K/DA: De League of Legends para o topo das paradas musicais
A girl group virtual conversou com ELLE sobre música, moda e machismo no mundo dos games.
Na edição de agosto da ELLE View, o texto ”
Virtualizo, logo existo?” mostrou que as avatares virtuais estão com tudo. Mesmo existindo somente no ciberespaço, elas já desfilam por aí ostentando seus milhões de seguidores, estrelando campanhas publicitárias e estampado capas de revistas de moda.
Apostando alto nesse mercado e fundindo esportes eletrônicos com música, a empresa Riot Games, detentora do competitivo League of Legends, reuniu suas campeãs mais interessantes para formar a girl group
K/DA. Dotadas de estilo e atitude, o quarteto é composto pelas personagens Ahri, Akali, Evelynn e Kai’Sa e, depois de construir uma base sólida entre os jogadores, flerta agora com o público geral através de canções em inglês e coreano.
Seguindo uma estrutura parecida com o K-pop, as guerreiras assumem posição de líder, dançarina, compositora e de rapper. Na hora de cantar, no entanto, são estrelas pop do mundo real que emprestam a voz para as personagens. Em 2018, o grupo fez sua primeira performance durante o Campeonato Mundial de League of Legends, em Incheon, na Coreia do Sul. No palco, as cantoras norte-americanas Madison Beer, Jaira Burns, e as sul-coreanas Soyeon e Miyeon, ambas do (G)I-DLE, dividiram espaço com os avatares de Ahri, Evelynn, Kai’Sa e Akali através da tecnologia de realidade aumentada. O show foi um sucesso e a faixa “POP/STARS” logo conquistou o topo da parada World Digital Song Sales da Billboard daquele mesmo ano. Seu videoclipe oficial também já atingiu mais de 400 milhões de visualizações no YouTube em um período de apenas dois anos.
Mas o supergrupo não é dono de apenas um único hit. Em 2020, o aguardado retorno aqueceu o interesse dos fãs com uma novidade: K/DA lançaria um EP completo dessa vez. O pontapé inicial foi dado em agosto com a faixa “THE BADDEST”. Bea Miller e Wolftyla ocupam as posições de Madison Beer e Jaira Burns, enquanto a rapper Soyeon e a vocalista Miyeon, responsáveis pelas vozes de Akali e Ahri, respectivamente, continuam.
Com letra empoderada e um refrão marcante, “THE BADDEST” ganhou até
versão em português nas vozes de Karol Conka e da dupla Carol & Vitoria. “É muito importante ver que a mulher também está ganhando território no mundo gamer!”, declarou Karol. “Num espaço originalmente dominado por homens, enaltecer uma equipe feminina de campeãs – através de uma música – é emocionante.”
Outra surpresa foi a participação especial de Seraphine, campeã recém-lançada no LoL, que aparece no single principal, “MORE”. Intitulado “ALL/OUT”, o EP de seis faixas apresenta ainda outros nomes para ficar de olho, incluindo a alemã Kim Petras, representante transgênero da música pop atual.
E as grifes também estão de olho no universo dos games: GUCCI e Balenciaga recentemente apresentaram suas coleções através de games interativos. Em maio, Maison Valentino e Marc Jacobs
lançaram peças exclusivas para o jogo Animal Crossing. Para K/DA, a parceria chegou através da Louis Vuitton, que vestiu as personagens para o Worlds 2020, o Mundial de LoL, sediado em Xangai. Nicolas Ghesquière, atual diretor artístico da marca, selecionou looks que vão do outono de 2014 à primavera de 2019. Ghesquière também já desenhou skins para outros campeões e lançou ainda uma coleção cápsula inspirada no universo do jogo.
Em entrevista exclusiva à ELLE, Ahri, Evelynn, Kai’Sa e Akali revelaram detalhes sobre sua jornada musical e refletiram sobre a presença feminina nos games. Confira:
Não existe nada que soe como “POP/STARS”. Como foi produzir o single de estreia e apresentá-lo durante o campeonato mundial de League Of Legends para milhares de pessoas?
Akali: Foi incrível. Ainda sinto como se fosse ontem. O K/DA era novo para nós quatro naquela época, mas mesmo assim nós já podíamos dizer que tínhamos algo especial. E se apresentar naquele ano no Worlds foi fenomenal – a audiência foi ótima.
Com “POP/STARS” vocês alcançaram o topo da parada Digital Song Sales da Billboard. Como vocês se sentem fazendo tanto sucesso fora dos games e inovando no universo da música?
Evelynn: Absolutamente lisonjeada! Estou muito surpresa pela forma como o nosso trabalho repercutiu. Mas não é hora de nos darmos por satisfeitas, nós ainda temos muito para mostrar ao mundo.
Cortesia: Riot Games
Ahri, o que você considera necessário para ser uma boa líder?
Ahri: Qualquer garota pode ser uma líder. Tudo que você tem que fazer é escolher. Você não tem que ser a mais talentosa ou a mais popular para liderar bem. Você só tem que estar presente para o seu time. Acredite em si mesma. É assim que você se torna uma boa líder.
Kai’Sa, quais são os maiores desafios na hora de preparar as coreografias do K/DA? Que conselho você daria para alguém que quer começar a dançar?
Kai’Sa: As coreografias em grupo requerem uma mentalidade diferente de coreografias solo – e, neste grupo, eu fiz questão de demonstrar o estilo e personalidade de cada membro. O maior desafio foi pensar na perspectiva de cada uma. Meu conselho para as dançarinas aspirantes é acreditar no processo. Está tudo bem se você não chegou lá ainda. Persevere e seja paciente. Quando você trabalha nisso a cada dia, você cresce.
Evelynn, que conceitos visuais você gostaria de experimentar nos próximos lançamentos?
Evelynn: Eu sempre me interesso mais por temas sombrios, mais dramáticos, se você reparar no conceito do vídeo de “VILLAIN”. Eu pessoalmente ia amar ver o K/DA experimentando essa direção no futuro. Mas quem sabe onde vamos parar?
Akali, como funciona o seu processo criativo na hora de compor as letras?
Akali: Normalmente, uma parte de cada vez. Começa como uma frase na minha cabeça, ou um trecho que eu fico cantarolando, e eu gravo, e nós trabalhamos nisso. Apesar de que o rap de “THE BADDEST” só veio naturalmente. É o tipo de coisa que só fluiu.
Cortesia: Riot Games
Quais foram as inspirações por trás do EP “ALL/OUT”?
Kai’Sa: “ALL/OUT” é sobre nós no K/DA. É sobre a expressão individual de cada uma de nós, transformando nossas vozes como um grupo. Nós estamos completamente (“ALL/OUT”) em tudo. Para o processo criativo, cada integrante teve tempo sozinha para encontrar a história que queria contar. Então nós voltamos e descobrimos como explorar essas histórias, juntas.
O EP também conta com outras artistas femininas superpoderosas. Em “VILLAIN”, por exemplo, temos a participação da cantora Kim Petras, enquanto em “I’LL SHOW YOU” algumas integrantes da girl group de K-pop TWICE marcaram presença. Como foi trabalhar com nomes tão interessantes da música pop atual?
Ahri: Nós ficamos felizes de poder colaborar com artistas tão talentosas, e ficamos orgulhosas de amplificar suas vozes poderosas através do nosso EP. Trabalhar juntas foi suave. Nossas colaboradoras assumiram nossa visão e a executaram perfeitamente bem. É tão recompensador ouvir as suas belíssimas vozes nas nossas faixas – e ouvir nossas partes nelas, também, é claro.
Todas as faixas de “ALL/OUT” ganharam vídeos exclusivos de dança. Quais são os próximos passos do grupo?
Evelynn: Eu espero que todo mundo curta espionar o nosso mundo através dos nossos vídeos de conceito e de dança. Quanto ao que vem por aí… Bom, a gente não pode entregar assim todos os nossos segredos, não é mesmo?
Akali: O céu é o limite, certo?
Como cada integrante definiria seu estilo? Que peças e acessórios não podem faltar no armário de cada uma?
Evelynn: Eu sempre quero que as roupas de cada membro reflitam seu próprio estilo. Eu coleciono peças sensacionais, como meu trench coat em “THE BADDEST”. A Ahri é elegante e brilhante, e ama seus acessórios, como seu colar de diamantes. A Kai’Sa prefere peças ativas e lustrosas, que se movem junto com ela. Ela sempre usa laços de cabelo por esse motivo. A Akali tem uma mistura de estilos de streetwear e punk, como seu blazer modificado.
Vocês já se apresentaram na Coreia do Sul e China. Em quais lugares gostariam de performar agora? Existe alguma chance do K/DA vir ao Brasil no futuro?
Kai’Sa: Eu amaria que o K/DA se apresentasse em algum lugar da Europa e da América do Sul um dia. Nada garantido, mas se nós pudéssemos fazer acontecer, o Brasil também estaria na nossa lista, definitivamente.
Sabemos que o universo dos games ainda é um espaço machista. O que vocês sentem sobre mulheres ocuparem esse lugar? E que mensagem gostariam de deixar para encorajá-las?
Akali: Sabemos que é duro lá fora. E as pessoas podem ser cruéis. Se nós queremos transformar o mundo dos games, precisamos de mais de nós. Precisamos nos encontrar e nos levantar. Não é uma competição, estamos todas juntas no mesmo time. Nós temos que dar suporte uma à outra.
Como vocês se sentem fazendo tanto sucesso por aqui?
K/DA: Nós amamos nossos BLADES brasileiros! Muito obrigada por sua recepção tão calorosa desde o começo. Estamos orgulhosas de ter fãs tão incríveis.
Ouça o EP “ALL/OUT” no Spotify:
Gustavo Balducci é designer, pesquisador e colunista de K-pop. Multifandom declarado, passa o tempo compartilhando memes e vídeos de idols na internet.
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