Inhotim inaugura 3 exposições de longa duração

Videoinstalação imersiva de Pipilotti Rist, individual de Rivane Neuenschwander e obra de grandes proporções em lago da propriedade são novas atrações do museu.


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Obra Homo sapiens sapiens (2005), de Pipilotti Rist. Foto: Ícaro Moreno



Passados 18 anos da inauguração, a lista de motivos para conhecer – ou revisitar – o Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), só cresce. No último sábado (19.10), o maior museu a céu aberto da América Latina abriu três novas exposições de longa duração: a instalação escultórica Apenas depois da chuva, de Rebeca Carapiá; a mostra individual Tangolomango, de Rivane Neuenschwander; e a videoinstalação imersiva Homo sapiens sapiens, de Pipilotti Rist.

“São projetos muito diferentes, de artistas com trajetórias diferentes, com pesquisas distintas, mas que endereçam alguns conceitos que são muito caros ao nosso trabalho aqui”, diz Júlia Rebouças, diretora artística do museu. Entre esses conceitos, ela cita a reunião da arte com a natureza, a invenção de linguagens e o desejo de debater questões políticas, do nosso tempo, a partir de uma perspectiva subjetiva.

Comissionada pelo Inhotim, a obra Apenas depois da chuva (2024) ocupa um dos lagos da propriedade com 20 peças de ferro, medindo cerca de cinco metros cada uma.

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Instalação Apenas depois da chuva (2024), de Rebeca Carapiá. Foto: Ícaro Moreno

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As estruturas que emergem da água foram produzidas na serralheria da própria instituição, coordenada por Gabriel Silva Santiago, a partir de desenhos criados por Rebeca Carapiá após um trabalho de pesquisa na Serra da Capivara, parque do Piauí famoso por suas pinturas rupestres. “É uma obra que traz a memória da água”, fala Beatriz Lemos, que assina a curadoria da instalação juntamente com Deri Andrade, curador assistente. Essas memórias perpassam tanto as vivências da artista, nascida em Salvador e criada na Cidade Baixa, lugar que sofre com enchentes e alagamentos, quanto as marcas que a passagem da água deixou em locais hoje semi-áridos.

No Inhotim, o cenário ao redor complementa a obra com o brilho das ondulações que o vento faz na água e com folhas e sementes que caem rodopiando sobre a sua superfície. “É uma instalação interessante de se ver caminhando, porque ela vai se transformando”, diz Rebeca.

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Detalhe da obra de Rebeca Carapiá, no lago True Rouge. Foto: Ícaro Moreno

O lago True Rouge, onde estão as esculturas de ferro, fica justamente em frente à Galeria Mata, onde foi montada a individual Tangolomango (2024), de Rivane Neuenschwander. Mineira de Belo Horizonte, a artista tem uma longa ligação com o Inhotim. Sua obra Continente/Nuvem (2008) ocupa uma das construções mais antigas da região, uma casinha de 1874 com placas translúcidas no teto por onde se veem 13 quilos de bolinhas de isopor, que se deslocam com a ventilação, simulando o movimento de nuvens.

Na mostra recém-inaugurada, com curadoria de Júlia Rebouças e dos curadores coordenadores Beatriz Lemos e Douglas Freitas, foram selecionados trabalhos de diferentes momentos da carreira de Rivane, com formatos variados. O Alienista (2019), por exemplo, traz bonecos de papel machê, tecido e outros materiais que representam personagens do conto de mesmo nome de Machado de Assis, transportados para o contexto atual.

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Bonecos da obra O Alienista (2019), de Rivane Neuenschwander. Foto: Ícaro Moreno

Em V.G.T. (Ame-o ou deixe-o) (2023), a artista usou um painel split-flap (daquele tipo que se vê nos aeroportos, em que um mecanismo giratório vai trocando as letras rapidamente) para formar anagramas com o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, criado durante a ditadura militar. 

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Já a pesquisa da mineira em torno dos medos infantis se traduz na videoinstalação Cabra-Cega (2016), feita a partir de desenhos elaborados por uma criança, e na instalação interativa Alegoria do medo (Inhotim) (2018-24), que convida os visitantes a criar imagens manipulando lâminas com cores e desenhos em projetores. 

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Parte da obra Alegoria do Medo (2018), de Rivane Neuenschwander. Foto: Ícaro Moreno

Por fim, a terceira novidade no Inhotim proporciona instantes de deleite onírico para o público. Instalada na Galeria Fonte, a obra imersiva Homo sapiens sapiens (2005), da suíça Pipilotti Rist, exibe imagens caleidoscópicas no teto, em que a dançarina Ewelina Guzik, nua, se entrega e se integra a um jardim idílico, ao som de uma trilha envolvente assinada também por Pipilotti, em parceria com Anders Guggisberg. O que torna a obra ainda mais interessante é que ela foi filmada no próprio Inhotim há 20 anos, quando o museu ainda estava sendo concebido. Nessa fase, artistas de várias partes do mundo foram convidados a visitar o lugar e pensar no que poderiam criar lá. 

Homo sapiens sapiens estreou na Bienal de Veneza, em 2005, e nunca havia sido exibido no Inhotim. Para a montagem da obra, que teve curadoria de Douglas de Freitas, curador coordenador, e Lucas Menezes, curador assistente, a Galeria Fonte ganhou vitrais coloridos (uma adaptação da obra Seelenlichter [Soul Lights], de 2021, da mesma artista), que fazem a transição do exterior para o interior, além de tapetes felpudos, almofadas e pufes, complementando a experiência sensorial.

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Entrada da Galeria Fonte, com a instalação Seelenlichter (Soul Lights), de 2021, de Pipilotti Rist. Foto: Ícaro Moreno

Sem sapatos, relaxando confortavelmente entre almofadas no tapete macio, dá vontade de passar o resto do dia viajando nas cenas hipnotizantes projetadas no teto. Resista à tentação e levante-se para explorar o Inhotim: são 140 hectares de área expositiva, numa combinação de arte e natureza única no mundo. O jardim dos sonhos de Pipilotti Rist existe de verdade.

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Público assiste a Homo sapiens sapiens (2005), de Pipilotti Rist, na pré-inauguração da exposição. Foto: Ícaro Moreno

Instituto Inhotim: Rua B, Povoado Inhotim, Conceição do Itaguá, 20, Brumadinho, Minas Gerais.
As exposições Tangolomango, de Rivane Neuenschwander, e Homo sapiens sapiens, de Pipilotti Rist, ficam em cartaz até 2026. A obra Apenas depois da chuva, de Rebeca Carapiá permanece em exibição por tempo indeterminado.
De quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30 (nos meses de janeiro e julho, aberto também às terças-feiras).
Entrada: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Para informações sobre gratuitade, acesse: https://www.inhotim.org.br/inhotim_gratuito/.

Patricia Oyama viajou a Brumadinho a convite do Instituto Inhotim.

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