Comer com arte: confira restaurantes que juntam gastronomia e cultura

De novos talentos a nomes renomados, casas exibem telas, esculturas e outras obras no salão.


gastronomia e cultura
Madame Olympe, novo restaurante de Claude Troisgros, no Leblon. Foto: DBP Plus



Ao entrar no salão do novo restaurante talk of the town, no Rio, os olhos são imediatamente atraídos para o alto: uma escultura luminosa feita de papel de arroz, criada pelo artista plástico carioca Thomaz Velho, ocupa boa parte do teto do Madame Olympe, casa de Claude Troisgros inaugurada em agosto, no Leblon.

Mais do que decorar o ambiente, a obra de arte carrega valores prioritários para Claude: “Eu gosto de ter arte no salão, pois, além de conferir personalidade a qualquer restaurante, a arte me representa. Na França, a culinária é tratada como ‘arte gastronômica’. Ela integra o grande conjunto que é a arte”, diz ele. 

E ele não está sozinho nessa visão: diversos chefs têm levado obras de arte para o salão, garantindo tempero também ao ambiente – a obra não apenas ocupa o espaço, mas também abre caminhos para novas formas de ver, sentir e degustar. 

Confira outros restaurantes em que você pode curtir sua refeição apreciando também criações de artistas renomados e novos talentos, em um programa que une gastronomia e cultura.

 

São Paulo

Cepa 

Em uma das poucas ruas de paralelepípedo que restaram em Pinheiros, o restaurante comandado pelo chef Lucas Dante e pela sommelière Gabrielli Fleming poderia facilmente ser confundido com uma extensão da 36ª Bienal de São Paulo (em cartaz até o dia 11 de janeiro de 2026).

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Salão do Cepa: uma minibienal. Foto: Giuliana Nogueira

Obras de Maxwell Alexandre, Lidia Lisbôa e Nadia Taquary, nomes presentes na mostra, ocupam o salão composto por mobiliário exclusivo assinado pelo designer Leon Ades e decorado com obras desses e de outros artistas brasileiros. 

Com a mudança do Tatuapé para a Zona Oeste da cidade no ano passado, o Cepa passou a funcionar em um imóvel maior, o que permitiu a realização de antigas ideias de Lucas e Gabrielli, como uma câmara fria para maturação de carnes, uma sala dedicada à confeitaria e uma máquina de sorvete com maior capacidade. A adega climatizada para 300 garrafas também é uma novidade.

Cepa: Praça dos Omaguás, 110, Pinheiros, tel. (11) 2096-0687.

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Laska

Inteiramente inspirado na diáspora e na cultura cigana, o Laska tem espírito multicultural e alma nômade. Na cozinha, essa referência aparece no cardápio que mescla influências da Andaluzia, do Mediterrâneo e dos mundos árabe, cristão e mouro.  

A decoração, desenvolvida em parceria com a cineasta Mônica Simões, segue esse clima, mas também reforça a ligação afetiva da dona, Viviana Gelpi, com a Barra Funda, bairro que ajudou a movimentar anos atrás com o Laskarina Bouboulina. 

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Foto de Dani Tranchesi no Laska. Foto: José Eduardo Moreau

A nova casa, localizada em um galpão histórico, tem paredes descascadas que recebem exposições rotativas. A mostra atual, em cartaz desde a inauguração, em agosto, traz imagens do livro Seja o que Deus Quiser, com fotografias de Dani Tranchesi e crônicas e curadoria do escritor Diógenes Moura. 

Laska: Rua Sergio Meira, 51, Barra Funda.

 

LosDos Cantina

A dupla de chefs Caio Alciati e João Gertel partiu de seu sucesso no antigo LosDos Taqueria para abrir, na Vila Buarque, esta cantina mexicana. Com serviço de mesa e cardápio mais extenso e complexo do que a taqueria, o novo endereço traz os toques autorais que Caio e João já praticavam ao incorporar técnicas e ingredientes brasileiros, asiáticos e sul-americanos, como goiabada, missô ou pimentas bolivianas e chinesas, às receitas tradicionais do México. 

LosDoscantina Credito Lais Acsa

Painel de Vitor Gedha Pescara. Foto: Laís Acsa

No décor, o destaque é o painel criado por Vitor Gedha Pescara, instalado no corredor do salão. O artista, que é também tatuador, criou para o LosDos uma obra em azul e preto que retrata dois homens e uma onça, seguindo a temática que ele denomina de arte tropical.

LosDos Cantina: Rua Dr. Vila Nova, 150, Vila Buarque, tel. (11) 97669-0577.

 

Mila

Numa casa na Rua dos Pinheiros, o casal Renato e Daniela Neves, dono também do Luce, inaugurou há um pouco mais de um ano a osteria Mila, focada em pastas e pizzas, com carta de vinhos fluida e bar que combina coquetelaria clássica italiana com drinks autorais.

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Obra de Ann Muana. Foto: Ana Weber

O projeto arquitetônico proposto pelo estúdio Gurgel D’Alfonso buscou inspiração na Itália de Paolo Sorrentino e Pasolini e nas cores cálidas dos filmes de Pedro Almodóvar. O arremate ficou por conta das obras de Ann Muana, artista nascida em Rennes, na França, pensadas especialmente para completar o ambiente proposto pelo estúdio de arquitetura Gurgel D’Alfonso.

Mila: Rua dos Pinheiros,  570, Pinheiros, tel. (11) 93961-7242.

 

NOU

O traço da ilustradora Maria Eugênia Longo Cabello Campos está em jogos americanos, rótulos de vinho e também nas paredes das duas unidades do NOU – as obras expostas, por sinal, podem ser adquiridas pelos clientes.

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Obras de Maria Eugênia Longo no NOU. Foto: Divulgação

Parceira da casa desde a inauguração, em 2008, Maria Eugênia retrata o burburinho do restaurante de cozinha contemporânea, ingredientes e outras cenas. Com ilustrações feitas para mais de 50 livros para adultos e para crianças, a artista coleciona prêmios no exterior e no Brasil, como o Prêmio Jabuti. 

NOU: Rua Ferreira de Araújo, 419, tel. (11) 2609-6939. | Rua dos Pinheiros, 274, tel. (11) 3064- 0033.

 

Ryo Gastronomia

Não espere por um cenário fixo na casa comandada por Edson Yamashita. No restaurante com uma estrela Michelin, as obras de arte do salão mudam de acordo com o menu degustação da época. 

E essa troca tem um porquê: “O intuito é que o salão acompanhe a mesma cartela de cores do que será servido – outono e inverno costumam ser mais sóbrios, ao passo que primavera e verão são mais solares e coloridos”, conta Yugo Mabe Jr., um dos sócios e curador do restaurante. 

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Gravura de Manabu Mabe. Foto: Divulgação

O processo de curadoria se inicia no momento em que o chef começa a desenvolver os pratos. Atualmente, as obras expostas são assinadas por dois artistas: gravuras de Manabu Mabe e telas Yugo Mabe, respectivamente, avô e pai do curador. Yugo Mabe Jr. costuma usar obras existentes, mas já chegou a encomendar telas específicas ao pai. Todas as obras expostas estão à venda.

Ryo Gastronomia: Rua Pedroso Alvarenga, 66, Itaim Bibi, tel. (11) 96562-4291.

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Rio de Janeiro

 

Braseiro Labuta

Na Rua do Senado, no Centro, o restaurante é frequentado tanto por quem trabalha no bairro quanto por quem se desloca até lá atrás das inúmeras atrações da parte histórica do Rio, entre elas, museus e galerias.

É natural, portanto, que o espaço alie a arte ao lema carioca de que “tudo fica melhor na brasa”, ainda mais considerando que um dos sócios é Raul Mourão, nome conhecido nas artes visuais do Rio. 

Braseiro Labuta Credito Marcus Werneck

Tela de Raul Mourão, na coleção Labuta de Arte. Foto: Marcus Werneck

É dele a curadoria da Coleção Labuta de Arte, dentro do Braseiro Labuta, uma homenagem à antiga tradição carioca de artistas emprestarem obras para decorar os interiores de bares e restaurantes da cidade. 

“É uma exposição em permanente transformação e sem data para acabar. Uma experiência que insere arte na vida real, usando o restaurante como suporte para mostrar um conjunto de trabalhos num espaço radicalmente diferente do cubo branco de uma galeria ou museu. No Braseiro Labuta, esse conjunto de obras vai mudando ao longo do tempo”, diz Mourão. 

Braseiro Labuta: Rua do Senado, 65, Centro, tel. (21) 97577-3209.

 

Elena 

Inspirado no universo feminino, o Elena apresenta uma gastronomia asiática, comandada pelo chef Itamar Araújo, em uma atmosfera multissensorial.  No casarão do século 19, no sofisticado e arborizado Jardim Botânico, o restaurante se destaca pelas projeções artísticas, que variam ao longo da noite, nas paredes do primeiro andar.

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Projeções no Elena. Foto: Tomás Rangel

A veia artística da casa continua com uma galeria vertical de fotografias, assinadas por nomes como Bob Wolfenson, Antonio Augusto Fontes, Leco Moura e Pedro Perdigão, que ocupa toda a parede que conecta o salão ao rooftop. 

Elena: Rua Pacheco Leão, 758, Jardim Botânico.

 

Giuseppe Grill Leblon e Giuseppe Square

Amante das artes, o restaurateur Marcelo Torres montou um acervo com escultura e telas de nomes da contemporaneidade brasileira e artistas renomados em seus dois restaurantes focados na grelha. 

Com exceção da escultura de touro assinada pelo austríaco Francisco Alexandre Stockinger (1919-2009), posicionada logo na entrada da steakhouse no Leblon, as demais obras são rotativas. O tema, no entanto, é sempre o mesmo: a tauromaquia, ou a famosa tourada, na visão de artistas convidados, em peças criadas exclusivamente para o Giuseppe Grill Leblon. Em cartaz atualmente, estão trabalhos de cartunistas cariocas como Chico Caruso, Sandro Corradin, Ziraldo e João Callado.

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Escultura de Francisco Alexandre Stockinger. Foto: Divulgação

Já no Giuseppe Square o restaurateur mantém outros artistas, como Jaguar (1932-2025), e nomes da arte contemporânea brasileira, entre eles, Paulo Cavalcante, Bea Machado e Monica Vidal Quadras. 

Giuseppe Grill Leblon: Avenida. Bartolomeu Mitre, 370, Leblon,  tel. (21) 99591-5277. |
Giuseppe Square: Avenida das Américas, 4.666, Barra Shopping, Barra da Tijuca, tel. (21) 99575-6627.

 

Marine Restô

Como um bom restaurante de um cinco estrelas carioca, de frente para a praia mais famosa do Brasil, o Marine Restô, no Fairmont Rio, exala brasilidade em seu menu. As receitas viajam por todas as regiões do país e valorizam produtores locais. Deixar a tropicalidade de fora da decoração seria quase um pecado. 

Marine Resto Credito Romulo Fialdini

Painel de Adriana Pedroso. Foto: Romulo Fialdini

Assim, o salão exibe um vibrante painel pintado à mão pela artista Adriana Pedroso, do Atelier Adriana e Carlota. Inspirado pelas ondas do calçadão de Copacabana e pelas formas orgânicas e sinuosas que compõem a paisagem, as cores da arte representam a areia e as folhagens naturais da cidade, além do azul do Oceano Atlântico. 

Marine Restô: Avenida. Atlântica, 4.240, Copacabana, tel.  (21) 2525-1232.

 

MEE

Os traços vibrantes do belga Christian Develter se destacam no restaurante do Belmond Copacabana Palace, pan-asiático que conquistou uma estrela Michelin apenas dois anos após sua inauguração e permanece como o único asiático estrelado do Rio.

MEE Divulgacao

Tela de Christian Develter. Foto: Divulgação

A escolha do artista não foi à toa: ao longo de sua trajetória, Develter mergulhou profundamente na cultura asiática. No caso das obras expostas no MEE, ele celebra a beleza e a força das mulheres de Myanmar. 

MEE: Avenida Atlântica, 1.702, Copacabana.

 

Trégua 

Após uma pausa de dois meses, período em que seu charmoso espaço na Rua das Laranjeiras funcionou como mercearia de produtos artesanais, a casa retomou o formato de menu degustação na cobertura de um casarão histórico.

Telhado espaco do Tregua Reproducao Instagram

Arte no Trégua, que funciona no espaço cultural Telhado. Foto: Instagram / @telhado__

Nessa nova fase, o restaurante respira arte. Esculturas e telas espalham-se pelo espaço, criando um cenário onde o olhar se perde antes mesmo de o paladar ser provocado. Os convidados, em dois turnos de jantar, se acomodam em uma imponente mesa de madeira nobre de Jorge Zalszupin, arquiteto e designer polonês naturalizado brasileiro. De frente para a cozinha aberta assistem ao casal de chefs, Ana Paula Souza e Victor Lima, executar os pratos com maestria: a refeição tem sete tempos, preparado com ingredientes locais e sazonais. 

O restaurante funciona apenas uma vez por semana, sob reserva – o endereço, onde também funciona o espaço cultural Telhado, é revelado somente após a confirmação.

Trégua: link para informações e reservas no perfil @tregua.cozinha.

 

Campos do Jordão

Hotel Toriba

De tons suaves e precisão nos detalhes, os delicados afrescos de temática rural do pintor italiano Fulvio Pennacchi decoram os restaurantes do hotel repleto de obras de arte, em Campos do Jordão. 

Elaborados em 1943, totalizam mais de 60 metros de pinturas inspiradas no cancioneiro popular, numa poética e bucólica narrativa que se estende de forma linear pelas paredes do bar Vindima, da sala de café e chá, do restaurante Pennacchi e do salão com piano e lareira, onde é servido o chá da tarde. 

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Café com afrescos no Toriba. Foto: Tuca Reines

Apaixonado pelas figuras e pela vida dos homens do campo, Pennacchi retratou uma vindima nos afrescos do bar e, para o restaurante, criou uma festa rural focada no churrasco gaúcho, relacionando, assim, os temas aos espaços. No salão da lareira, por sua vez, apropriou-se do folclore, e explorou as Entradas e Bandeiras na sala do chá e café. 

Embora italiano, Pennacchi transferiu para as paredes do Toriba símbolos inequívocos da cultura nacional: a viola e o violeiro, o cachorro companheiro do caipira, as galinhas no terreiro, a bandeirola de um santo junino, a espiga de milho, a primeira colheita, o fruto da terra, a oferenda. Além disso, versos de três canções populares foram reproduzidos no rodapé de algumas das cenas.

Para saber com detalhes as histórias por trás das obras presentes em todo o hotel (além de Pennacchi, o acervo tem mais de 25 artistas, brasileiros e estrangeiros), o Toriba oferece o “Passeio das Artes”, explorado com uma guia profissional, e finalizado com um farto e tradicional chá da tarde.

Hotel Toriba: Avenida Ernesto Diederichsen, 2.962, Campos do Jordão, SP, tels. (12) 3668 – 5000 e (12) 3668-5008.

 

Maceió

Picuí

O nome vem de uma cidadezinha do sertão da Paraíba, onde a produção de carne-de-sol faz parte da história da família do chef Wanderson Medeiros há mais de 130 anos. Ao assumir o comando do restaurante da família na capital, Wanderson o transformou em uma referência na valorização da culinária regional. Uniu técnicas clássicas e ingredientes nordestinos e se tornou um dos grandes expoentes da chamada Nova Cozinha Nordestina.

Todo esse orgulho do Nordeste também aflora no ambiente da casa, com a ajuda das artes. 

Picui Credito Rafael Oliveira

Picuí: arte e comida da terra. Foto: Rafael Oliveira

Nas paredes, são expostas cabeças de barro feitas por Aurélio “Olério” Nunes, artesão quilombola de Muquém, comunidade remanescente do Quilombo dos Palmares. As peças retratam narrativas da vida cotidiana e ancestralidade afro-indígena.

Há também um grande quadro retratando uma vaca, da artista Júlia Maria Nogueira, além de muitas peças da arte popular da Ilha do Ferro, vilarejo às margens do Rio São Francisco. Entre os acessórios e peças de decoração, há obras de Dona Irinéia, mestre alagoana, patrimônio vivo de Alagoas, travessas e objetos para servir de Dona Marinalva e do artesão Mestre João das Alagoas, com figuras expressivas e carregadas de afetividade.

Picuí: Avenida da Paz, 1.140, Jaraguá, tel. (82) 3223-8080.

Sites: picui.com.br e https://www.instagram.com/picuialagoas/ 

 

Tiradentes

Tragaluz Restaurante Casa

Entre louças inglesas, taças de cristais e castiçais de estanho, o restaurante instalado em um casarão tombado de quase 300 anos fala o mais autêntico mineirês no cardápio. O chef Felipe Rameh serve receitas com métodos de defumação e conservação típicos da região e ingredientes que são reconhecidos como patrimônio imaterial do estado, como o milho e a mandioca, além de valorizar elementos das “Gerais”, como o pequi, a castanha de baru e a carne serenada. 

Tragaluz Credito Mage Monteiro

Salão do Tragaluz, com obra de Daniel Bilac. Foto: Magé Monteiro

Já o salão é recheado de obras de artistas de Minas Gerais, como a obra Baltasar Carlos vestido para caçar, versão de Daniel Bilac para a famosa tela de Diego Velázquez. 

A proximidade com a cultura local também aparece na fundação do MARTIR, o Museu de Artes de Tiradentes, dos mesmos donos do  Tragaluz – vira e mexe obras do museu vão parar nas paredes do restaurante. O museu permanece aberto durante o dia, mas para quem vai jantar no Tragaluz é possível visitá-lo também à noite, basta solicitar a um dos atendentes.

Tragaluz Restaurante Casa: Rua Direita, 52, Centro Histórico, tels. (32) 3355-1424 e (32) 99968-4837.

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