Timothée Chalamet fala sobre sua performance como Bob Dylan
Ganhador do SAG Awards, ele pode se tornar o mais jovem vencedor do Oscar na categoria de melhor ator.

Com sua vitória no SAG Awards, o prêmio do Sindicato dos Atores, no último domingo (23.02), Timothée Chalamet ganhou fôlego na corrida pela estatueta de melhor ator no Oscar, que acontece neste domingo (02.03), por sua interpretação de Bob Dylan em Um completo desconhecido.
O longa, que estreia nesta quinta-feira (27.02) nos cinemas brasileiros, concorre a um total de oito estatuetas, incluindo melhor filme, direção (James Mangold), atriz coadjuvante (Monica Barbaro, de Top Gun: Maverick) e ator coadjuvante (Edward Norton).
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O discurso de Timothée no SAG surpreendeu muita gente pela honestidade. É um momento em que muitos tentam fazer graça e fingir que não prepararam nada (Kieran Culkin, entre eles) e outros falam de maneira estudada, querendo provocar emoção ou emitir frases importantes (Zoe Saldaña e Adrien Brody na lista). Timothée mencionou os cinco anos e meio de dedicação para interpretar Dylan, reconheceu seus colegas de elenco e disse estar em busca de grandeza, citando Daniel Day-Lewis, Marlon Brando e Viola Davis como inspirações, além dos esportistas Michael Jordan e Michael Phelps. “Sei que as pessoas normalmente não falam assim, mas quero ser um dos grandes”, afirmou. Alguns podem ter achado presunçoso, mas soou franco.
Timothée se destacou na divulgação de Um completo desconhecido – e, consequentemente, em meio à temporada de premiações que culmina no Oscar – porque fez à sua maneira. E pareceu genuinamente se divertir durante o percurso, porque as ações tinham a ver com seu jeito e pareciam, de novo, sinceras. A maioria dos atores durante a temporada de premiações divulga seus filmes e seu trabalho indo a pré-estreias, apertando centenas de mãos, falando sobre amenidades. É um concurso de popularidade tanto quanto de melhor performance do ano.
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Timothée até fez tudo isso. Mas se destacou porque criou momentos virais, por exemplo, aparecendo em seu próprio concurso de sósias. No Festival de Berlim, onde Um completo desconhecido foi apresentado fora de competição, no Dia de São Valentim (o Dia dos Namorados nos Estados Unidos), ele foi vestido de rosa bebê da cabeça aos pés. Também fez uma live em seu Instagram, dançando em um terraço para se despedir de seu papel. Entrevistou Kendrick Lamar para a Apple Music antes do show do rapper no intervalo do Super Bowl.
Mas a verdade é que desde sempre Timothée se esforçou para estar onde está. Esta é sua segunda indicação ao Oscar – a primeira foi por Me chame pelo seu nome (2017), quando ele tinha 22 anos. Em sua carreira, o ator participou de sete longas indicados ao Oscar de melhor filme. Em 2025, ele tem dois na lista: Um completo desconhecido e Duna: Parte dois. Pode parecer sorte, mas não é. Ele sabe escolher os projetos pelos motivos certos – sua prioridade é sempre quem dirige – e evita ficar preso e marcado por um papel.
Se ganhar desta vez, se tornará o mais jovem a levar para casa o Oscar de melhor ator, desbancando seu principal rival na disputa, Adrien Brody, que concorre por O brutalista. No domingo, Timothée tornou-se o mais jovem ator a ganhar o prêmio do Sindicato dos Atores.
Voltando a Um completo desconhecido, o filme mostra a chegada de Bob Dylan a Nova York, em 1961, até seu rompimento com a folk music e a adoção de instrumentos elétricos no Newport Folk Festival de 1965. De natureza arredia, o cantor e compositor influencia e é influenciado pela amizade com a lenda da folk music Pete Seeger (Norton) e pelos relacionamentos com a artista Sylvie Russo (Dakota Fanning), baseada em Suze Rotolo, e a cantora Joan Baez (Barbaro). É nessa época que ele compõe hinos que embalaram a luta pelos direitos civis e contra a Guerra do Vietnã.
Na entrevista coletiva via videoconferência com a participação da ELLE, o ator se mostrou atento e agradeceu muito a presença de todos e o interesse no filme – parece básico, mas não é sempre o caso.
Inspiração em Bob Dylan
“É admirável que, na sua juventude, ele já tinha aprendido o que muitos artistas levam anos para descobrir: confie em seus instintos. Ele sabia que era a coisa certa a fazer. Acho isso inspirador.”
O mergulho no compositor
“Minha pesquisa em certo momento passou a ser uma obsessão. E permanece sendo. Mas teve a ver com o tempo que acabei tendo para me preparar, que foram cerca de cinco anos, por causa da Covid e da greve dos atores e roteiristas. Eu não trabalhei, eu vivi. Foi como se eu respirasse a experiência. Cheguei a ir a Minnesota para ter um gosto do lugar onde ele nasceu e cresceu.”
Interação com o músico
“Não tive nenhuma. Mas acho meio maravilhoso porque tem tudo a ver com a maneira como ele é. Adoraria que ele assistisse ao filme, seria uma honra. Mas não ficarei surpreso se nunca assistir.”
“Adoraria que ele (Dylan) assistisse ao filme, seria uma honra. Mas não ficarei surpreso se nunca assistir”
Primeiro contato com a música do compositor
“Um amigo do meu pai era fanático por ele. Tinha um retrato em preto e branco enorme de Bob Dylan em seu apartamento. Ele era muito apaixonado pelo cantor e por seu lirismo. Mas ‘Times they are a-changin’ e ‘Blowin’ in the wind’ são parte do DNA dos Estados Unidos. Quando comecei a trabalhar no filme, percebi que essas canções escritas por esse poeta incrível estavam no meu sangue. Fiquei obcecado por sua música enquanto trabalhava no longa. Só ouvia Bob Dylan. Sua obra é poética, emocionante, grandiosa. Sendo um artista jovem, é fabuloso poder mergulhar nela nos meus 20 anos, é um grande artista com quem aprender.”
A relevância da música
“O incrível de sua obra é sua atemporalidade. Canções como ‘Blowin’ in the wind’ e ‘Times they are a-changin’ são sempre verdadeiras e podem ser descobertas por novas gerações. Porque elas falam do presente, mas apontam para o futuro, como um farol.”
Monica Barbaro como Joan Baez e Timothée como Dylan
Ego, arrogância e genialidade
“A minha interpretação dele neste filme é de alguém extremamente talentoso e jovem que ainda está aprendendo a lidar com seu talento. Ele não está seguindo uma receita, está descobrindo as coisas na hora. Por isso gosto das cenas em que ele está criando letras às 3 da manhã, sem conseguir largar a caneta (no filme, há trechos em que ele deixa namoradas e amigos de lado para compor). Não há código de ética social para isso. Uma das características admiráveis de Bob é colocar o trabalho em primeiro lugar, para nosso benefício. Acho que sua busca por fazer uma obra relevante não levava em conta como isso afetava as pessoas à sua volta. Não é alguém que faz coisas ruins ciente disso. Quando ele irrita alguém, não é algo que está em sua mente, o trabalho é que está. Na época, no caso de grandes artistas, eles eram percebidos pelo trabalho que estavam fazendo.”
O momento mais difícil
“Para ser honesto, foi o segundo em que terminamos de filmar. No carro, indo para casa, senti todo o esforço e trabalho que tinha empenhado neste projeto. E também a melancolia de deixar este papel, este personagem, este mundo no qual estava vivi por mais de cinco anos. Tentei me convencer de que não era o fim, porque eu sigo descobrindo novas músicas de Bob até hoje, continuo fascinado por seu universo. Apenas a parte de trazê-lo à vida no filme tinha terminado, o que foi muito emocionante para mim.”
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