O trabalho, além do centro, da galeria Nonada

Com foco em áreas e artistas que estão fora do circuito, galeria abre mostras em SP, Rio e Salvador com nomes como Cipriano e Lázaro Roberto.


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Imagem de Lázaro Roberto Foto: Divulgação



Em Grande Sertão: Veredas, o leitor de Guimarães Rosa pode encontrar a palavra “nonada” em seis trechos, com significados que variam ligeiramente. O neologismo, que muitas vezes é interpretado como algo de pouca importância, foi escolhido como nome da galeria Nonada pela sua referência no livro a uma espécie de vazio, “um não lugar” que poderia ser ocupado.

O projeto dos sócios Paulo Azeco e João Paulo Balsini, dessa forma, trabalha a ideia de deslocamento, buscando levar artistas consolidados para áreas pouco valorizadas no circuito, e inserindo também nesse meio expoentes da arte contemporânea que ainda não haviam encontrado seu lugar.

Há quase três anos nessa empreitada, Paulo Azeco vê o momento atual como particularmente importante, com uma “série de ciclos que parecem estar sendo fechados”. Isso porque o programa da galeria, que começou com sedes nas zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro, e se desdobrou para endereços fixos nas capitais de São Paulo e Salvador, se expande agora para além dos seus limites.
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Obra de Cipriano Divulgação

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Entre 5 e 12 de outubro, por exemplo, a Nonada ocupou, pela primeira vez, e de forma temporária, uma casa modernista projetada pelo arquiteto Décio Tozzi em São Paulo, com a exposição NND Não é aqui: modern-ist. Ao mesmo tempo, o artista fluminense Cipriano, um dos nomes representados pela galeria, se prepara para abrir uma individual no dia 23 deste mês no Museu de Arte Contemporânea na Bahia (MAC Bahia), intitulada Hálito e fumaça.

Já o espaço na Rua Aires Saldanha, em Copacabana, fechou definitivamente suas portas com o encerramento da exposição Rabo de cavalo, de Junia Penido, no dia 18 de outubro. O local, com cerca de 70 metros quadrados, se tornou pequeno para o tamanho dos projetos apresentados e deve agora migrar para um novo endereço, com bairro e data ainda a serem anunciados.  

“Estamos ainda em negociação, mas posso dizer que será um lugar esquisito, porque a Nonada é sobre lugares esquisitos”, adianta Azeco. O espaço que a galeria ocupa na Penha, nesse sentido, sempre foi emblemático, tanto por se tratar de uma antiga fábrica de lingeries, como pela sua localização pouco central, o que obriga o deslocamento de artistas e colecionadores pouco habituados a circular na Zona Norte do Rio de Janeiro (além deste endereço, a galeria segue com espaços em São Paulo e Salvador). A seguir, a programação da Nonada para os próximos meses.

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Título Provisório

Um dos primeiros espaços a ser inaugurado pela Nonada, a Nonada ZN, na Penha, se transformou em um núcleo de criação aberto a proposições externas. Título provisório, exposição que está em cartaz atualmente, por exemplo, faz parte de um projeto encabeçado por Daniel Barreto, artista representado pela galeria. Nessa coletiva, nomes como Bruna Lamego, Gabriela Mureb, Helô Duran e Mbé exploram como as cadeias produtivas podem transformar a linguagem artística em obras que se desdobram nos formatos de vídeo, instalação, pintura e escultura. Já a mostra que abre na sequência, Pinturas sem título, como o nome indica, é um aprofundamento da pesquisa curatorial de Daniel Barreto com foco exclusivamente na pintura. A ideia é discutir as produções de três participantes de Título provisório – Rafael Meliga, Daniel Olej e o próprio Barreto –, investigando como suas práticas se contaminam. 

Título provisório: até 15.11. Pinturas sem título, a partir de 6.12. Na Nonada ZN (Rua Conde de Agrolongo, 677, Rio de Janeiro, Penha)

Exposicao Domingos

A exposição de Domingos de Barros Octaviano Divulgação

Travessia

Com curadoria de Victor Gorgulho, a primeira individual de Domingos de Barros Octaviano no Brasil inclui pinturas do paulistano que vive na Alemanha. A mostra apresenta o desdobramento da pesquisa que o artista empreende desde o início do seu mestrado, em 2016, na Braunschweig University of Art (HBK). Nela, Domingos parte de títulos célebres da literatura brasileira para construir obras abstratas que dialoguem tanto com sua linguagem como com o imaginário do sertão e da arte popular. Embora também trabalhe com esculturas e instalações, o foco da mostra está sobretudo na pintura. Ao todo, são 16 telas de pequena a grande escala que remetem às investigações do artista em torno de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. O título da mostra, inclusive, foi escolhido a partir da última palavra do livro do romancista mineiro: “Travessia”.

Até 20.11, na Nonada SP (Praça da Bandeira, 53, São Paulo, Centro)

Nonada Lazaro Poder do POvo Preto

Imagem de Lázaro Roberto Divulgação

Poder ao povo preto

No mês da Consciência Negra, a mostra coloca em diálogo cerca de 20 trabalhos do artista fluminense Cipriano e do fotógrafo baiano Lázaro Roberto. Parte da imagem realizada por Lázaro em 1991 durante manifestação promovida pelo Bloco Afro Olodum, onde se lê “Poder ao povo negro” (acima), para discutir a presença afro-diaspórica no país a partir de práticas diversas. Cipriano expõe pinturas sobre tecidos de algodão branco ou preto, que se desenvolvem, de acordo com ele, a partir do ritual que é conhecido no umbanda como gira. Lázaro Roberto, por sua vez, tem sua prática ancorada na fotografia, meio que utiliza desde os anos 1970, tendo sido um dos fundadores, já na década de 1990, do Zumvi Arquivo Fotográfico, associação de artistas negros ainda em atividade e que se consolidou como importante acervo de preservação e difusão da cultura e da história negra brasileira.

De 8.11 até a primeira quinzena de janeiro, na Nonada SSA (Rua do Passo, 6, Salvador)

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