Biquíni como roupa? Sim, e é tendência forte no verão europeu

Saído dos anos 1950 para o atual verão europeu, o biquíni ganha mais uma vez babados que formam minissaias, tops em versões estendidas e terceiras peças à prova d'água.


Bíquini como roupa é tendência no verão europeu.
Foto: Divulgação/Triangl



À medida que as temperaturas se mantêm baixas em algumas regiões do Brasil, pular direto para o verão é bem tentador. Caso este também seja o seu desejo, você já deve estar atenta à estação solar que acontece agora no hemisfério Norte. Ao rolar o feed do Instagram, notará que as calcinhas dos biquínis se tornaram quase saias. Ao pular para o TikTok, irá se deparar com blusas à prova d’água. Ao menos, na Europa, se vestir para os rolês pós-praia nunca foi tão fácil. 

A tendência remonta ao verão europeu de 1946. Ele foi agitado: a Segunda Guerra Mundial acabara de chegar ao fim, o Festival de Cinema de Cannes realizou a sua primeira edição, o livro Brideshead Revisited completou um ano, fazendo com que todos quisessem vestir linho, Jane Birkin nasceu, e, graças a Louis Réard, o bíquini moderno fez a sua estreia oficial. À beira de uma piscina em Paris, o estilista francês convidou a imprensa para conferir sua criação no corpo de uma dançarina ー nenhuma modelo aceitou o trabalho por receio de julgarem o item escandaloso demais.

Marilyn Monroe no verão europeu, em 1949.

Marilyn Monroe, em 1949. Foto: Getty Images

Aquele, claro, não foi o primeiro exemplo de uma roupa de banho. Mosaicos do século 4, encontrados na Villa Romana del Casale, na Sicília, já retratavam mulheres amarrando faixas de lã como calcinha e top para atividades à beira mar. Só que no meio do caminho, em uma jornada repleta de controvérsias e de bastante machismo, o bíquini passou por restrições, controles e inúmeras mudanças até ser finalmente apresentado outra vez.

Em um ato de ousadia, a versão de Louis Réard deu início a um movimento que se concretizaria no beachwear ao longo dos anos 1950. É importante pontuar que, na década, marcada por uma ascensão do consumo, a moda possuía mais opções. O glamour hollywoodiano, por exemplo, existia no mesmo espaço e tempo da casualidade da roupa de lazer, que se tornava comum. É entre essa variedade de escolhas, estilos e silhuetas que o bíquini passa a ir além. 

Repare no cinto acoplado à calcinha usada por Ursula Andress no filme Dr. No (1952), nos babados em volta do corpo de Rachel Welch em One Million Years B.C. (1966) ou em qualquer registro de Marilyn Monroe na praia ou na piscina. Você vai notar que os biquínis da atriz vinham acompanhados de uma terceira peça, uma minissaia ou um top tomara-que-caia com cores ou estampas coordenadas. A imagem era meio pin-up, mas com a modernidade das novas ofertas que chegavam à indústria têxtil. 

Várias décadas depois, em 2023, as tais fotografias da época parecem estar no moodboard coletivo para o verão europeu. A Frankies Bikinis, fundada por Francesca Aiello em 2012, é uma das entusiastas. Em abril, a marca lançou uma colaboração com Pamela Anderson, adicionou babados às calcinhas dos biquínis, formando uma espécie de minissaia, apresentou terceiras peças e propôs até corsets próprios para nadar. 

Outra etiqueta que aposta nesse visual é a Triangl. As composições idealizadas pela designer Jaynee Penny fazem com que o combo do biquíni e short jeans, geralmente usado pela maioria, pareça, no mínimo, óbvio demais.

No Brasil, a carioca Makai tomou o TikTok ao apresentar suas versões da tendência. Caroline Mauro, que divide a direção da etiqueta com a sua irmã, Júlia, diz estar atenta aos estilos que fervilham pelas mídias sociais. “Nos baseamos em contextos ou estéticas relevantes para o nosso nicho, mas sem perder a identidade da marca”, explica ela. “As nossas peças são criadas para que a cliente não precise trocar de look, do momento que sai de casa para ir a praia até os outros programas que possa ter no mesmo dia.” 

 

As referências 50’s também são observadas na Galpão 51, marca fundada em 2017 por Maria Lara Belfort. “Queremos ultrapassar as barreiras da praia”, diz ela. “Depois de um dia no sol, as nossas clientes podem transformar seus visuais em looks perfeitos para um café à beira mar, um passeio no calçadão ou um evento casual ao ar livre.” Não se trata, porém, de meras saídas de praia. Assim como nos registros da década de 1950, a etiqueta oferece terceiras e até quartas peças nos mesmos tecidos dos biquínis ー caso queira, você pode até nadar com elas. 

No entanto, diferentemente dos anos 1950, as antigas regras de moda já foram descartadas. Na época, muitas das novas ofertas do mercado de beachwear já chegavam com um destino determinado ー isto é, um modelo supostamente ideal para cada tipo de corpo. Em uma rápida checagem pelas mídias das marcas que estão à frente do retorno , perceberá que bastante mudou. A história do bíquini se cruza com a história do corpo feminino. Ela narra censuras, provocações, frustrações e as esperadas liberdades. Hoje, seja você Ursula Andress ou Paloma Elsesser, o visual à beira mar nunca esteve tão completo.  

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