Minimalismo X Maximalismo no skincare: de que lado você está?
Rotinas imensas com incontáveis produtos se contrapõem a propostas mais diretas de um cuidado simplificado com a pele. Como duas abordagens tão radicalmente diferentes fazem tanto sucesso ao mesmo tempo?
Não é um pouco contraditório que ao mesmo tempo em que vemos uma série de marcas de skincare pregando a ideia de rotinas minimalistas também vemos outras anunciando na direção totalmente oposta, com mais passos e mais produtos?
“Por incrível que pareça, uma coisa não exclui a outra. Essa polaridade é também um reflexo do momento cultural, social, econômico e político de nossa sociedade“, afirma Naia Silveira, especialista em tendências da WGSN. “Sim, as pessoas querem cuidar mais de si mesmas, estão mais autoindulgentes. Agora, isso não exclui o fato de que o arrocho financeiro está aí. Não dá para ignorá-lo”, continua.
Fato é que uma rotina com muitos passos, muitos produtos, não é exatamente necessária, na maioria dos casos. Pelo menos é o que dizem os dermatologistas. “As redes sociais popularizaram uma relação com a pele que não é muito realista. Há pouco embasamento científico para justificar tantos passos. Costumo dizer para os pacientes que temos que ser assertivos e escolher o mínimo de produtos com o máximo de eficácia para cada caso”, argumenta a médica Lilia Guadanhim.
“A verdade é que, aos poucos, vem se sedimentando a ideia de que esse tipo de consumo não é sustentável ou funcional. Nem para a pele, nem para o bolso, nem para o mundo”, opina Nina Grando, pesquisadora de tendências.
Marcas de skincare que apostam na simplicidade
Foi assim, no meio desse frenesi de ofertas múltiplas, que começaram a nascer algumas marcas de skincare no intuito de “cortar caminhos” ou “simplificar processos“, nos últimos anos. É o caso da Sallve, da empresária e influenciadora Julia Petit, lançada em 2019. Ainda que não se autointitule minimalista, a marca “oferece produtos multifuncionais que foram desenhados para diminuir o trabalho ali na hora da rotina de pele”, afirma a co-fundadora e CCO da empresa.
A francesa Doré tem uma história e uma ideologia parecidas. Em entrevista à ELLE View, Garance Doré – uma das maiores fotógrafas de street style do mundo – contou por que criou sua linha de skincare: “Via muitas marcas anunciando as mil maravilhas de um produto, que, no limite, não fazia nada demais”, disse. A Doré só tem três produtos – um limpador, um hidratante facial, e um balm para os lábios e unhas. “Acreditamos em restaurar as defesas naturais da pele, em pele bem hidratada. A missão é entregar o essencial para a gente gastar cada vez menos tempo cuidando da pele”, concluiu.
Ainda assim, também são recentes algumas iniciativas que parecem seguir o caminho contrário. A linha de skincare de Kim Kardashian talvez seja o exemplo máximo desse tipo de abordagem. A SKKN BY KIM tem o intuito de promover um ritual longo (de nove passos) para uma experiência de renovação completa: não só da pele, mas da mente também. Segundo a socialite, com sua marca, ela aposta em uma pausa na agitação do dia a dia de suas clientes. Por aqui, marcas como Océane e a Kiss NY seguem a cartilha coreana, com 12 passos ou até mais.
Eficácia: a palavra de ordem do futuro
No meio dessa “guerra” entre o minimalismo e o maximalismo, especialistas afirmam que a palavra de ordem do futuro é “eficácia”. “De modo geral, as pessoas querem mais assertividade. O consumidor da geração Z, principalmente, é muito informado, lê rótulos, acompanha especialistas da área e faz duas escolhas com cada vez mais consciência e conhecimento”, argumenta Nina.
De acordo com ela, por trás dessa polarização, há um fator geracional. “Quando houve o boom da rotina de pele coreana no ocidente, por volta de 2015, essa movimentação estava muito ligada aos ideais de pele da geração millennial. Eles deram um primeiro passo ao focar mais no skincare do que na maquiagem. A maior parte dos Zs, contudo, abraçam a pele que têm – ainda que ela venha com sardas, espinhas, linhas de expressão, etc.”
Por fim, quando falamos de eficácia da perspectiva calmante, meditativa dos rituais de skincare contemporâneos, as coisas tendem a mudar também. A ideia é que no futuro, os rituais sejam mais elaborados, mas a quantidade de produtos utilizados para fazê-los seja menor. “O intencionalismo vai incorporar tratamentos ligados a práticas de mindfulness”, justifica Naia, do WGSN.
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