2016, ele chama a atenção dos consumidores brasileiros com criações adornadas com mosquetões, cordas náuticas e chaveiros circulares. Especialmente durante os meses mais duros da pandemia, seu negócio cresceu rápida e vertiginosamente “Queria usar um material que não era exatamente feito para a confecção de bolsas. Daí vieram esses itens que hoje são característicos da minha marca”, continua ele.
Tirar objetos de contexto é o grande diferencial de seus produtos. Exemplo mais recente são as duas bolsas abaixo, que chegarão ao seu site no dia 8 de maio e que podem ser vistas aqui em primeira mão.
Quem também se anima com a singularidade é Amadeus Galileu, fundador da Toca. Seu modelo Colosso, uma bolsa coberta por franjas, foi um hit instantâneo desde seu lançamento, há menos de um ano. Tudo começo em janeiro de 2022, enquanto ele passeava pelas ruas de São Paulo e notou um tapete com textura parecida. “Logo percebi que precisava desenvolver algo nesse conceito”, relata. Junto à sua equipe de modelagem e costura, pensou em um formato, fez um protótipo e o colocou para jogo em suas produções pessoais. “Fez muito sucesso. Sempre escutava elogios por onde andava”, relembra ele.
Antes de ser oficialmente lançado, em maio de 2022, a peça já havia sido encomendada, inclusive por um cliente residente no Japão. Meses depois, o best-seller ganhou uma irmã caçula, a Baby Colosso, com franjas mais curtas e grossas, confeccionada em formato baguete.
Apesar da alta demanda, Amadeus confessa que não consegue produzir em grande quantidade pelo processo artesanal e circular. “As bolsas são produzidas com tecidos de descarte de fábrica. Compro quilos e quilos desses resíduos, mas nem sempre a qualidade é boa. Separado os melhores deles, tinjo cada franja, monto toda a estrutura e faço uma estampa no forro da bolsa. Ou seja, são vários processos até ficar pronto.” Daí o valor elevado do produto.
“E é engraçado que atingiu um público variado: da menina patricinha à descolada, das senhoras às mais novinhas. Acho que estamos numa onda de querer coisas diferentes. Houve o boom da puffer, dos modelos com cores fortes, e quando viemos com as franjas, atingimos essas pessoas que buscam algo mais bem-humorado”, comenta Amadeus.
Parte desse público, Isabella Maia lançou a marca Futurona depois de muito perrengue para encontrar variedade dentro desse nicho “diferentão”. Desde 2021, e etiqueta vende modelos sob encomenda, como bolsas-almofadas com babados, maxilaços e figuras da Hello Kitty.
Além de atuarem como alternativas criativas às opções tradicionais, esse tipo de acessório tem outra vantagem: a durabilidade. “O acessório não vai sempre na máquina de lavar. Você faz uma higienização eventual, mas, em geral, são objetos que duram muito”, fala Alexandre Pavão, que utiliza apenas nylon e couro em suas coleções a fim de torná-las resistentes ao tempo e ao uso contínuo. Aliás, vale ressaltar que sua matéria-prima é de reaproveitamento: “Usamos retalhos e lotes de couro que foram descartados por grandes empresas. Então nem sempre temos muito material. Por isso, lançamos peças com quantidade limitada”, explica sobre suas vendas concorridas.
Segundo o designer, a fácil manutenção e o uso de bons insumos faz com que as “bolsas acabem sendo um investimento que as pessoas têm menos medo de fazer.” Amadeus concorda e acredita que uma bolsa, por mais extravagante que seja, não enjoa tanto quanto uma roupa chamativa. “Ela só faz a complementação que a pessoa precisa. Às vezes, a pessoa está com a roupa da academia ou toda de preto, aí ela acrescenta a bolsa e pronto, fica cool”, fala ele. Isabella está de prova: “Sou muito clássica no meu estilo, mas curto inovar nos acessórios”.
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