Gabriel Leone fala sobre a experiência de atuar em “Ferrari”
Longa de Michael Mann, que marca sua estreia internacional, é protagonizado por Adam Driver e Penélope Cruz. Ator ainda volta ao streaming e ao cinema neste ano.
Por obra do acaso, dois pilotos surgiram em um intervalo curtíssimo de tempo na galeria de personagens de Gabriel Leone. O primeiro foi Alfonso de Portago, de Ferrari. No longa dirigido por Michael Mann (O último dos moicanos e Ali), que estreia nesta quinta-feira (22.02) nos cinemas brasileiros, o personagem de Gabriel, um anglo-espanhol com origens aristocráticas – e um coadjuvante de peso na trama –, entra para a equipe de pilotos de Enzo Ferrari (Adam Driver), que vê seu império automobilístico perto da falência, em 1957.
Ao mesmo tempo, Enzo se divide entre a ex-mulher (Penélope Cruz, em uma atuação cotada para o Oscar) e o luto pelo único filho do casal, e a amante (Shailene Woodley) e a criança que tiveram juntos. A corrida pela Itália que Alfonso participará – e uma necessária vitória – é uma maneira de Enzo revitalizar seu império.
Depois de um pit stop, Gabriel voltará ao streaming para interpretar Senna na série homônima da Netflix. O ator soube que interpretaria o piloto de Fórmula 1 em meio às gravações de Ferrari, em Módena, em 2022. “Foi totalmente uma coincidência”, conta à ELLE.
Na volta da Itália, já caiu nas filmagens de Barba ensopada de sangue, adaptação do livro de Daniel Galera, dirigida por Aly Muritiba (Cangaço novo), em Cananéia, no litoral de São Paulo. E depois seguiu com as gravações da terceira e última temporada de Dom, do Prime Video, com estreia prevista para este ano.
Depois da estreia internacional, o ator de 30 anos (e já 15 de carreira) aguarda o lançamento desses outros três trabalhos, enquanto costuma postar no Instagram o que assistiu de bom ultimamente. Da temporada recente de filmes, elege Anatomia de uma queda (e a atuação da alemã Sandra Huller), Pobres criaturas (“Yorgos Lanthimos é um diretor que eu acompanho há um tempão, vi tudo dele”) e The Bear (“Pirei”) no streaming. A seguir, os principais trechos da conversa com a ELLE:
Adam Driver e Gabriel Leone em cena de 'Ferrari' Divulgação
Você já estava pensando numa carreira internacional: estudou inglês na pandemia e contratou um empresário internacional. Mas como surgiu o papel em Ferrari?
Eu já vinha trabalhando com uma empresária nos Estados Unidos, fazendo alguns testes pontuais. Mas, na verdade, o teste para o Ferrari chegou através do Rodrigo Teixeira, que é um produtor de cinema, um grande parceiro e amigo meu. Ele estava em Cannes com um filme que coproduziu e cruzou com um agente, que sabia que ele tinha uma relação com atores latinos. O Rodrigo falou de mim, mostrou uma foto minha para esse cara, que é muito amigo do Michael Mann. O agente lembrou que ele estava em busca de um ator com esse perfil. Mandou para o Michael, que pediu uma self-tape (uma gravação como teste) minha. Isso chegou para mim com urgência. Tive que gravar no dia seguinte e fiz, inclusive, duas cenas minhas que estão no filme. E recebi a resposta que tinha sido aprovado em uns dois dias. Uma semana depois, conheci o Michael por vídeo. Ele já estava na Itália, fazendo a pré-produção. Um mês depois, eu já estava lá para começar os ensaios e rodar o filme. E aí entendi que o meu personagem foi o último a ser escalado. As coisas, os astros se alinharam.
“Lembro que quando assisti ao filme pela primeira vez, eu estava meio nessa: “Vou me ver falando inglês pela primeira vez, como vai ser isso?”. E fiquei feliz com o resultado.”
Não é fácil para um ator contracenar em uma língua que não é a sua. Como foi lidar com esse desafio?
Foi a primeira experiência em que tive não só que atuar, mas ser dirigido em inglês. Foi uma experiência muito importante para mim. Foram quatro meses morando e trabalhando na Itália. E não quis nem saber do italiano. Fiquei muito focado no inglês para não misturar as coisas. Diria que fiquei bem orgulhoso com o resultado, sendo a primeira experiência que tive. O Michael sempre me deu muita confiança, sempre falou: “Você foi feito para esse personagem, e ele foi feito para você”. Alfonso era espanhol, mas nasceu na Inglaterra, cresceu na França e nos Estados Unidos, falava um inglês bom, mas com um sotaque meio indecifrável, meio como é o brasileiro. O Michael definiu então que seria o meu próprio sotaque. Então, não precisei me preocupar com isso. A gente tinha um dialect coach (treinador de dialeto), um cara que trabalhou comigo e também me deu segurança. Lembro que quando assisti ao filme pela primeira vez, eu estava meio nessa: “Vou me ver falando inglês pela primeira vez, como vai ser isso?”. E fiquei feliz com o resultado. Acho que consegui conectar as minhas emoções e o que queria fazer em cada cena, mesmo falando inglês, sabe?
Gabriel Leone como Alfonso de Portago
Foto: Divulgação/Eros Hoagland
Aos 30 anos você já é um ator experiente no Brasil, mas sentiu um pouco do impacto desse primeiro “set hollywoodiano”?
Sou louco pelo cinema do Michael, e a mesma coisa com o Adam (Driver) e com a Penélope (Cruz). Então, foi incrível chegar pela primeira vez, sentar naquela mesa de leitura ao lado deles. Mas ao mesmo tempo, como você bem falou, não cheguei ali à toa, né? Venho trabalhando e construindo minha carreira há 15 anos, desde que comecei no teatro. Fiz um teste, fui aprovado. Tenho um trabalho construído e eu tenho isso muito firme dentro de mim. Sabia que fui escolhido. E eu estava ali para trabalhar tanto quanto qualquer outro ator, independentemente de já ter bagagem em Hollywood ou não. Todos me receberam muito bem, foi um processo incrível.
“Eu estava ali para trabalhar tanto quanto qualquer outro ator, independentemente de já ter bagagem em Hollywood ou não.”
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O que você aprendeu com o Michael Mann ou com o Adam Driver e que provavelmente você vai lembrar em um próximo projeto?
Boa parte das minhas contracenas foram com o Adam. Não só o jogo que a gente teve foi muito legal, mas vê-lo talvez no personagem mais diferente da carreira dele, muito mais velho que ele, com um tempo de preparação muito grande, por conta das próteses, de peruca, de pele, etc. E a energia que ele trouxe para o personagem, o sotaque italiano, a forma como ele usou o corpo dele… Tem uma cena no filme em que ele dá um discurso grande para todos os pilotos, mas muito direcionado para o meu personagem. É um monólogo gigante. Vi que ele repetia aquele texto sei lá quantas vezes, das maneiras mais diferentes, experimentando intenções e movimentos diferentes. Então, foi incrível não só contracenar, mas poder estar perto vendo o ator que ele é. Michael é um diretor que gosta muito de repetir os takes e experimentar coisas diferentes. Quando entendi o processo dele, virou um exercício, um aprendizado diário. Às vezes, a gente começava num ponto, dava a volta, experimentava coisas para voltar ao ponto inicial.
Sarah Gadon, como a atriz Linda Christian, a namorada de Alfonso (à direita) no filme Foto: Divulgação/Eros Hoagland
E você já sabe o que irá fazer ano que vem, depois do lançamento desses projetos?
Não tenho nada previsto, justamente porque é um momento de parar um pouco, descansar e estar disponível para receber projetos. Aproveitar também esse momento de pós-lançamento dos trabalhos, e o que vem deles como novas possibilidades, frutos dessas sementes que venho plantando. Então, estou bem tranquilo. E agora é o momento – nem sei dizer se é o mais legal ou não –, de chegar até o público e ver a reação das pessoas. É para isso que a gente faz, de alguma forma.
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