Paris Fashion Week: Miu Miu, inverno 2025

O sutiã, como nós o conhecemos hoje, data da virada do século 19 para o século 20. O item tem uma trajetória controversa. Ao mesmo tempo em que ele foi revolucionário, também virou um símbolo do cerceamento da liberdade das mulheres.

Em 1968, ativistas do Women’s Liberation Movement queimaram os seus sutiãs, em um ato que virou símbolo da luta pelos direitos femininos. Em 2012, o movimento Free the Nipple destacou a peça de lingerie como insígnia de repressão. E o que isso tem a ver com o desfile da Miu Miu de inverno 2025, apresentado no último dia da semana de moda de Paris? Tudo.

Miu Miu, inverno 2025. Foto: Getty Images

Paris Fashion Week: Miu Miu, inverno 2025

Miu Miu, inverno 2025. Foto: Getty Images

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Nesta temporada, a diretora criativa da marca, Miuccia Prada, parte de uma reflexão sobre a feminilidade. O tema não é inédito e faz parte do processo criativo da estilista. No desfile de inverno 2025 da Prada, por exemplo, onde Miuccia também é diretora criativa ao lado de Raf Simons, o visual lady like dos anos 1940 e 1950 foi desconstruído com silhuetas mais relaxadas e tecidos brutos.

Já na Miu Miu, sua irmã mais nova, Miuccia questiona a construção social em torno de peças que são entendidas como marcadoras de feminilidade. Nos bastidores do desfile de hoje, ela falou à imprensa: “Esses acessórios – sutiãs, estolas e broches – são coisas que as mulheres têm desde sempre. Eles são relevantes até hoje? Eles ajudam? Eles nos colocam para cima?”

Miu Miu, inverno 2025. Foto: Getty Images

Como para Miuccia nada é simples, o que vemos na passarela não é a ausência total desses itens. Pelo contrário. O sutiã surge em formato cônico, marcando blusas fininhas. Em outros momentos, ele ganha protagonismo sob vestidos, com as alças caídas e redesenhando o decote, deslocado até a altura do colo. O desenho no formato dos seios também é construído em casacos de lã e de couro. Em vez de esconder os mamilos, a coleção os evidencia.

O mesmo exercício de ressignificação é feito com as estolas – aqui, de pele falsa –, que em vez de serem usadas nos ombros, são carregadas nos braços e adornadas com broches dourados. “Há um senso de tensão, ansiedade e medo atualmente. Nesta estação, nós realmente queremos criar elegância com nada – através do dia a dia e da manipulação direta de peças simples”, escreveu Miuccia, em um comunicado enviado à imprensa.

Miu Miu, inverno 2025. Foto: Getty Images

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Aqui, esses itens de decoração glamourosa viram apenas coadjuvantes. As peças mais básicas são as protagonistas, como as saias de seda sequinhas, as regatas caneladas e os casacos de lã escovada. O ordinário ganha destaque.

O desfile também carrega alguns códigos clássicos da Miu Miu: as combinações esquisitas de cores, as meias altas bordadas e os casacos pesados, alguns com golas peludinhas. Parece que, após algumas coleções carregadas de sensualidade quase óbvia, com barrigas de fora e microssaias, a etiqueta se volta ao guarda-roupa geek chic que a consagrou. A diferença é que a garota Miu Miu está mais madura – e mais diversa agora. Basta olhar para as modelos, que vão da atriz Sarah Paulson a rapper trans Cortisa Star, passando por uma versão menos jovenzinha dos homens, também mais velhos.

O mesmo acontece na coleção: tem look para todos e todas, da nerd e da garota que só quer festar a secretária chique e mulher poderosa pronta para fechar negócio. Todas, no entanto, marcadas por uma estranheza característica, um pensamento por trás, como é de se esperar da casa comandada por Miuccia Prada.