Paris Fashion Week: Balenciaga, inverno 2025

No ano em que completa uma década como diretor de criação da Balenciaga, Demna revisita os padrões que subverteu à frente da marca.


Balenciaga, inverno 2025.
Balenciaga, inverno 2025 Foto: Divulgação



Esta matéria está atrasada, eu sei. Mas foi um atraso proposital, quase contencioso. A pressão e o imediatismo das redes sociais – e da nossa equipe que cuida delas – não gostam de nada para depois. Acontece que o próprio desfile de inverno 2025 da Balenciaga coloca essa suposta urgência em xeque.

A demora na publicação foi porque eu insisti em só finalizar o texto depois de passar pelo showroom da marca e ver as roupas de perto. Na apresentação de ontem (09.03), nada chamou muito a minha atenção. E tudo passou muito rápido.

A intenção era essa mesma. E quem disse foi o próprio Demna, o atual diretor criativo da Balenciaga, em entrevista a jornalistas. Mas vamos com calma. Se fosse com pressa, ontem a conclusão desta matéria seria um pouco diferente.

BALENCIAGA WINTER 25 LOOK 2 ELIZA

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

Balenciaga, inverno 2025.

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

Balenciaga, inverno 2025.

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As roupas não pareceram mais interessantes com a proximidade. Ainda assim, a inspeção ao vivo, a cores, do avesso e sensível ao toque foi essencial para perceber que não, não é uma coleção de básicos pura e simplesmente. Pode até parecer e, de novo, a ideia é essa. 

Segundo Demna, o inverno 2025 é um estudo sobre padrões de vestimenta. São peças ou estilos tão estabelecidos que funcionam como parâmetro, referência ou ponto de reconhecimento para toda uma geração ou grupo social.

É o tipo do terno, uniforme de trabalho primordial desde a segunda metade do século 18, a partir da Revolução Industrial. Não por acaso, a apresentação abre com uma sequência deles. São uns cinco modelos quase idênticos: os dois primeiros são exemplares, perfeitos. O terceiro está amassado, como se alguém tivesse dormido com o look. O quarto tem uma saiona no lugar da calça. E o quinto é puído, como se tivesse sido corroído por traça ou mofo.

Balenciaga, inverno 2025.

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

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Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

Balenciaga, inverno 2025.

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

Hoje, o visual corporativo tem se apresentado como uma tendência forte nas nas semanas de moda. Nesta parisiense, mais ainda. E isso tem influência, ou pelo menos antecipação, de Demna.

O efeito desgastado, usado, envelhecido também aparece em outras peças da coleção, inclusive nos tênis Speedcat, uma parte da collab entre a Balenciaga e a Puma. A parceria conta ainda com tracksuits e vestidos-maiô, que são basicamente uma peça de beachwear com cauda.

As releituras de padrões de moda podem continuam em saias, jaquetas e calças jeans – supercompridas–; nos tricôs usados ao contrário, com o zíper, tradicionalmente frontal, formando um decote nas costas; e em alguns ajustes, tipo estruturas de corset em blusas e camisas, modelagem anatômica com pegada couture para casacos puffer, golas vitorianas para suéteres alongados e vestidos de moletom inspirados em vestidos de noiva de alta-costura da década de 1960.

Balenciaga, inverno 2025.

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

Balenciaga, inverno 2025.

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

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Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

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Isso tudo é novidade? Não, não é. As sacolas de supermercado em versão de luxo que o digam. Em 2025, Demna completa 10 anos no cargo de diretor criativo. Faz sentido então o mood revisionista. Tem ainda os boatos de que essa seria sua última coleção para a Balenciaga. Como quase todas as grifes do grupo Kering, a maison está sofrendo para recuperar o baque nas vendas. Mas vamos nos ater aos fatos.

Por exemplo, ao fato de quanto o designer impactou e influenciou todo o mercado desde então. Ou de como sempre ofereceu uma visão um pouco mais contextualizada, embora muitas vezes polêmica ou contraditória, sobre atitudes e a situação da moda. Na verdade, Demna sempre oscilou entre oito ou oitenta. Em termos de espetáculo, já fez shows grandiosos e outros bem intimistas. E as roupas acompanharam tais variações.

Agora, não é diferente – e ele não está sozinho. Várias outras marcas pisaram no freio, deram um passo atrás e seguraram a onda criativa para garantir que, com propostas mais fáceis de serem assimiladas, os consumidores fiquem mais dispostos a gastar.

Balenciaga, inverno 2025.

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

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Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

Balenciaga, inverno 2025.

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

Só que aqui não estamos falando de básicos, de menos é mais nem de roupas simples. Até porque, de simples, elas não têm nada. Quer dizer, talvez só a aparência. O que está em jogo é algo mais amplo, por exemplo, os megadesfiles, superdivertidos ou engajadores, porém sem muito assunto ou novidade no quesito roupa. E, desta vez, nem dá para falar que a Balenciaga se valeu de altas pirotecnias.

Pelo contrário. O cenário labiríntico foi pensado para reproduzir os bastidores de um desfile, com suas cortinas e cadeiras tipo de conferência corporativa. A passarela percorria corredores estreitos para transmitir uma sensação de proximidade.

Aliás, apresentações cada vez menores têm se tornado frequentes. A desculpa é justamente oferecer um acesso privilegiado e uma atmosfera intimista para alguns poucos e bons. Na Balenciaga, o número de convidados foi um dos maiores da temporada, e todos sentaram na primeira fila. Era a única fila que tinha.

Balenciaga, inverno 2025.

Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

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Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

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Balenciaga, inverno 2025. Foto: Divulgação

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O convite também ironizava o ganha-pão de muito negócio de luxo: as fragrâncias. Em uma sacola com o logo da grife, vinha uma rosa e uma amostra grátis de perfume.

Pode não ser… Na real, não é a melhor coleção de Demna para a Balenciaga. Ainda assim, é um desfile que cutuca a ferida, incomoda e faz pensar. E isso, hoje, é mais do que motivo para celebração.

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