O poder da marca Chanel
Sinônimo de alta-costura, das bolsas mais desejadas do mundo e do icônico Chanel no.5, a Maison francesa revolucionou a moda feminina e segue fazendo história.
Para falar de Chanel é preciso falar primeiro de Coco Chanel, uma mulher tão à frente do seu tempo, que, embora tenha nascido no século 19, transformou o guarda-roupa do século 20 e segue influenciando a moda até agora – sua black jacket, a bolsa a tiracolo e o tweed são apenas alguns exemplos da sua força. Uma mulher que não casou, não teve filhos, mas deixou ao mundo um legado gigantesco na moda.
Quem foi Coco Chanel?
Nascida Gabrielle Bonheur Chanel, em 19 de agosto de 1883, a estilista não teve uma infância fácil, muito menos abastada.
Na biografia de Coco Chanel consta que, aos 12 anos, ela ficou órfã de mãe e foi abandonada pelo pai. Cresceu em um orfanato – de onde provavelmente despontou seu amor ao preto e branco dos hábitos das freiras – e, antes da moda, sonhou com o canto e com a dança.
É dos palcos dos cafés-concerto de Paris que veem seu apelido: como sabia apenas duas canções, Ko-Ko-Ri-Ko e Qui qu’a a vu Coco, o público a apelidou com a palavra comum aos dois refrões.
Para a sorte da moda – e provavelmente da música –, foi como costureira que ela entrou para a história. Primeiro, como chapeleira, aliás.
Em 1910, incentivada por um namorado, abre sua primeira loja e, em 1912, emplaca um chapéu de palha sem penachos nem enfeites, elegantemente simples, como tudo o que ela criaria depois, numa peça de teatro.
Ou melhor, na cabeça de uma celebridade da época, a atriz Gabrielle Dorziat, conhecida por usar roupas de Jacques Doucet, o maior costureiro da Rue de la Paix.
Quantos anos tem a marca Chanel?
A abertura da primeira butique, parecida com a que conhecemos hoje, aconteceu em 1912, em Deauville, no litoral da França. E é a partir daí que Coco Chanel começa a fazer sua mágica e revolucionar a moda.
Em 1913, inventa a moda esportiva, inspirada pelas blusas dos pescadores normandos e usando um tecido considerado até então “indigno”, bom apenas para roupas de baixo: o tricô.
O jérsei, previamente usado apenas nas roupas íntimas masculinas, também entra na moda pelas mãos dela, e liberta o corpo feminino. É fluido, mole, moderno.
Essa rebeldia, esse olho para o que não era mainstream, para o que era “simples demais”, e as pequenas transgressões, como “roubar” matérias-primas tipicamente masculinas, são a base do estilo Chanel.
O império Coco Chanel
Nos anos 1920, mademoiselle Chanel (ela era chamada assim por nunca ter casado, ou seja, nunca ter virado madame) já era uma estrela que ditava tendências na moda e na beleza.
Seus longos cabelos negros ficam curtos e dão origem ao corte Chanel, ela lança perfumes e linha de maquiagem e atende suas clientes no edifício da rue Cambon, 31, onde monta sua maison de alta-costura, com direito à loja, salões e ateliê – estrutura que permanece inalterada até hoje.
É nesse período também que vem sua fase russa, com peças bordadas à mão. As túnicas inspiradas na roubachka, traje típico dos mujiques, e as saias bordadas em ponto corrente se transformam no uniforme das parisienses.
O sucesso é tão grande que ela abre o primeiro ateliê de bordado – hoje, são 11 fornecedores adquiridos nos últimos 30 anos, incluindo o Lesage, especializado em bordados.
Quem é o atual dono da marca Chanel?
Como não teve herdeiros, a Chanel acabou ficando sob o controle da família Wertheimer. A sociedade com Pierre Wertheimer começou em 1922.
Herdeiro da Bourjois, a maior e mais bem-sucedida empresa de cosméticos e fragrâncias da França, Pierre fechou um acordo com a estilista para vender seus perfumes e, posteriormente, conseguiu os direitos sobre todos os produtos, em 1954.
Quando Coco morreu, em 1971, o filho de Pierre, Jacques, comprou os 10% da empresa que ainda eram da estilista e se tornou o único proprietário da label.
Alain e Gérard, netos de Pierre, assumiram o controle em 1974 e contrataram Karl Lagerfeld para substituir Gabrielle em uma empresa cujos ativos atuais estão na casa dos 50 bilhões de dólares.
Sob o comando de Lagerfeld, a partir de 1983, a Chanel introduziu o Métiers d’art e as pré-coleções, além da alta-costura e do prêt-à-porter.
Bolsa Chanel: um investimento que dá lucros
Parte desse enorme sucesso vem da divisão de acessórios, encabeçada pelas it-bags Chanel. A lista é grande: Boy, Chanel 22 (a mais recente, criada pela atual diretora criativa, Virgine Viard), Coco Cocoon, Chanel Camera Case, Gabrielle Hobo, Deauville Tote, Cambon e, claro, a mais emblemática delas, a Chanel 2.55, criada em fevereiro de 1955.
Feita em matelassê com uma corrente dupla, ela liberou as mãos das mulheres – até então presas em clutches – e virou objeto de desejo absoluto. Uma Chanel 2.55 custava cerca de 220 dólares em 1955 e, em 2016, 4.900 dólares. Em 2022, o mesmo modelo era vendido por 8.200 dólares.
Não à toa, o comércio second hand também passou a ser disputado – e caro. No e-commerce brasileiro Gringa, uma 2.55 double flap custa R$ 15.900, e no Etiqueta Única, R$ 45 mil.
Como saber se uma bolsa Chanel é verdadeira?
Alguns e-commerces idôneos fornecem um certificado de autenticidade – isso quer dizer, que o acessório já passou pelo crivo dos especialistas que analisam os detalhes característicos de cada marca.
No caso das bolsas Chanel, algumas das mais replicadas/falsificadas do mundo, vale prestar atenção nos detalhes a seguir:
- – O couro usado pela Chanel é o Lambskin, leve e com toque suave. E o martelassê deve ser perfeito, nada de costuras soltas.
- – O fecho CC, introduzido por Lagerfeld nos anos 1980, deve ser fechado sem nenhuma dificuldade ou barulho e a parte traseira dele é presa por dois parafusos de cabeça chata.
- – A marca também possui códigos internos em adesivos idênticos aos números do cartão de autenticidade da marca. Em modelos vintage, o adesivo tem os números em fundo branco, nos atuais, é protegido por uma película holográfica.
- – A bolsa original terá ainda uma menção ao local em que foi feita: made in Italy ou made in France, nunca Paris, por exemplo.
Sapatilha Chanel
Outro ícone da maison francesa, a sapatilha Chanel se destaca pela versatilidade – elegante, vai do trabalho às festas, aparecendo até nos desfiles de alta-costura, com a ponteira dourada.
Originalmente desenhado em 1957, o sapato de dois tons foi feito em bege, para alongar a perna, com a ponta preta, para diminuir o pé.
E se desdobrou em inúmeros modelos, de botas até patins. Na coleção do verão 2023, as sapatilhas aparecem em diversos materiais e combinações cromáticas: tweed colorido com couro preto; verniz branco com verniz preto; glitter e gorgurão.
Perfumes Chanel: de Marilyn Monroe para sua prateleira
Marilyn Monroe com o Chanel no. 5. Foto: Getty Images
Lançado em 1921, o Chanel no.5 é o perfume mais icônico do mundo, sinônimo de luxo e sofisticação.
Primeiro perfume da marca, ele foi desenvolvido pelo perfumista Ernest Beaux, que teve a missão de fazer “um perfume feminino com a fragrância de uma mulher”, requisito de Gabrielle.
Um bouquet floral que exalta a rosa de maio e o Jasmin de Grasse e teve a mítica reforçada pelo nome enigmático e pelos adeptos famosos – Marilyn Monroe disse, em uma entrevista de 1952, que só usava Chanel no.5 para dormir, e Andy Warhol também era entusiasta do perfume.
E ele não está sozinho no rol da fama da perfumaria. Coco Mademoiselle, um oriental floral inspirado no universo barroco de Chanel, Égoïste, um masculino com baunilha de Madagascar e filme publicitário feito por Jean-Paul Goude, e Allure, a própria definição de elegância, segundo mademoiselle Chanel, são outros destaques.
Como escolher um perfume Chanel que combine com você
Todas as fragrâncias da casa fazem referência a algum aspecto da sua fundadora – vale lembrar que ela era uma mulher que ia das hípicas aos salões mais chiques, da Rússia à Inglaterra.
Alguns têm cheiros mais fortes, sendo boas opções para quem gosta de ser notado. Outros, são mais leves e delicados, bons para o dia a dia e temperaturas mais quentes.
Preste atenção ainda nas diferenças entre Parfum, Eau de Parfum, Eau de Toilette e Eau de Cologne. O primeiro é o que tem a fragrância mais intensa, com 15 a 40% de essência em sua composição. A proporção vai caindo ao longo das divisões, sendo que a colônia será sempre a mais suave, com 2 a 5% de essência na fórmula – isso quer dizer que ela pode ser passada mais vezes ao dia, em maior quantidade e também que é a opção mais barata.
A nova era Chanel
Na sucessão do trono de uma das maiores casas de moda do mundo, Virginie Viard assumiu a direção criativa da casa em 2019, após a morte de Karl Lagerfeld.
Fascinada pela tradição da marca e braço direito do estilista alemão por três décadas, ela não tem tido dificuldade em manter o legado de Coco, pelo contrário.
Nos seus desfiles, ela tem salpicado referências à criadora da marca. Além do clássico tailleur de tweed, invenção de 1956, e dos acessórios consagrados, Virginie já fez reinterpretações de figurinos feitos por Chanel para o teatro e homenagens a artistas, como Jean Cocteau, um dos BFFs da estilista que se relacionava com o mundo das artes plásticas como poucos.
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