O que é o brutalismo? Conheça edifícios icônicos no Brasil
Edifícios do Masp e do MAM no Rio de Janeiro são exemplares famosos do brutalismo no país.

Protagonizado pelo ator Adrien Brody, o filme O Brutalista estreou nos cinemas brasileiros na última semana, apresentando traços e referências do brutalismo, movimento arquitetônico iniciado após a Segunda Guerra Mundial. Dirigido por Brady Corbet, o longa-metragem conta a história do arquiteto húngaro fictício László Tóth, sobrevivente do Holocausto, que migra para os Estados Unidos atrás de um recomeço. O personagem, segundo o diretor, foi inspirado em nomes como Marcel Breuer, Louis Kahn e Mies van der Rohe. Embora o filme não seja sobre o movimento brutalista, as referências acompanham a trajetória do personagem principal.
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O que é o movimento brutalista?
O brutalismo é um movimento instigado por todos os horrores da Segunda Guerra, explica Monica Junqueira de Camargo, professora livre docente do Departamento de História da Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP).
É sobre uma arquitetura despida de elementos decorativos, famosa pelo uso de concreto aparente, sem revestimentos. “Explora a textura do concreto, dos materiais. É um movimento que volta a arquitetura à sua essência. Quanto menos material usar, quanto menos elementos decorativos tiver, mais belo é o edifício”, explica.
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Outro aspecto fundamental é a revelação dos elementos estruturais das construções. “A solução estrutural, muitas vezes, é escondida, não fica aparente. O brutalismo a revela. Ela determina a composição plástica”, prossegue a professora.
“O brutalismo está ligado a esse movimento, digamos assim, de reivindicação de uma autonomia da arquitetura em relação ao mercado da construção, de uma radicalidade, de uma dimensão mais artística”, explica o professor Felipe Contier, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Esses prédios chamam a atenção como obras de arte, como monumentos, como símbolos”.
“Nós hoje, no Mackenzie, trabalhamos com a ideia de que uma questão mais fundamental que o concreto aparente é o protagonismo da estrutura. Ela adquire um caráter protagonista do ponto de vista formal. São estruturas, digamos, escultóricas. Tudo é aparente”, disse.
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Edifícios brutalistas no Brasil
No Brasil, o movimento tem, entre os expoentes, nomes como Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Affonso Eduardo Reidy. Esse último, inclusive, é autor de um dos projetos mais famosos, o Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, com obras iniciadas em 1954. “O Reidy foi casado com Carmen Portinho, engenheira estrutural e, com ajuda dela, projetou alguns dos primeiros edifícios com protagonismo na estrutura”, disse Contier.
Masp, projeto de Lina Bo Bardi. Foto: Eduardo Ortega
Há ainda o Masp, projeto de Lina, inaugurado em 1968. “O que ele é? Uma solução estrutural. Aqueles pórticos que sustentam a caixa de vidro, que é o museu, são uma solução estrutural”, explica Monica Junqueira. Outro modelo reverenciado é a sede da FAU-USP, na Cidade Universitária, de João Batista Vilanova Artigas.
“Quando veio esse momento de refletir sobre as questões arquitetônicas no pós-Segunda Guerra, a ideia de usar solução estrutural como definidora encaixou muito com a arquitetura paulista”, disse a professora. “Todos os nossos arquitetos, desde o (Gregori) Warchavchik, começaram a trabalhar com construtoras. Oswaldo Bratke, Vilanova Artigas, Eduardo Kneese de Mello. Todos eles tinham construtoras. Depois dos anos 50, eles passam a se dedicar apenas a escritórios de projeto. Esse vínculo com a construção favoreceu muito o fortalecimento da linha brutalista na arquitetura paulista”, defende.
Sede da FAU-USP, projeto de Vilanova Artigas. Foto: Ana Carolina Coelho / Divulgação
O arquiteto Paulo Mendes da Rocha também ganhou notoriedade pelos seus edifícios brutalistas. Como exemplo, há o Clube Atlético Paulistano, de 1958, e o Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia, de 1988. “Ele é parte de um conjunto muito amplo e foi muito inovador também. As primeiras soluções estruturais, do ginásio do Paulistano, que ele ganhou em um concurso quase recém-formado, foram muito inovadoras. De fato, foi um arquiteto muito importante deste movimento”, confirma Monica.
Imagens do Clube Atlético Paulistano, com projeto de Paulo Mendes da Rocha e João De Gennaro. Foto: José Moscardi / Reprodução / Pritzkerprize.com
De acordo com Contier, entre os clubes em São Paulo, há exemplos também como o Harmonia, com projeto do arquiteto Fábio Penteado; o Anhembi, de Vilanova Artigas, e o Paineiras do Morumby, de Carlos Millan. “Nós temos no Brasil uma arquitetura brutalista bastante variada, com grande número de autores e obras, principalmente em São Paulo”, disse.
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