Tudo sobre a estreia de Pharrell Williams no masculino da Louis Vuitton
Com homenagem a Virgil Abloh, o artista estadunidense dá continuidade ao legado de seu antecessor, reforça a história da maison francesa e garante a relevância da marca nas redes sociais e no mercado de luxo.
Quem torce o nariz para o entendimento da moda como entretenimento não vai gostar do que vem a seguir. A estreia do artista Pharrell Williams na direção criativa da linha masculina da Louis Vuitton não foi só um desfile. Foi um dos maiores shows – e demonstrações de poder – que a moda parisiense já viu.
Vamos por partes.
A locação
O espetáculo aconteceu ao anoitecer de terça-feira (20.06), em cima da Pont Neuf, toda fechada para a ocasião e bem na frente da porta de entrada do QG da Louis Vuitton em Paris. Os convidados chegavam pelo rio Sena, de barco, os famosos Bateaux Mouches. As vias nos arredores da locação estavam bloqueadas e o tráfego, caótico.
Louis Vuitton, verão 2024. Foto: Getty Images
O asfalto da ponte foi coberto pela padronagem Damier (aquela quadriculada) e, em uma das extremidades, estava o coral Voices of Fire, de Virginia, cidade estadunidense onde Pharrell nasceu. O grupo ficou responsável pela trilha sonora, que incluiu a música “Joy”, uma colaboração entre o rapper e o coro gospel, lançada horas antes da apresentação.
Quem estava lá
A lista de celebridades era quase obscena de tão absurda. Beyoncé, Jay Z e Julius sentaram ao lado de Bernard Arnault, fundador e CEO do grupo LVMH, e sua esposa Bernard Jean Étienne Arnault. Rihanna, gravidíssima, e A$AP Rocky também estavam presentes e animadíssimos.
Jay Z e Beyoncé no desfile masculino de verão 2024 da Louis Vuitton. Foto: Getty Images
Na primeira fila, alguns dos nomes estrelados eram (respira fundo): Tyler, The Creator, Zendaya, Naomi Campbell, Nicolas Ghesquière, Skepta, Megan Thee Stallion, Kim Kardashian, Jaden e Willow Smith, Jackson Wang, Coi Leray, Lewis Hamilton, Mia Khalifa, Clint, Anitta e L7nnon. Na passarela, os rappers A$AP Ferg e Pusha-T dividiram espaço com os modelos junto ao estilista Stefano Pilati.
E a coleção, hein? O que tem de novo ou diferente?
É um bom mix de tudo que importa – para várias pessoas. O desfile começa com uma série de ternos com bermudas ou saias no lugar das calças, moletons de couro, galochas e sobretudo cortados a laser. Tudo devidamente monogramado com as iniciais da Louis Vuitton, em menor ou maior grau.
Na sequência entram as novas versões da padronagem quadriculada da maison, o Damier, agora em versão militar camuflada – daí o nome Damoflauge. Tem ainda casacos de corrida, capas de chuva e blazers cropped, uma referência às silhuetas favoritas dos parisienses, jaquetas com golas Mao e bombers com textura de crocodilo e pele artificial, inspirada nas origens do hip-hop.
Louis Vuitton, verão 2024. Foto: Getty Images
Louis Vuitton, verão 2024. Foto: Getty Images
Louis Vuitton, verão 2024. Foto: Getty Images
Louis Vuitton, verão 2024. Foto: Getty Images
Nos acessórios, a grande estrela é a bolsa Speedy, interpretada a partir dos vendedores de falsificados nas ruas agitadas de Nova York (mesmo mood da campanha com Rihanna). Outros modelos que chamam a atenção (e devem esgotar rapidamente) são as shopping bags, os em forma de barco e a reedição da bolsa Miroir, favorita de Paris Hilton nos anos 2000.
Quais são as principais novidades e diferenças da LV de Virgil Abloh?
São poucas. Precisa de atenção para notá-las. Vale lembrar que é a primeira coleção de Pharrell para Louis Vuitton. Uma ruptura ou mudança de rumo abrupta era bem improvável. Até porque o artista e diretor criativo dedicou a apresentação a seu amigo e antecessor, Virgil Abloh. Ainda assim, dá para perceber algumas distinções que podem ganhar mais espaço daqui para frente.
As silhuetas, por exemplo. Na contramão das formas oversized de Virgil, Pharrell deixou tudo mais próximo do corpo, com comprimentos reduzidos e proporções convencionais. Alguns looks lembram criações de Nicolas Ghesquière na Balenciaga, bem naquele mood parisiense chic, com calça de cintura baixa, cintinho, camisa para dentro e blazer cropped com modelagem quadrada. As jaquetas de tweed à la Chanel com bermudas e saias, por outro lado, são 100% o estilo do novo diretor criativo.
Louis Vuitton, verão 2024.
Foto: Getty Images
Louis Vuitton, verão 2024.
Foto: Getty Images
Louis Vuitton, verão 2024. Foto: Getty Images
Há um maior interesse e aproximação de códigos clássicos da moda de luxo, bem como da história da maison (vide os carrinhos com baús monogramados) e de personalidades da alta sociedade e aristocracia. No release, a marca fala da “memória da Princesa Anne no colegial”, como ponto de partida para jaquetas esportivas.
Louis Vuitton, verão 2024. Foto: Getty Images
O conjunto da obra, no entanto, é um pouco impessoal. Não se questiona a importância e simbolismo da coisa toda, tampouco o talento e mérito do diretor criativo. Nem a potência do show e o desejo que muitos itens despertam. Porém, são inegáveis a virada e as novas regras do jogo. Em entrevista ao The New York Times, o artista e designer diz se sentir, por enquanto, mais como cliente do que diretor de criação. E isso ilustra bem a relação de poder entre as partes.
Embora seja possível identificar elementos próximos ao estilo de Pharrell e ao legado de Virgil, a coleção é essencialmente sobre códigos e ícones da Louis Vuitton. Os detalhes pessoais e de contextos aparecem como maquiagem superficial para uma seleção inteligente e precisa de produtos embalados por narrativas marketeiras extremamente eficazes (falamos disso aqui, lembram?).
Diferentemente de seu predecessor, o atual diretor parece oferecer apenas o que os clientes querem no momento – e o que a grife quer vender, sem dores de cabeça, sem riscos. E tudo certo, porém espera-se um pouco mais de uma casa do tamanho da LV e de quem a comanda criativamente. Abloh deu um chacoalhão no mercado de luxo quando chegou lá. Fez todo mundo se mexer, iniciou transformações, interrompeu a inércia. Agora não é bem assim.
O que isso quer dizer?
O sorriso de satisfação de Bernard Arnault na primeira fila não deixa enganar. A indicação de Pharrell Williams pelo então recém-chegado CEO Pietro Beccari foi muito bem calculada.
Há tempos envolvido com moda, Pharrell conquistou toda uma comunidade de fãs e seguidores (clientes em potencial). O artista também é um hub ambulante de criativos da música, arte, design e audiovisual. Muitos deles, aliás, estavam lá gerando mais mídia para o evento.
Pharrell é como o presidente de um clubinho fechado de mentes talentosas e estreladas. Aquele grupinho do qual todo mundo quer fazer parte, mas pouquíssimos têm a carteirinha. E tudo bem. Quem está de fora pode acompanhar os bastidores de longe, nas redes sociais e plataformas digitais.
Louis Vuitton, verão 2024. Foto: Getty Images
Não à toa, o artista e diretor criativo criou uma nova conta no Instagram, na qual documenta e divide os bastidores de seus dias nos ateliês da Louis Vuitton – da composição dos moodboards às provas de roupas e muito mais. Na prática, trata-se de estabelecer uma comunicação direta, sem intermediários, para engajar toda uma comunidade com uma sensação de pertencimento.
No fim, não é nem nunca foi apenas sobre roupas, criação ou design. O objetivo real é manter a marca relevante e lucrativa. Se está certo ou errado é toda uma outra discussão. É um fato, a realidade do momento. O que fazer a partir daí… (Continua no próximo episódio)
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