Podcast Vítima da moda mergulha no caso Frankie e Amaury
Crime é tema da nova empreitada de Chico Felitti, do hit A mulher da casa abandonada.
Foi no fim de 2020, por meio de um amigo, que o crime envolvendo o casal por trás da Frankie Amaury, grife especializada em couro, chegou até Chico Felitti, responsável pelo fenômeno A mulher da casa abandonada (2022).
Tema do podcast Vítima da moda, nova produção do jornalista (disponível na plataforma Audible), o caso chocou a alta-sociedade do Rio de Janeiro em 2004, quando Amaury Veras foi encontrado enforcado em uma echarpe de seda em seu próprio apartamento, no Arpoador.
LEIA MAIS: Novo podcast da ELLE mergulha na vida de Clodovil Hernandes
As manchetes da época estampavam a tragédia e criavam teorias, entre suicídio e assassinato. Logo, o principal suspeito passou a ser o namorado e parceiro na grife de Amaury, Frankie Mackey, que acabou fugindo para a Argentina, onde nasceu, temendo a prisão. Uma década de um processo judicial lento, repleto de lacunas, versões conflitantes e poucas respostas se seguiu.
Mais de 20 anos depois, Chico revisita esse caso carregado de polêmicas e mistério em busca de respostas. Ao longo de dez episódios, que somam mais de seis horas, ele apresenta figuras importantes do período em que a marca viveu seu auge, entre 1983 e 1988, e mostra como a sociedade carioca lidou com a tragédia. Em meio à investigação, surgiu a hipótese de um novo suspeito (ainda vivo).
“Acredito que exista um véu de silêncio sobre essa história porque se trata de um crime no coração da elite”
“Comecei Vítima da moda antes de A mulher da casa abandonada e de todos os meus podcasts que vieram depois. Foi uma investigação que saiu a fórceps, porque a elite carioca se recusava a tocar no assunto”, conta Felitti à ELLE.
O jornalista procurou 300 pessoas da alta-sociedade carioca, mas somente duas aceitaram falar com ele. Com o tempo, a investigação teve que seguir por outros caminhos. “Conversei com ex-clientes da marca, empresárias e emergentes cariocas, que se mostraram mais dispostos a comentar o caso”, conta. “Acredito que exista um véu de silêncio sobre essa história porque se trata de um crime no coração da elite. Admitir que pode ter ocorrido um assassinato na alta sociedade do Rio seria, de certa forma, depor contra esse mesmo círculo dourado. Então, as pessoas preferem se calar.”
LEIA MAIS: Fernanda Torres faz de podcast divã musical

Frankie, Silvia Pfeifer e Amaury Foto: Acervo Frankie Amaury
A pesquisa ainda levou Chico até a cidade de Rosário, na Argentina, onde buscou familiares de Frankie, já que dias antes de ir a júri popular, em 2015, o estilista morreu de problemas cardíacos, de acordo com seu advogado, e nunca mais foi visto. “Mergulhei de cabeça na busca por Mackey, precisava descobrir se ele de fato havia morrido”, afirma.
“Entrei nessa jornada com uma suspeita respaldada por dados: crimes contra pessoas marginalizadas – sejam elas pretas, pobres, mulheres ou LGBTQIA+ – têm índices de investigação e resolução mais baixos. E essa suspeita só encontrou mais argumentos para se sustentar conforme eu me embrenhei no caso.”
O retrato de uma sociedade no podcast Vítima da moda
Símbolo da moda carioca, a marca que carrega o sobrenome da dupla surgiu na virada dos anos 1980 e logo conquistou uma clientela fiel que ia de socialites a celebridades. Nomes como Vera Fischer, Silvia Pfeifer e Luiza Brunet exibiam suas peças de couro dentro e fora das passarelas. Em 2024, Renata Veras, sobrinha de Amaury, trouxe de volta a grife do tio.
Para Felitti, Vítima da moda não é apenas uma investigação criminal, é também um retrato da moda e da sociedade carioca nas décadas de 1980 e 1990. “Uma pintura de um mundo opulento e completamente surreal, feito de festas, drogas, escândalos e excessos que dificilmente aconteceriam em 2025”, defende o jornalista.
“Mergulhei de cabeça na busca por Mackey, precisava descobrir se ele de fato havia morrido”
“Sou muito grato a Gloria Kalil, a (socialite) Kiki Garavaglia e as mais de cem pessoas que aceitaram conversar comigo e me ajudaram a contar essa história. Sempre tive interesse em narrar algo ambientado no mundo da moda. Ler as colunas da Erika Palomino na Folha de São Paulo foi um dos fatores que me levaram a escolher o jornalismo. Sempre fui fascinado por esse universo de exotismos e por personagens que parecem saídos de um conto de Oscar Wilde.”
A maior curiosidade sobre o crime ainda é justamente a sua inconclusão, uma vez que ninguém foi julgado pela morte de Amaury e muitos documentos do processo desapareceram com o tempo. “A sociedade ergueu um muro de silêncio sobre eles. Para mim, é um exemplo prático de como uma história pode ser sufocada – até que, um dia, renasce e volta a ganhar ar.”
LEIA MAIS: Para Marjorie Estiano, Ângela Diniz era uma feminista sem consciência política disso
Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes



