O tactel está de volta como se nunca tivesse ido embora
Depois do ressurgimento de variadas relíquias nostálgicas, chegou a vez do material. E lembre-se: quanto mais larga a peça for, melhor.
No fim da década de 1980, antes da quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1987, o mundo parecia ficar cada vez mais rico. Ou, pelo menos, era isso que alguns guarda-roupas coletivos indicavam. É só lembrar da teatralidade de Christian Lacroix, da assinatura escultural de Azzedine Alaia e dos ombros angulosos de Thierry Mugler, em desfiles longuíssimos. Marcados por silhuetas dramáticas, cores saturadas e designs superplastificados, os anos 1980 seriam considerados os mais ousados – ou exagerados – na história da moda moderna.
Quando se trata de expressões de moda, no entanto, a passarela nem sempre é a única fonte de criação. Enquanto os principais designers se empenhavam em construir uma imagem quase engenhosa, os movimentos de rua clamavam por funcionalidade. Caso em questão: um número crescente de dançarinos de break e rappers, como MC Hammer e Vanilla Ice, popularizavam o controverso tactel.
Embora tenha se tornado popularmente conhecido como um tecido, antes disso, o tactel é, na verdade, uma marca criada pela corporação DuPont. Acabou entrando para a lista de empresas que viraram sinônimos de produtos, assim como aconteceu com a Rimmel, Gillette e Cotonetes. O material é composto por nylon e fios texturizados com ar, marcando uma direção química para a indústria têxtil da época.
Grupo TLC no Kids Choice Awards, em 1999.Getty Images
Entre os anos 1980 e 2000, as calças e saias de tactel se tornaram um elemento de estilo permanente. Os dançarinos costumavam priorizar o material pela sua capacidade de suportar o contato com o chão e diminuir o atrito. As redes varejistas o adoravam, vendendo por não mais que vinte dólares. As estrelas do pop o escolhiam para fugir dos paparazzis e, acredite se quiser, às vezes até para aparições em tapetes vermelhos.
Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Alguns podem argumentar que certas tendências permanecem no passado por uma razão, mas é hora de encarar os fatos: o tactel encontrou o seu caminho para os holofotes outra vez. Deveríamos ter previsto o movimento quando a Prada apresentou saias cargos de nylon, em uma referência à silhueta nostálgica do estilo da virada do milênio, na temporada de inverno 2019. Agora, como uma progressão natural, marcas como Dsquared2 e Heron Preston produzem as suas próprias interpretações.
Neste novo momento, uma outra atenção é dada ao processo de feitura do tactel. Lá atrás, ele costumava ser manipulado através de um processo químico agressivo, gerando sérios problemas ambientais. O resultado não era biodegradável. Isso quer dizer que se o nylon fosse jogado em um aterro sanitário ou no oceano, ficaria lá para todo o sempre. Agora, graças a iniciativas como Prada Re-Nylon, que regenera plásticos coletados por meio da reciclagem e purificação, há uma era nova sendo estreada na história do tecido.
Dsquared2, verão 2023 masculino. Foto: Divulgação
Y/Project, inverno 2022 masculino. Foto: Divulgação
Prada, inverno 2019. Foto: Divulgação
E aí, você pode estar se perguntando como seria uma calça de tactel. É uma espécie de calça cargo, de moletom ou baggy? Em suma, a modelagem é, entre diferentes aspectos, uma variação das três. O seu atributo mais reconhecível costuma ser o ajuste extra frouxo nas pernas, afunilando apenas ao redor do tornozelo. Zíperes, nervuras e dobras são adicionadas – nem sempre em nome da função. Nas saias, o valor estético também está no cordão que aperta a cintura, permitindo usá-la alta ou baixa. A profundidade de seus bolsos significa que a bolsa pode ser dispensada.
Se o material se tornou o favorito de todas, de uma Rihanna grávida a uma Bella Hadid rata de Depop, há uma boa razão para isso. O tactel é uma alternativa mais elevada que o moletom, tão durável quanto o jeans e mais funcional que a alfaiataria. Essencialmente, a modelagem das peças é a antítese da skinny e é provável que, por isso, o tecido tenha encontrado o seu caminho de volta. Tão libertadora quanto chocante, uma boa tendência não morre com tal facilidade.
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