“Uma família quase perfeita”: o sucesso do noir nórdico

A nova série da Netflix traz o mistério sobre uma jovem acusada de assassinato, com subtons de machismo


Cena de "Uma família quase perfeita"
Christian Fandango (Christoffer) e Alexandra Tyrefors (Stella) em cena da série Foto: Divulgação/Netflix



Uma família quase perfeita está fazendo sucesso desde que estreou na Netflix, e é fácil de entender por quê. A série em seis episódios faz parte do chamado noir nórdico, com histórias de crimes de tons acinzentados e subtons de machismo e racismo que se passam nas paisagens da Suécia, Dinamarca, Noruega, Islândia e Finlândia. 

Baseada no livro de M. T. Edvardsson, a trama se passa na cidade sueca de Lund, onde Stella (Alexandra Tyrefors), de 19 anos, é acusada de assassinar a facadas o namorado Christoffer (Christian Fandango), de 32. A partir daí, os pais da adolescente, o pastor Adam (Björn Bengtsson) e a advogada Ulrika (Lo Kauppi), fazem de tudo para livrar a filha da acusação. Ter uma mãe advogada certamente ajuda nessas horas.

Enquanto o romance é dividido em três partes, cada uma com o ponto de vista de um dos três personagens principais, a série alterna as perspectivas de Stella, Adam e Ulrika em um mesmo episódio.

Apesar de morarem em uma casa pra lá de confortável, serem bem-sucedidos em suas carreiras e terem um casamento aparentemente harmonioso, Adam e Ulrika não se comunicam muito e não ouvem a filha – daí o título “uma família quase perfeita”. 

E os Sandell até eram quase perfeitos, antes de Stella ser estuprada aos 15 anos em uma viagem da escola, como mostra o primeiro episódio. Os pais decidiram não prestar queixa na polícia pois as chances de o criminoso ser preso e condenado eram muito pequenas, e Stella teria de atravessar um processo doloroso de reviver o trauma. Mas a decisão acaba despedaçando a família.

 

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Alexandra Tyrefors (Stella) e Björn Bengtsson (Adam) Foto: Divulgação/Netflix

Diferentemente de muitas séries de crime e “true crime”, aqui a vítima não é uma mulher. Pelo contrário: uma mulher é a suspeita. Mas quem disse que ela também não é uma vítima?

Como é o caso de muitas séries do noir nórdico, fica claro como a misoginia atravanca a vida das mulheres, que muitas vezes nem chegam a denunciar um estupro por medo de saírem ainda mais machucadas do processo de investigação e eventual julgamento. A elas, só resta engolir o choro e internalizar o trauma para sempre.

 

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Melisa Ferhatovic (Amina) e Lo Kauppi (Ulrika) Foto: Divulgação/Netflix


Uma família quase perfeita
é fácil de ver, mas quem prestar bem atenção vai matar a charada antes do final.

Para quem curte esse tipo de história, outros exemplos de noir nórdico são Os homens que não amavam as mulheres (disponível no Prime Video, Paramount+ e HBO Max), filme de Niels Arden Oplev de 2009 baseado na obra de Stieg Larsson, que também ganhou adaptação de David Fincher em 2011, e as séries The killing, Trapped e Entrapped, The chestnut man e The Valhalla murders (todos disponíveis na Netflix).

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