Do macro ao míni, veja as principais tendências do inverno 2023

Simplicidade, austeridade, um quê de anos 1950 e bastante intimidade são alguns dos temas que apareceram nos desfiles de moda que podem influenciar a maneira como nos vestimos nos próximos meses.


Modelo no desfile de inverno 2023 da Miu Miu, na Paris Fashion Week.
Miu Miu. Foto: Getty Images



Depois de um mês de desfiles entre Nova York, Londres, Milão, Paris e uma paradinha em Los Angeles (alô, Versace), já temos material suficiente para definir quais são as principais tendências de moda da temporada internacional de inverno 2023. Temas como funcionalidade, intimidade e simplicidade dominaram as  mais recentes coleções tanto na atmosfera das apresentações como nos materiais – lã, algodão, couro e seda são os tecidos do momento, de preferência com aparência de roupa para o dia a dia. Também há um aceno ao passado, mais precisamente à década de 1950 e ao pós-guerra. Ah, e os anos 2000, estética que já vem de outras estações, continuam forte nas passarelas.

A seguir, destrinchamos as cinco macrotendências do inverno 2023 internacional.

Simplicidade, praticidade e funcionalidade

“Estou pensando muito sobre o que está acontecendo ao nosso redor”, disse Miuccia Prada ao The New York Times, após o desfile da Miu Miu, em Paris – o desfile foi no mesmo dia de uma das maiores greves trabalhistas na França em protesto à mais recente reforma nas aposentadorias. “Não posso deixar a moda num lugar sem sentido. Temos que nos vestir para pensar, para fazer as coisas e assim por diante”, completou a estilista.

A signora Prada não está sozinha. De uma maneira geral, as coleções mostram mais rigor no vestir, como uma espécie de bravura silenciosa, protetora e prática ao mesmo tempo. As ombreiras agigantadas da Saint Laurent e Luar, por exemplo, remetem a armaduras urbanas, enquanto a alfaiataria de Stella McCartney, Sacai e Proenza Schouler são simples e elegantes, tipo pau para toda obra.

Nessa onda, um bom casaco longo jamais te deixará na mão num dia frio. Enquanto isso, os capuzes saem do lugar comum para arrematar vestidos de festa, protegendo até nos momentos mais glam.

As cores são sóbrias, com cinza, preto e branco em destaque. Tons fáceis de combinar, para quem está sem tempo ou paciência para elaborar grandes produções.

Entre os acessórios, as maxibolsas estão de volta, com espaço suficiente para guardar até um capacete ou outro item que possa ajudar com as incertezas dos tempos atuais.

As botas são igualmente grandes e potentes, com opções para guerreiras de diferentes estilos – das fetichistas às funcionais –, e versões extralongas que quase se fundem às calças.

Menos é mais

As coleções revelam um cansaço da moda caça-clique e propõem mais foco na pureza das roupas, como na Saint Laurent, onde o diretor criativo Anthony Vaccarello parece concentrado em reduzir cada nova estação a uma peça que considera essencial – dessa vez, foi a jaqueta.

Vaccarello também explora a alfaiataria quase sempre reinventando o Le Smoking, criado pelo próprio Yves Saint Laurent, em ternos escuros, bombers e casacos de couro. Na Dior, saias pretas, camisas de algodão brancas e ternos xadrez reforçam a ideia de que a simplicidade pode ser mais interessante do que o excesso de costuras e enfeites. Ah, era tudo levíssimo e com estruturas nada rígidas.

Em outros momentos, há redução nas barras das roupas, com muitos minivestidos e microssaias cruzando as passarelas – alguns compensados por mangas compridas. Até os tecidos foram subtraídos nos recortes, nas fendas e aberturas, como mostraram Christopher Kane e David Koma.

Tops também foram reduzidos, muitas vezes a uma única tira ou um minúsculo biquíni, como o de pedrarias da Gucci, que só cobre os mamilos.

Os vestidos não ficam de fora da equação minimal. Em diversas coleções, as alças foram excluídas, deixando colo e ombros à mostra. No desfile da Alexander McQueen e Louis Vuitton, os shapes pontudos ressaltam o decote sem recorrer a métodos rebuscados. Já na Loewe, Jonathan Anderson coloca uma esfera dourada no decote do vestido, dando a ideia de um simples lençol pendurado no corpo.

Nos acessórios, a redução é nas bolsas, com destaque para os modelos de alça única. Tory Burch, Hermès e Versace são algumas das marcas que apostam na simplicidade dos complementos em suas coleções.

Anos 1950 e pós-guerra

O conflito entre Rússia e Ucrânia, a inflação que não baixa nunca e outras incertezas políticas colocaram alguns estilistas em um clima sombrio, fazendo-os viajar no tempo de volta ao período pós-guerra dos anos 1950. Olivier Rousteing é um deles. No desfile da Balmain, ele resgatou criações da década em que Pierre Balmain, fundador da maison, se tornou um dos principais nomes da moda francesa, graças a suas roupas glamourosas e ricas em detalhes – um contraponto de exuberância aos horrores e escassez da ocupação nazista.

A cintura bem marcada é um dos elementos-chave do visual 50s, mas não aquela perpetuada por Hollywood ou a do New Look estruturado de Christian Dior. Estamos num mundo diferente e a liderança criativa da própria maison – no caso, Maria Grazia Chiuri – sabe disso. A sua visão dos anos 1950 é desestruturada, com formas mais suaves e distantes dos espartilhos sufocantes de outrora.

O clima de austeridade sombria também paira sobre looks de vibe gótica, como os da Erdem, Simone Rocha e Yohji Yamamoto. Pense em mangas e golas bufantes, muito preto, comprimentos longos e sobreposições.

Apesar da abundância de preto, branco e cinza na temporada, os tons pastel foram bastante explorados em vestidos de design limpo, nos casacos e na alfaiataria. Ainda assim, a imagem é mais adulta e elegante do que adocicada.

Nos sapatos, o tom também é de menos frivolidade e mais simplicidade, com muitos modelos clássicos, como sandálias de tira, mules de bico fino e scarpins, a maioria preto. Mas ainda há uma pitada de exuberância, a exemplo da Balmain e seus acessórios decorados com cristais.

Intimidade e toque

Além da valorização do toque e das manualidades, há um olhar mais profundo para a roupa em si. Marcas como Loewe, Bottega Veneta e Prada viram uma oportunidade de explorar a peça como algo funcional, capaz de solucionar problemas, servir a um propósito ou simplesmente fazer a vida mais fácil.

Nas coleções, isso aparece em criações mais genuínas e menos repetitivas, como o suéter adesivo e descartável de Jonathan Anderson para a Loewe, num comentário material sobre o luxo massificado e o desperdício. Os vestidos de seda do desfile também trazem um senso de intimidade, como se tivessem saído direto do quarto – e da cama – para a passarela.

Num desdobramento dessa ideia íntima, o corpo feminino se torna uma escultura sobre a qual diversos estilistas exercitam a maestria do drapeado. A técnica moldou uma série de vestidos nesta temporada. Vai de versões deslumbrantes, como as da Paco Rabanne, às mais urbanas e estruturadas.

Alguns materiais vêm para aguçar os sentidos, como o couro e as pelúcias. O primeiro é utilizado em looks totais, como o conjuntinho vermelho da Prada. A outra aparece em casacos, às vezes beirando o exagero, como na coleção da italiana Andreadamo.

Roupa com história

Malhas e tricôs são comuns no inverno e na próxima estação não será diferente. O que muda é o processo, mais inovador e criativo. Fios levíssimos, tecidos quase transparentes, acabamentos tridimensionais e o uso da trama em vestidos longos estão entre as novidades da vez.

A ideia é passar uma imagem de conforto e familiaridade sem ser chato. O mix de tecidos e estampas também é empregado para reforçar o aspecto vintage, como se as roupas fossem resultado de um garimpo minucioso ou de customização de itens de gerações passadas. Pense em peças carregadas de identidade, tudo junto e ao mesmo tempo.

O melhor exemplo é a Bottega Veneta. Os 81 looks desfilados quase não conversam entre si, são parte de uma experiência definida pelo diretor criativo Matthieu Blazy como “um carnaval onde não há hierarquia”. Ainda no bloco das diferentonas, vale destacar a Louis Vuitton e Dries Van Noten, ambas impecáveis na mistura de materiais.

Por fim, mas não menos importante, a nostalgia dos anos 2000 permanece inabalável. Com isso, ficam as cinturas baixas – o desfile da Diesel é um ótimo exemplo –, peças cargo e looks jeans total. A principal mudança está na cartela de cores: saem produções multicoloridas, entram tons terrosos e pretos, com alguns respingos fluo ou um brilho aqui e ali.

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