True crime à brasileira: Tremembé e outras produções baseadas em casos reais

Episódios famosos como os de Ângela Diniz, João de Deus e da Chacina da Candelária foram investigados ou dramatizados na TV e no cinema.


Tremembé
Foto: Marina Ruy Barbosa como Suzane von Richthofen Foto: Divulgação



Tremembé é mais uma prova do gosto do brasileiro pelas séries e filmes de true crime. Sucesso quase garantido de público e engajamento, com um custo de produção muitas vezes baixo, esse gênero é uma aposta certa dos streamings. 

A série com direção geral de Vera Egito ficcionaliza, com uma dose de humor ácido, as trajetórias de encarcerados do presídio no interior de São Paulo, que recebeu criminosos famosos como Suzane von Richthofen (Marina Ruy Barbosa, que aparece bem diferente de sua imagem habitual), Daniel Cravinhos (Felipe Simas) e Christian Cravinhos (Kelner Macêdo), condenados pelo assassinato dos pais dela, Anna Carolina Jatobá (Bianca Comparato) e Alexandre Nardoni (Lucas Oradovschi), responsabilizados pelo homicídio da filha dele, Elize Matsunaga (Carol Garcia), condenada pelo assassinato do marido, Sandrão (Letícia Rodrigues), que se relacionou com Elize e Suzane, e Roger Abdelmassih (Anselmo Vasconcelos), médico condenado por crimes sexuais contra suas pacientes.

LEIA MAIS: Relembre a entrevista de Marina Ruy Barbosa, estrela de Tremembé, para a ELLE

Esses casos são tão famosos que quase todos já foram tema de séries. O perpetrado por Suzane com seu namorado e o irmão dele já tinha virado os filmes A menina que matou os pais, O menino que matou meus pais (ambos de 2021) e A menina que matou os pais: A confissão (2023), todos dirigidos por Maurício Eça e estrelados por Carla Diaz. Os outros criminosos de Tremembé apareceram em documentários como Elize Matsunaga: Era uma vez um crime (2021) e Isabella: O caso Nardoni (2023), ambos da Netflix. 

Além desses, outros crimes célebres tornaram-se filmes, séries e podcasts documentais ou ficcionalizados. A seguir, relembramos alguns:

Ângela Diniz (1976)

A vida da socialite foi conturbada nos anos anteriores ao seu assassinato. Em 1973, ela inicialmente assumiu a culpa pela morte de seu caseiro, crime cometido por seu amante na época. Depois foi presa por levar sua filha de Minas Gerais para o Rio de Janeiro sem conhecimento da família do ex-marido. Em 1976, começou a namorar Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street. No dia 30 de dezembro daquele ano, após uma briga, ele matou Ângela com quatro tiros à queima-roupa na casa de veraneio dela na Praia dos Ossos, em Armação dos Búzios (RJ). O julgamento midiático terminou com uma condenação e pena de apenas dois anos, sob alegação de que sua ação era uma legítima defesa da honra, por suspeita de que Ângela o teria traído. Desde aquela época, grupos feministas lutaram contra essa tese da defesa. Em 1981, ele foi julgado novamente e condenado a 15 anos, mas cumpriu apenas três anos e meio. No ano seguinte, a TV Globo lançou a minissérie Quem ama não mata, baseada no caso. Mais recentemente, o assassinato de Ângela voltou à tona por causa do podcast Praia dos Ossos, lançado em 2020 pela Rádio Novelo. Três anos mais tarde, Ísis Valverde e Gabriel Braga Nunes estrelaram o filme Ângela, dirigido por Hugo Prata. Em 2023, o Supremo Tribunal Federal proibiu, finalmente, a utilização da tese da legítima defesa da honra. Em 13 de novembro, a HBO Max vai lançar a série Ângela Diniz: Assassinada e condenada, protagonizada por Marjorie Estiano e Emilio Dantas e baseada no podcast da Rádio Novelo, com direção de Andrucha Waddington.

LEIA MAIS: Série de Ryan Murphy com Kim Kardashian, Tudo é justo tem elenco feminino 40+

Chacina da Candelária (1993)

Na noite de 23 de julho, dois carros com placas cobertas pararam na frente da Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro, e atiraram contra crianças e jovens pobres e negros que dormiam ali. Oito morreram, e dezenas ficaram feridos. Três policiais e um ex-PM foram condenados pela chacina. No ano passado, o crime foi tema da série ficcional Os quatro da Candelária (Netflix), com direção geral de Luis Lomenha, que mostra a tragédia pelo ponto de vista de quatro personagens: Douglas (Samuel Silva), Sete (Patrick Congo), Pipoca (Wendy Queiroz) e Jesus (Andrei Marques).

Sequestro do ônibus 174 (2000)

Na tarde do dia 12 de junho, Sandro Barbosa do Nascimento invadiu e sequestrou o ônibus da linha Central-Gávea, no Rio de Janeiro, um evento televisionado para o Brasil inteiro – um caso de “true crime” ao vivo. Sandro, sobrevivente da Chacina da Candelária, acabou matando uma refém, depois de ela ser alvejada por um tiro de raspão, destinado ao sequestrador, em uma ação desastrada da polícia. Ele foi preso e morreu asfixiado por estrangulamento dentro do camburão. O caso foi tema do documentário Ônibus 174 (2002), de José Padilha, que mostra o papel do Estado e da sociedade na situação de Sandro e como o circo midiático contribuiu para o desfecho, além do filme ficcional Última parada 174 (2008), de Bruno Barreto, que mostra a difícil vida de Sandro, desde sua infância.

O assassinato de Tim Lopes (2002)

O repórter investigativo foi sequestrado e morto, a mando do traficante conhecido como Elias Maluco, quando gravava, com uma câmera escondida, imagens de um baile na favela da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Lopes havia recebido denúncias de que havia exploração sexual infantil no local. Em 2014, o documentário Tim Lopes – Histórias de arcanjo, com direção de Guilherme Azevedo mostrou o ponto de vista do filho do jornalista, dez anos após sua morte. Em 2023, a série documental Onde está Tim Lopes? (Globoplay) focou na história do jornalista mais do que sua violenta morte.

Abusos sexuais por João de Deus (2018)

João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, ficou famoso por fazer cirurgias espirituais em Abadiânia (GO). Em 2018, foi denunciado por mais de 300 mulheres que tinham procurado sua ajuda e acabaram vítimas de abuso sexual. Antes de ser acusado e condenado, ele foi tema de vários filmes sobre seus supostos milagres. A série documental Em nome de Deus (2020), criada por Pedro Bial para o Globoplay, conta a história de Faria desde a infância até o período após as acusações. Foi o programa Conversa com Bial que colocou no ar as primeiras denúncias, a partir dos casos de dez mulheres. Já a série documental da Netflix João de Deus: Cura e crime (2021), com direção de Maurício e Fernando Dias, mostra a fama e seu império econômico antes do escândalo. Mais recentemente, a série ficcional inspirada em fatos João sem Deus – A queda da Abadiânia (2023), dirigida por Marina Person para o Canal Brasil, traz Marco Nanini no papel do abusador, mas conta a história sob a perspectiva de três mulheres. 

O assassinato do pastor Anderson do Carmo por Flordelis (2019)

Cantora, pastora e deputada federal, ela perdeu seu mandato após ser condenada pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, e acusada de coagir testemunhas. Conhecida por adotar várias crianças de comunidades cariocas, antes do crime, ela foi tema do filme Flordelis – Basta uma palavra para mudar (2009), dirigido por Marco Antônio Ferraz e Anderson Corrêa e com participação de Bruna Marquezine, Reynaldo Gianecchini e Cauã Reymond. Flordelis também foi acusada de adoção ilegal de crianças. Antes de se casar com Flordelis, Anderson, que era 16 anos mais jovem que ela, foi seu filho afetivo e namorou a filha biológica da pastora, Simone, que também cumpre pena pelo assassinato. Dois de seus filhos adotivos e uma neta biológica de Flordelis foram julgados e inocentados do crime. As séries documentais Flordelis: Em nome da mãe (2022), da HBO Max e Discovery+, dirigida por Suemay Oram, e Flordelis: Questiona ou adora, do Globoplay, com direção de Mariana Jaspe, investigam o assassinato de Anderson. A primeira traz um depoimento da criminosa.

LEIA MAIS: “Stranger things”, “Tudo é justo” e outras estreias do streaming em novembro

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes