Cavalera, inverno 2024

Depois de André Lima e Amapô, na SPFW N57, foi a vez da Cavalera dar continuidade ao movimento “vale a pena desfilar de novo”. A marca paulistana fez seu retorno com uma apresentação independente (fora do calendário oficial da semana de moda), na noite de quarta-feira (17.04).

O desfile representa uma nova fase para a Cavalera, que passou a enfrentar dificuldades financeiras na segunda metade da década de 2010 e entrou com pedido de recuperação judicial em maio de 2021. Vem daí o nome da coleção: Desejo.

Cavalera, inverno 2024. Foto: Divulgação

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“Momentos de crise te tiram os desejos – e de todos os tipos, inclusive o de criar ”, fala Alberto Hiar, empresário e diretor de criação. Foi só quando as contas e a empresa começaram a ficar em ordem que o empresário voltou a sentir vontade de voltar às passarelas.

Fundada em 1995 por Alberto (conhecido como Turco Loco) e pelo ex-baterista da banda Sepultura, Igor Cavalera, a etiqueta se tornou uma das principais representantes do jeanswear brasileiro na virada dos anos 1990 e 2000. Ao longo da sua história, realizou desfiles históricos – no Minhocão (Via Elevado Pres. João Goulart), nas margens do Rio Tietê, no jardim do Museu do Ipiranga, na Galeria do Rock e em um ferro velho.

Cavalera, inverno 2024. Foto: Divulgação

“A ideia da coleção passa muito por essa memória, pela minha memória sobre a Cavalera”, explica Victor Miranda, stylist e figurinista convidado para cocriar as peças do inverno 2024. Natural de Brasília, suas primeiras lembranças da marca são de assisti-la pela cobertura da SPFW pelo GNT Fashion.

“Não tinha loja da Cavalera em Brasília, então só conseguia comparar quando vinha para São Paulo”, relembra ele. “Na volta, todo mundo ficava, assim, ‘uau’. Minha mãe guarda até hoje um moletom daquela época, um verde com um esqueleto (aplicado) na frente.”

Do próprio estilo, Victor leva as formas oversized que tanto gosta – e que não são exatamente inéditas para a label. A ideia nem é essa. Na verdade, a coleção de inverno 2024 vai de um oposto ao outro: do justo e mini ao largo e maxi. Começando com uma boa investida no universo do streetwear, com jaquetas puffs e calças volumosas em branco e preto.

Cavalera, inverno 2024. Foto: Divulgação

Existe também a vontade de brincar com a percepção. A ironia e humor tão essenciais à identidade da marca e sua estamparia vão para a modelagem e materiais. As peças com textura da tramada variam entre couro – destaque para a minissaia e casaco quadriculados em branco e vermelho – e látex usado na fabricação de bexigas – uma parceria com o estilista Diego Gama.

O jogo de parece mas não é influencia ainda as modelagens e construções. O jeans é cortado como vestido sem alça ou de um ombro só. A alfaiataria é feita de malha ou de trama de couro. Camisas são sobrepostas e usadas como vestidos e saias plissadas são combinadas com calças jogging (tendência quente do momento). E para reforçar o clima nostalgia, estampas dos personagens dos quadrinhos Turma da Mônica, desenhadas por Maurício de Sousa em si.