Supreme, Kamala Harris e GucciFest

Neste episódio, a gente conta a história da Supreme, uma das maiores marcas de streetwear do mundo, que acaba de ser vendida por mais de US$ 2,1 bilhões de dólares.


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  • A VF Corp, companhia norte-americana detentora de etiquetas como Vans, Timberland e The North Face, adquiriu a Supreme no dia 9 de novembro;
  • De uma pequena loja no centro de Nova York a uma casa que assina parceria com a Louis Vuitton: a história da Supreme;

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A história da Supreme

A Supreme, uma das maiores marcas de streetwear do mundo, foi vendida por U$ 2,1 bilhões de dólares em um acordo com o grupo de moda VF Corp. Neste episódio, a gente explica um pouco essa negociação e aproveita para contar a história dessa grife que já foi chamada de a Chanel das ruas.

Eu sou a Patricia Oyama. E eu sou o Gabriel Monteiro. E você está ouvindo o Pivô, podcast que reúne as principais notícias de moda da semana comentadas pela equipe da ELLE Brasil.

A VF Corp, companhia norte-americana detentora de etiquetas como Vans, Timberland e The North Face, comprou a Supreme por US$ 2,1 bilhões de dólares, em um acordo que foi divulgado na última segunda-feira, dia 9 de novembro. Com a aquisição, a VF Corp entra de cabeça no mercado de streetwear, que hoje está avaliado em cerca de U$ 50 bilhões de dólares.

Bem, para quem dizia que o streetwear morreu, está aí uma prova de que ele anda mais vivo do que nunca. Inclusive, bastante lucrativo, porque o setor teve fôlego até mesmo dentro do contexto de crise gerado pela pandemia. A Supreme, por exemplo, tem 12 lojas espalhadas pela América do Norte, Europa e Japão, mas cerca de 60% de suas vendas acontecem online. Essa presença forte no digital deu não só resistência pra marca aguentar 2020, como também fez com que ela mantivesse um crescimento elevado, com um forte fluxo de caixa.

Não à toa a compra da VF Corp é feita com um objetivo pretensioso: dobrar as vendas anuais da marca e chegar à margem de U$ 1 bilhão de dólares por ano. E a companhia acredita que não levará muito tempo pra atingir essa meta. A expectativa é de que em 4 anos o crescimento do negócio seja de 100%. Nessa transição, James Jebbia, fundador da Supreme, bem como toda a equipe de liderança da marca, devem seguir no comando criativo da empresa.

E, uma vez que a Supreme foi o assunto da semana no mundo da moda, a gente aproveita a oportunidade pra contar rapidamente a história da marca. Ela começa com esse sujeito aí, o discretíssimo James Jebbia, fundador da grife. Filho de mãe britânica e pai americano, Jebbia nasceu nos Estados Unidos mas se mudou para a Grã Bretanha com pouco mais de um ano. Aos 19, no entanto, ele voltou para Nova York, no comecinho dos anos oitenta.

O seu primeiro trabalho nos Estados Unidos foi na loja de roupas Parachute, localizada no SoHo. E o primeiro empreendimento de moda foi com a criação de uma butique, a Union NYC, em 1989, com marcas mais experimentais e esportivas inglesas. Mas foi entre 1991 e 1994 que ele começou a colaborar com um dos grande veteranos do streetwear, nome que impulsionaria a criação de seu próprio império. Tratava-se do californiano Shawn Stüssy, o criador da grife homônima Stussy, uma marca que nasceu na cultura do surfe, mas que, em pouco tempo, foi adotada por skatistas e toda uma comunidade jovem urbana.

E é em 1994, dentro de uma pequena loja, na Lafayette Street, no centro de Nova York que James Jebbia deu início a essa marca independente, a Supreme. Uma união entre moda, cultura jovem, principalmente a conectada com o universo do skate, foi o que construiu o seu DNA. No início, a casa contava com a série tradicional de streetwear, como os sneakers, as camisetas, os moletons e os acessórios de skateboard.

Com o passar do tempo, várias colaborações foram surgindo e deram origem a toda sorte de objetos possíveis e exclusivos. E entram nessa série de objetos bicicleta, livro, isqueiro e até mesmo biscoito, tudo com o logo da casa, que é inspirado na arte de Barbara Kruger. Um dos grandes produtos da Supreme também foi o seu calendário, clicado por grandes nomes da fotografia, como Larry Clark — sim, o diretor do emblemático filme Kids, onde a Supreme inclusive ficou imortalizada nos looks dos personagens.

O que acontece é que a Supreme se tornou muito mais do que uma marca de roupas. Ela cresceu, criou raízes, uma comunidade e virou um símbolo de contracultura nos anos 90, com jovens bem ligados à rua usando a sua tag. Isso explica em parte porque hoje a grife não tem apenas clientes e fãs, mas também pessoas que a cultuam, a veneram.

E quais os ingredientes dessa receita de sucesso? Bem, o principal deles é a edição limitada, ou drop, uma palavra que ficou conhecida na indústria da moda muito por influência da casa. Um drop não necessariamente está conectado com a temporada de inverno ou de verão, mas, sim, com uma periodicidade mais curta, em várias séries que apresentam produtos super limitados.

E essa é uma das características mais inteligentes do negócio, porque o seu valor não está no material usado, no artesanato ou no trabalho envolvido. O preço dos produtos é até acessível no lançamento, mas as peças são tão exclusivas que acabam sendo tratadas como objetos colecionáveis.

Isso, por sua vez, faz gerar táticas como o resale, por exemplo. Um mercado de venda ativo, que dá grana pra quem pega fila, vira um desses clientes VIP e adquire uma peça Supreme, mas também alimenta o capital de desejo em torno da marca.

Outro ingrediente importantíssimo para esse sucesso foi a sacada das colaborações. Se hoje elas são muito mais constantes entre marcas de moda, a grife foi uma das pioneiras nas parcerias. E essa lista é, assim, invejável. Na seara da moda, a Supreme já assinou colaborações com Louis Vuitton, Comme des Garçons, Undercover, Levi’s, Nike e Vans. No universo das artes plásticas, já criou em conjunto com Damien Hirst, Takashi Murakami e Richard Prince. E, entre artistas e bandas, foi de The Clash, passou por Black Sabbath e chegou até mesmo à Lady Gaga. Isso, só para citar alguns.

E tudo isso foi feito, avaliam especialistas, com um equilíbrio de mestre entre o cool e o sucesso corporativo: é raro encontrar uma marca de streetwear que continue cultuada pelo seu público quando cresce muito no mercado. Claro que, ao longo desses 26 anos, desgastes aconteceram, principalmente com gente questionando o namoro com o luxo e o distanciamento da rua.

A aquisição que vem justamente com o objetivo de ampliar ainda mais o negócio esquenta essa dúvida: a etiqueta conseguirá manter a sua relevância e a sua conversa direta com uma comunidade que prioriza muito mais o independente do que o mainstream? Bem, isso só o tempo dirá. Mas, alguns avaliam que o fato de ela ter sido vendida para uma companhia discreta como a VF, e não uma tão suntuosa como o grupo LVMH, torna o casamento mais aceitável.

De acordo com Scott Roe, chefe executivo de finanças da VF Corp “o crescimento natural e cuidadoso da Supreme foi muito bom para a marca até agora, e não há vontade da companhia em forçar isso”. De toda maneira, uma certa ampliação da Supreme, impulsionada por essa compra, pode acarretar em uma casa um pouco mais acessível, o que provocaria um movimento bastante curioso e raro: uma marca que de certa maneira volta às origens, trocando um pouco o caráter elitista de item de luxo, por mais conexão com as ruas.

GUCCI FEST

Começa hoje, dia 16, o GucciFest, o festival digital em que a Gucci vai apresentar sua nova coleção, batizada de Ouverture of Something that Never Ended, ou Abertura de alguma coisa que nunca terminou. A grife italiana já havia anunciado em maio que deixaria de seguir o calendário oficial da moda e, em vez de participar de fashion weeks, iria criar capítulos de uma nova história.

E nessa nova forma de comunicação com o público, a Gucci não vem nada básica. Em vez de um desfile, a coleção vai ser apresentada no formato de filme, dividido em sete episódios, apresentados ao longo desta semana. A direção ficou a cargo do cineasta Gus Van Sant, conhecido por filmes como Drugstore Cowboy, Milk e Garotos de Programa, em parceria com o diretor criativo da grife Alessandro Michele.

A atriz e performer Silvia Calderoni protagoniza os episódios, em que circula por Roma encontrando diversos amigos. E essa lista de amigos é pra lá de hypada. Tem as cantoras Billie Eilish e Florence Welsh, o cantor Harry Styles, o ator Jeremy O. Harris e a coreógrafa Sasha Waltz, só pra citar alguns nomes.

Além disso, o festival vai ter outros filmes que vão celebrar o trabalho de quinze estilistas independentes selecionados por Michele, entre eles, Mowalola, Gareth Wrighton e Shanel Campbell. Você pode conferir as atrações do festival pelo site do evento Guccifest.com e pelo canal da grife no YouTube.

O ESTILO DE KAMALA HARRIS

“But while I may be the first woman in this office, I won’t be the last. Because every little girl watching tonight sees that this is a country of possibilities.” Esse foi um dos trechos mais aplaudidos do discurso de vitória de Kamala Harris, em que ela diz que, embora seja a primeira mulher eleita pro cargo de vice-presidente dos Estados Unidos, ela não será a última.

A eleição da chapa Biden-Harris só vai ser oficializada no dia 14 de dezembro, após a votação do colégio eleitoral americano. Até o fechamento deste episódio, o presidente Donald Trump continua se recusando a aceitar a vitória de Joe Biden, mas não dá para negar: Kamala Harris fez história, como cravaram as manchetes dos principais veículos de comunicação no mundo.

Além de ser a primeira mulher, Kamala também será a primeira pessoa negra e a primeira pessoa com ascendência sul-asiática a ocupar a vice-presidência daquele país. Mas essa história de ser a primeira não é novidade pra ela.

Filha de mãe indiana e pai jamaicano, formada em Direito, Kamala foi a primeira promotora distrital negra da Califórnia. Em 2010, tornou-se a primeira mulher negra a ocupar o cargo de Procuradora-Geral do Estado. Em 2016, ela quebrou barreiras mais uma vez e foi a primeira mulher de origem asiática a ganhar uma cadeira no Senado.

Agora, como vice-presidente eleita, todos os olhos se voltam pra ela. E, como moda é uma forma de comunicação, nenhum look de Kamala passa despercebido. Durante a campanha, o uniforme da candidata foi, basicamente, uma combinação de calça skinny, camiseta, blazer e tênis, mais especificamente, o modelo Chuck Taylor All Stars, da Converse. O visual despojado ajudou a aproximar a democrata do eleitorado mais jovem, assim como os vídeos em que ela aparecia dançando, que viralizaram na internet.

No discurso de vitória, a senadora subiu ao palco toda de branco, num terno assinado por Carolina Herrera. A escolha não foi aleatória. Era uma referência à cor usada em manifestações do movimento sufragista nas primeiras décadas do século 20.

Outra peça cheia de simbolismo foi a blusa de seda usada por baixo do paletó. O modelo, com um laço na gola, foi muito popular entre as executivas abrindo espaço no mercado de trabalho nos anos 70 e 80. Era também uma das escolhas favoritas no guarda-roupa da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher.

Mas a blusa com laço usada por Kamala também foi interpretada por muita gente como uma cutucada em Donald Trump. A gente explica. Em inglês, esse modelo é conhecido como pussy bow blouse, ou, traduzindo, blusa com laço de gatinho. Acontece que pussy também é uma gíria para vagina, e esse foi um termo usado por Trump em um áudio vazado em 2016. Em uma conversa com conteúdo extremamente machista, pra dizer o mínimo, Trump aconselhava alguém a agarrar as mulheres pela vagina, ou grab them by the pussy. Dias depois do vazamento, Melania Trump apareceu em um debate vestindo uma pussy bow blouse, o que botou mais fogo na polêmica.

Agora, a blusa com laço marca a vitória de Kamala Harris e Joe Biden sobre Trump. E, como observou a colunista de moda do New York Times Vanessa Friedman, o look da vice-presidente não vai ser esquecido tão cedo. “A questão era que vestir aquelas roupas – fazer aquelas escolhas – numa noite em que o mundo estava assistindo, em um momento que seria congelado para sempre, não era moda. Era política. Era para a posteridade.”

O ACORDO ENTRE FARFETCH, ALIBABA E RICHEMOND

E o mercado de luxo continua a todo vapor na China. Anunciada na semana passada, uma aliança entre gigantes promete mudar o panorama do comércio online no país asiático. O grupo Richemond e a poderosa Alibaba anunciaram um investimento conjunto de 600 milhões de dólares na Farfetch e mais 500 milhões de dólares na recém-criada joint venture Farfetch China.

O objetivo dessa injeção de ânimos na plataforma é acelerar a digitalização do mercado de luxo na China, que cresce cada vez mais. Como os consumidores chineses tiveram de suspender as viagens por causa da pandemia de Covid-19, as vendas dentro do país passaram a ser de fundamental importância pras grifes internacionais.

Só pra situar quem é quem nessa história: a Farfetch é a plataforma online voltada para o varejo de luxo na moda, sediada em Londres e que foi fundada pelo português José Neves.

A Richemond é o grupo suíço que reúne várias grifes, principalmente de joalheria, como a Cartier, a Van Cleef & Arpels, além de marcas como Chloé e Montblanc.

Já a Alibaba é a gigante chinesa do comércio online, que tem mais de 1 bilhão de usuários ativos em suas plataformas e vende absolutamente de tudo. Mas os produtos de luxo comercializados pela Alibaba ficam bem separados nas plataformas Tmall Luxury Pavilion, disponível somente na China, e na Tmall Global. É nessas plataformas que a Farfetch vai lançar seus canais de venda.

Além da bolada da Richemond e da Alibaba, a Farfetch recebeu ainda um investimento adicional de 50 milhões de dólares da Artemis, a holding que controla o grupo Kering, que, por sua vez, é detentor de marcas como Gucci, Balenciaga e Saint Laurent.

Pois é, ninguém que ficar de fora desse boom do comércio online de luxo na China. Afinal, espaço é o que não falta pra crescer no setor. Segundo dados divulgados pelo vice-presidente do Alibaba Group, Mike Hu, durante um evento em Shangai em setembro, apenas 3% das vendas de produtos de luxo na China são realizadas online atualmente. Mas, em alguns anos, esse percentual pode atingir 15% estima ele.

E a nossa dica da semana é o documentário sobre o músico, poeta e escritor Arnaldo Antunes, que estreou recentemente na Globoplay. A produção marca o aniversário de 60 anos do artista e foi dirigida por Ricardo Calil, Gian Carlo Bellotti e Fellipe Awi. O Ricardo Calil é também co-diretor do documentário Narciso de Férias, sobre Caetano Veloso. Mas quem vai contar um pouco sobre esse novo trabalho é o próprio Arnaldo Antunes, que dá um alô aqui pros nossos ouvintes:

    “Oi, gente! Aqui é Arnaldo Antunes, falando pro podcast da Elle. E a dica que eu tenho pra dar é o documentário Arnaldo, Sessenta, que estreou recentemente na Globo Play. É um documentário, enfim, pra mim é um presente de aniversário, nessa minha chegada à terceira idade, no ano em que eu faço 60 anos. Mas é um documentário que envolve uma entrevista grande, vários números musicais e também muitas cenas de arquivo, coisas antigas que eu me surpreendi muito vendo, e muito bem editado, muito bem feito. Eu fiquei muito contente com o resultado. Foi gravado lá no Sesc Pompeia, que é um lugar pra mim muito importante, foi onde eu estreei, fiz o primeiro show junto com os Titãs, e onde eu gravei mais recentemente a live do Real Ao Vivo, que é o novo show que a gente está esperando pra fazer ao vivo, por enquanto já tem a live. Então, eu recomendo pra vocês assistirem, está disponível lá na Globo Play: Arnaldo, Sessenta. Um beijo pra todos!”

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