Tie-dye: a história da estampa que voltou com tudo (e que você pode fazer em casa!)
Fortemente ligado à contracultura e excelente opção de customização, o tie-dye nem sempre foi abraçado pelas passarelas e vitrines, mas neste período de isolamento está por todos os lados. Saiba mais sobre sua origem, descubra a história e a relação dessa estampa com a moda e, claro, aprenda dicas de DIY.
Se você segue conteúdo de moda, é praticamente impossível ter passado o último mês sem se deparar com nenhuma peça que utilize a técnica do
tie-dye no feed do Instagram. Em tempos de pandemia e da força atual do “faça você mesmo”, a estampa que é marca do movimento hippie dos anos 1960 e 1970 retorna mais uma vez aos guarda-roupas – agora, de forma mais massiva do que nunca.
Para se ter uma ideia, no Pinterest, que é uma das principais plataformas de inspiração quando as pessoas querem aprender ou fazer coisas em casa, as buscas por vídeos com técnicas de tie-dye dobraram. A busca por “bleach tie dye” aumentou 13 vezes, a de ‘”ice tie dye”, 4,5 vezes, e a de ‘reverse tie dye patterns’, 9,6 vezes. E se de tanto ver por aí, bateu a curiosidade de saber um pouco mais sobre o estilo, saiba que ele tem uma longa história e é muito fácil de ser feito em casa.
SIGNIFICADO DO TIE-DYE
Janis Joplin usa tie-dye no The Music Scene em 1969 ABC Photo Archives / Getty Images
O termo “tie-dye” significa, literalmente, “amarrar e tingir” em inglês. Ele surgiu nos EUA quando esse tipo de estampa irregular feita de forma artesanal ganhou destaque atrelada ao movimento hippie. No entanto, esse método já existia muito, mas muito tempo antes em países como Japão, China, Índia, Peru e no continente africano. “Há registros do século VI ao IX de técnicas de amarração e tingimento sendo feita nesses países”, conta Célio Dias, fundador da grife mineira LED, que fez uma longa pesquisa antes de incluir o estilo em coleções assinadas por ele.
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Chamado de “shibori” no Japão e de “bandhani” na Índia, apesar da mesma essência, o tie-dye tem particularidades em cada região – como a forma de torcer, dobrar ou amarrar o tecido antes do tingimento ou o tipo de pigmento usado. “No bandhani, o tingimento é feito com cores naturais, como a partir de casca de cebola”, exemplifica.
Mas foi com o movimento de contracultura hippie nos EUA e a fama internacional de cantores que faziam parte dele, como Janis Joplin e Joe Cocker, que a estampa passou a ser mundialmente conhecida, o que explica o motivo do termo em inglês ser o mais utilizado no ocidente, inclusive no Brasil.
Por ser irregular e criado por meio de um processo que não permite controle absoluto do resultado, o tie-dye era visto por eles como expressão de liberdade. Uma característica forte dessa época era o uso de cores intensas que, mescladas dessa forma imprevisível, ganhavam um aspecto psicodélico, outro ponto bastante valorizado pelo movimento.
“Apesar de a transgressão ter sido forte na cultura dos anos 1970, a moda de passarela da época era muito careta”, comenta Célio. Então, mesmo com a fama global atrelada aos hippies, esse tipo de estampa só foi incorporada à moda de fato nos anos 1990, quando retornou com tudo entre os punks e os clubbers. “Os punks tiraram um pouco de cor, trazendo o tie-dye nos jeans estonados e corrosivos”, explica o estilista – e foi pelo estilo deles ter chegado às passarelas pela influência de pessoas como Vivienne Westwood que o padrão assimétrico, criado a partir da amarração, acabou ganhando espaço também.
O RETORNO DO TIE-DYE COMO TENDÊNCIA NA MODA
O tie-dye já reapareceu aqui e acolá em outros momentos da moda, mas agora parece ter voltado com mais força do que nunca. Daquela amiga que decidiu customizar algumas peças que ela já tinha no armário às lojas de departamento, passando por marcas criadas com foco total no estilo, e pela adaptação dele também na maquiagem e em nail arts, o tie-dye está por todos os lados.
Dois motivos fortes seriam o isolamento social a que estamos condicionados neste momento e a força que o upcycling tem ganhado nos últimos anos. “Já vinha acontecendo esse movimento de buscar ressignificar o guarda-roupas e acredito que o ócio da quarentena fortaleceu esse olhar para transformar peças que estavam ali estacionadas”, comenta Célio. Para ele, o encanto pelo tie-dye está justamente no fato de ser uma técnica simples de se fazer por conta própria e que aceita imperfeições. “O resultado é sempre uma surpresa, você pode amar ou não, e essa é a graça.”
Mas como um método tão artesanal vem ganhando espaço também nas prateleiras virtuais de lojas de departamento? A resposta pode ser o apelo nostálgico que a estampa carrega. “O tie-dye surgiu de um espírito de liberdade, de luta social, e acho que, pelo contexto político atual, estamos vivendo um grande flerte com o passado”, reflete o estilista.
Na imagem, as modelos Linda e Jane usam tie-dye em 1970. Doreen Spooner / Getty Images
TIE-DYE: COMO FAZER EM CASA
Como dissemos lá em cima, não existe um jeito exato de se fazer o tie-dye nas suas roupas. As características fundamentais são a amarração antes do tingimento e o resultado imprevisível, mas não existe uma forma padrão de se amarrar, nem um único pigmento possível. É uma técnica de muita experimentação e diversas possibilidades. Porém, aqui estão algumas dicas do Célio par quem quer dar seus primeiros passos na customização de peças usando o tie-dye:
- – Tecidos de fibra natural, como algodão e viscose, absorvem melhor a cor.
- – Use sempre peças de cores mais claras que as tintas que serão usadas. Não precisa ser branco!
- – A estampa circular é uma das mais práticas. Pressione um garfo no meio da peça e gire até a roupa virar um círculo. Depois amarre a peça com linhas de algodão na horizontal e na vertical, formando um x com elas.
- – Onde a linha de algodão passa, a cor não pega no tecido. Você também pode fazer experimentações amarrando a peça como bem entender.
- – Os corantes para tecido são o tingimento mais prático para quem está começando. Eles são um pó que deve ser diluído na água fervente.
- – Se quiser pintar a peça como um todo, só eliminando a parte da torção, deixe-a imersa em um recipiente com corante diluído na água fervente. A água precisa estar quente para a fibra do tecido absorver melhor a cor. Se quiser usar outras nuances, deixe a peça secar, mude o local por onde a linha passa e repita o processo.
- – Outro método é borrifar com a ajuda de bisnagas o corante diluído na água fervente na peça amarrada e molhada previamente. Esse é mais prático para quem quer usar muitas cores e também permite mais possibilidades.
- – Quanto menos tempo você deixa a tinta reagindo, mais clara a cor fica. Dá para observar no olho a intensidade do tom.
- – Quando chegar na intensidade que você quer, desamarre a peça e passe ela por outro recipiente com com fixador para tecido.
- – Para finalizar, lave a peça individualmente e deixe secando. O ideal é lavá-la sozinha nas três primeiras vezes, porque solta cor e pode manchar outras peças.
- – O processo também pode ser feito com água sanitária em peças escuras. Funciona muito bem no preto ou no jeans bem escuro. Comece com meio copo de água sanitária para dois de água e vá aumentando a quantidade de reagente aos poucos caso queira desbotar ainda mais a peça. Esse é um processo mais demorado. Você vai observando e testando o que funciona.
- – A dica final de Célio para quem está começando é apostar nestas tintas, que são fáceis de encontrar em supermercados e também online.
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