Chloé Zhao fala à ELLE sobre seu salto do cinema autoral para “Eternos”

Superprodução, assinada pela diretora que levou o Oscar neste ano, estreia nesta quinta-feira (04.11); para Kit Harington, toda a diversidade que a Marvel procurou levar ao filme não faria sentido se o longa tivesse um homem branco à frente.


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Chloé Zhao passou discretamente pelo tapete vermelho do Union Station, em Los Angeles, de tranças e usando tênis, a caminho do Oscar 2021. Mas horas depois, saiu da cerimônia com um dos destaques da noite, levando para casa duas estatuetas: uma de melhor diretora — feito que uma única outra mulher havia conquistado, Kathryn Bigelow, em 2010, por Guerra ao terror —, e outro por Nomadland, eleito melhor filme do ano.

Poucos meses depois, a diretora chinesa passa do cinema autoral para os blockbusters com Eternos, que estreia nesta quinta-feira (04.11). Parte do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), o filme apresenta um novo grupo de super-heróis, seres celestiais com habilidades divinas que vivem entre os humanos há mais de 7.000 anos.


Eternos | Marvel Studios | Trailer Final Legendado

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Eternos
começou a ser produzido em 2018, pouco depois de Chloé contrariar seu status de diretora cult e procurar a Disney para dirigir um filme da Marvel. Foi escolhida então para dirigir o longa, recheado de efeitos especiais e com um elenco de peso, com nomes como Angelina Jolie, Richard Madden, Gemma Chan, Kit Harington, Salma Hayek e um certo astro pop cuja identidade os espectadores precisarão esperar as cenas pós-crédito para descobrir. O orçamento também era bem diferente do que ela estava acostumada: 200 milhões de dólares — quatro vezes mais que o de Nomadland.

Chloé conversou sobre essa transição com a ELLE, ao lado de Harington (Game of Thrones), que interpreta Dane Whitman, um humano comum entre tantos super-heróis do filme:

Como vocês foram convidados para participar de Eternos?
Chloé Zhao: Na verdade, eu procurei fazer um filme da Marvel. Pedi a meus empresários que comunicassem meu interesse à Disney, e fui chamada para um “teste” para Eternos. Fiquei apaixonada pela história, preparei uma proposta (sobre como o filme seria) para o Kevin (Feige, presidente dos Estúdios Marvel) e fui contratada em seguida.
Kit Harington: Para mim, foi meio que uma surpresa. Ainda não tinha trabalhado com a Marvel, mas queria. Estou feliz que minha estreia seja neste filme, é o tipo de introdução ao MCU que eu queria fazer.
C: Você também fez um sucesso naquela outra sériezinha (Game of Thrones), vai.
K: Eles viram aquela série, eu acho.

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Chloé Zhao na estreia de “Eternos” em Paris.Getty Images

Quais foram os principais desafios de dirigir um filme com um grande orçamento e muita computação gráfica? Basicamente, você pulou do cinema autoral para os blockbusters.
C: Eu acredito que o cérebro humano tem uma capacidade, um número de decisões que podem ser tomadas em um dia. Você pode seguir decidindo coisas, mas não acredito que elas sejam do tipo que você pensa antes de fazer. Então, a partir de certo momento, precisa de pessoas ao seu redor, de elenco, da equipe técnica, dos produtores para te ajudar. Então, sim, foi um desafio e bem-vindo, porque fez parte de um processo colaborativo.

Eternos e Nomadland são filmes bem diferentes. Na sua opinião, o que eles têm em comum — além da diretora, claro?
C: Na verdade, acho que eles têm muito em comum. Eles foram filmados com a mesma câmera, as mesmas lentes, o mesmo equipamento, no geral. O movimento de câmera também é bem parecido, os cenários também, lugares planos e musgosos, (filmados) ao crepúsculo. Os dois também contam uma história maior, universal, por meio de momentos humanos. No caso de Eternos, uma família disfuncional e seu relacionamento uns com os outros.

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Chloé Zhao dirigindo Richard Madden em “Eternos”Foto: Divulgação/Marvel


No universo da Marvel, os heróis vivem no mesmo mundo que o nosso. Existe algo que vocês trouxeram de suas experiências pessoais para o filme?
K: Todos nós trouxemos um pouco de nós mesmos para os personagens, e a Chloé nos escalou para que fossemos parecidos com nós mesmos no filme. Então, eu queria tentar manter Dane (personagem de Harington no filme) ao máximo perto de mim. Não sinto que mostrei esse meu lado sensível antes, especialmente em um projeto desse tamanho.
C:
Eu trouxe meu gosto estranho para a música para esse filme.
K:
É um ótimo gosto musical.
C: O filme tem uma coleção bem eclética de músicas.

Por outro lado, os humanos estão ficando menores com o passar dos filmes. Primeiro, existiam super-heróis, agora existem criaturas divinas. Mas temos Dane Whitman.
K: Por um momento, achei que você estava falando sobre a minha altura!

Não, sobre o valor da humanidade! Não sei qual é sua altura…
C:
Ele não é alto (risos).
K:
Não, eu não sou muito muito alto. É maravilhoso poder interpretar um personagem inteiramente humano. Enquanto todos têm algum superpoder, com o Dane partimos de quem ele é. Isso é um enorme presente.
C:
Personagens como Dane Whitman são muito importantes para o MCU. Por exemplo, o Homem-Aranha e o Capitão América começam como seres humanos comuns, e são amados por isso. Depois, eles se tornam superpoderosos e nós podemos acompanhar o quão complicado isso é. O Universo Marvel tem que encontrar um ponto de equilíbrio, ele não pode seguir ficando maior e mais poderoso a cada filme, porque eventualmente isso irá ruir.

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Kit Harrinton e Gemma Chan em “Eternos”Foto: Divulgação/Marvel


Chloé, a sua vida e carreira mudaram depois de vencer o Oscar?
C: Não muito, na verdade. Voltei a trabalhar normalmente no dia seguinte. Mas meus pais ficaram muito felizes.

Qual é a mensagem que o mundo deve receber ao ver uma mulher chinesa dirigindo um filme de super-heróis, um mercado antes dominado por homens?
C: Quando o público ver o filme, espero que eles sintam que possamos contar histórias uns aos outros. Quando fazemos isso, contamos as nossas histórias, também encorajamos o outro a contar a dele. Podemos aprender muito uns sobre os outros no processo de contar histórias.
K:
Esse filme, com esse elenco, personagens e toda a diversidade que a Marvel tentou trazer não daria certo se fosse dirigido por um homem branco. Essa era uma história para a Chloé contar.

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