Chanel, Métiers D’Art 2026
Em sua segunda coleção para a Chanel e a primeira da linha Métiers D'Art, Matthieu Blazy reforça sua proposta menos visualmente complicada e real com desfile em estação de metrô em Nova York.
A Chanel desfilou ontem (02.12) sua mais recente coleção Métiers D’Art em Nova York. Mais especificamente, em uma estação de metrô desativada, a Bowery, no Lower East Side.
O que se viu na passarela, quer dizer, na plataforma, foi uma continuação das ideias apresentadas em outubro, na estreia de Matthieu Blazy como diretor de criação da maison.
E foi um baque, vocês devem lembrar. Mas, como todo baque, foi difícil de digerir. Ou pelo menos teve uma digestão mais demorada. Rupturas enfrentam resistência mesmo.

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação
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Tanto que o desfile de ontem contou com algumas concessões para os espectadores e clientes menos abertos a mudanças. Não significa retrocesso ou um passo atrás, pelo contrário, apenas uma consideração mais calculada de tudo que está em jogo.
Uma das principais contribuições do Matthieu foi deixar os tecidos e as roupas menos pesados. Lá no verão de 2026, na semana de moda de Paris, era tudo tão leve que quem estava acostumado a associar a qualidade da marca ao peso dos materiais estranhou o que viu.
Esse estranhamento parece ter passado agora. Até por se tratar de uma coleção Métiers D’Art. Foi Karl Lagerfeld quem teve essa ideia de fazer um desfile para enaltecer toda a maestria dos ateliês de artesanato da marca. Então, é tudo bem rico e cheio de bordados, plumas, chapéus e detalhes preciosos.

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação
Matthieu, que adora uma maquete têxtil, não segurou a mão, mas deu cara própria e modernidade a essas manualidades. E trabalhando especialmente com os tweeds – que muita gente achou escanteados na sua estreia.
Só que não dá para medir o sucesso e a relevância de um estilista e de uma marca apenas pela excelência técnica. Ainda mais quando se trata de Chanel. Aqui, essa qualidade máxima é o básico. Está implícita.
O que faz da Chanel do Matthieu extremamente interessante é sua atualidade e como ela representa uma diversidade da vida como ela é no dia a dia. Sem muita forçação de barra ou artificialidade. E a locação ajudou muito nessa percepção.
Chanel, Métiers D'Art 2026.
Foto: Divulgação
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Essa abordagem aparece principalmente nos looks cotidianos de jeans (na verdade, seda com cara de jeans) e camiseta, nas combinações de saia com suéter larguinho e nas peças cortadas com técnicas de alfaiataria sem muita estrutura ou enchimento. O estilista também expande o repertório visual da grife com itens de couro, cores ácidas e intensas, além de texturas e padronagens meio artsy, como aquelas que definiram sua passagem pela Bottega Veneta.
A escolha de Nova York como destino para esta coleção tem algumas explicações. A primeira delas é estratégica. Hoje, os EUA são o maior mercado da Chanel e onde está a maioria das clientes de alta-costura da casa.
A título de curiosidade, o país concentra o maior número de ultra-ricos (mais ricos do que aquele 1% de super-ricos, com mais de 30 milhões de dólares em patrimônio líquido). São eles quem respondem pelo crescimento do mercado de luxo atualmente.

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação
A segunda explicação tem a ver com a história da grife e sua fundadora. A primeira viagem transatlântica de Gabrielle Chanel, no começo dos anos 1930, foi rumo a Nova York. O destino final, porém, era Los Angeles. Era um convite de Samuel Goldwyn, um dos fundadores dos estúdios MGM. O produtor queria que a couturier criasse figurinos para seus filmes.
Ela bem que tentou, mas não deu muito certo. No fim, seus looks eram simples demais para o cinema da época.
Na virada das décadas de 1950 para 1960, no entanto, foram as consumidoras dos Estados Unidos – primeiro as do Texas, depois as de Nova York – que reconheceram e validaram o tailleur Chanel como a grande revolução da moda de então. A primeira coleção de prêt-à-porter da maison, em 1975 (um pouco atrasada, é verdade), foi inspirada na rotina e no estilo das nova-iorquinas.

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação

Chanel, Métiers D'Art 2026. Foto: Divulgação
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Os EUA ainda estão entre os maiores produtores culturais da atualidade. A indústria do entretenimento local se tornou um braço essencial dos departamentos de marketing e comunicação das grandes marcas – também seu calcanhar de Aquiles. É que, na economia da atenção, tudo virou conteúdo programado. Espontaneidade, naturalidade e autenticidade viraram raridades.
Os personagens que Matthieu interpretou na coleção – a executiva, a socialite, a garota festeira e por aí vai – já foram explorados na TV e no cinema. Ali, porém, parecem pessoas reais, que você encontraria numa estação parecida de metrô em Nova York. A inspiração, aliás, foi exatamente essa. Quando Matthieu morou em Nova York, alguns anos atrás, ficou encantado com a diversidade e a cacofonia de estilos das ruas da cidade.
Outra qualidade da sua Chanel é a universalidade. Ela não é de um jeito só ou escrita num único idioma. Ela tem apelo ampliado, é cheia de misturas. Ao tirar a coleção do salão do Grand Palais e colocá-la num cenário bem comum e popular, apoiada em estereótipos midiáticos e tradicionais facilmente reconhecíveis, aquela sua visão e propostas iniciais ganharam toda uma leitura – mais fácil, agradável, eficaz e, sem dúvidas, atual.
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