A maquiagem e o cabelo dos cinco concorrentes à categoria no Oscar 2024

A beleza dos filmes indicados a melhor maquiagem e cabelo no Oscar 2024 vem de diferentes lugares: da dor, da fantasia, do tempo… Aqui dissecamos cada um dos concorrentes à estatueta.


Pobres criaturas, um dos cincos indicados ao Oscar 2024 de cabelo e maquiagem
Emma Stone em cena de "Pobres criaturas" Foto: Divulgação



De contos fantásticos a narrativas históricas, os indicados à categoria de melhor maquiagem e cabelo no Oscar 2024 representam uma miríade do que pode ser a beleza no cinema. A seguir, esmiuçamos detalhes técnicos e comentamos sobre cada concorrente. Leia e faça a sua aposta!

Golda: A mulher de uma nação

Beauty artists: Ashra Kelly-Blue, Karen Hartley Thomas e Suzi Battersby.
Histórico:
Ashra Kelly-Blue: No cinema, fez Greatest says (2023) e já participou de séries de televisão como Você (Netflix) e Willow (Disney+).
Karen Hartley Thomas: A história pessoal de David Copperfield (2019), O espião inglês (2020), Vermelho, branco e sangue azul (2023) e Persuasão (2022).
Suzi Battersby: Star Wars: O despertar da força (2015), Morbius (2022), Convenção das bruxas (2020).
A beleza: O filme conta a história de Golda Meir (Helen Mirren), primeira-ministra de Israel durante a guerra do Yom Kippur (1973). O exercício mais notável de maquiagem e cabelo do filme reside na caracterização da atriz inglesa para viver a protagonista. Mirren, por sinal, não queria que próteses de silicone fossem utilizadas. No entanto, depois de um teste de maquiagem, foi convencida a gravar com a ajuda delas. O intuito da equipe de cabelo e maquiagem não era o de transpor o rosto de Meir no de Mirren, mas o de criar uma imagem que preservasse a essência de ambas. Vale dizer que o time ainda contou com a consultoria do sobrinho da ex-primeira-ministra, que lembra com clareza de alguns aspectos cruciais de sua beleza, como o jeito que o seu cabelo ficava quando molhado, entre outras sutilezas que foram devidamente aproveitadas por Kelly-Blue, Thomas e Battersby.
Nota do editor: “A indicação de Golda, sem dúvida, é uma grande surpresa. Primeiro porque, diferentemente de seus concorrentes, este é um filme que não foi indicado a nenhuma outra categoria do Oscar deste ano. E ainda que o uso de próteses tenha sido, por parte da equipe, minimalista, é difícil encontrar nos jornais uma crítica que diga que Helen Mirren não pareça estar “coberta de próteses”. Ou seja, a sutileza almejada não foi alcançada. No mais, trata-se de um longa-metragem que, tirando a caracterização da protagonista, não dá muitas outras oportunidades para brilhantismos de cabelo e maquiagem. Dificilmente levará o troféu.”
Outras indicações: Nenhuma.
Onde assistir: Prime Video e aluguel no Apple TV, YouTube e Google Play

A sociedade da neve

Beauty artists: David Martí, Montse Ribé, Ana e Belén López-Puigcerver.
Histórico:
David Martí: O labirinto do fauno (2006) – vencedor do Oscar –, A pele que habito (2011).
Montse Ribé: Trabalhou junto com Martí em O labirinto do fauno e em vários filmes de Pedro Almodóvar como Julieta (2016), Dor e glória (2019) e Mães paralelas (2021).
Ana López-Puigcerver: Os outros (2001), Mar adentro (2004).
Belén López-Puigcerver: Trabalhou junto com Ana, sua irmã, em Os outros.
A beleza: Em 1972, um avião da força aérea uruguaia caiu em uma região absolutamente glacial e inóspita dos Andes. A sociedade da neve conta a história dos sobreviventes desta tragédia. O grande desafio da equipe de maquiagem e cabelo, portanto, foi o de, nos 72 dias de filmagem em continuidade, descrever fisicamente as agruras enfrentadas por estes corpos nesta situação tão radical. Além disso, houve também um grande esforço em deixar os atores parecidos com os verdadeiros sobreviventes – afinal, para além de serem pessoas reais, muitos estão vivos.
Nota do editor: A sociedade da neve tem a minha maquiagem e o meu cabelo favoritos entre os indicados. Isso porque a beleza corrobora essencialmente com a narrativa. É a partir dela que conseguimos ter noção da gravidade, da dor, do desespero, da insalubridade, da violência enfrentados pelos personagens do filme. Depois, há também uma linguagem estética muito bem amarrada – calcada na melancolia, na sujeira, na brutalidade – que cai muito bem do ponto de vista dramático: as emoções têm que irromper a dureza da maquiagem para se manifestarem.”
Outras indicações: Melhor filme em língua estrangeira.
Onde assistir: Netflix

Maestro

Beauty artists: Kazu Hiro, Kay Georgiou e Lori McCoy-Bell
Histórico:
Kazu Hiro: Triplo vencedor do Oscar por O curioso caso de Benjamin Button (2008), O escândalo (2019) e O destino de uma nação (2017).
Kay Georgiou: Coringa (2019) – indicado ao Oscar –, Minha vida com Liberace (2013), O patriota (2000).
Lori McCoy-Bell: Amsterdam (2022), Trapaça (2013), As panteras (2000).
A beleza: Kazu Hiro passou quatro anos desenvolvendo os cinco combos de próteses usados para representar os diferentes momentos de vida de Leonard Bernstein (Bradley Cooper) em Maestro. Aliás, como o regente tinha um desvio de septo – o que influenciava na maneira como sua voz se projetava –, Hiro reproduziu algo similar no nariz escolhido para o filme. Nariz este que rendeu grande polêmica por, supostamente, reforçar uma visão estereotipada e preconceituosa de um homem judeu.
Nota do editor: “Diferentemente de Golda, Maestro consegue, sim, chegar em um amálgama equilibrado entre o personagem retratado e o ator. Ainda assim, importa menos o nariz e mais a questão toda da jewface (quando atores não-judeus interpretam judeus em Hollywood). Para que a dinâmica e as proporções do rosto de Cooper se aproximassem das de Bernstein, o nariz era necessário – agora se não-judeus devem ou não interpretar judeus no cinema, a revista New Yorker tem um excelente artigo sobre o assunto.”
Outras indicações: Melhor filme, melhor ator (Bradley Cooper), melhor atriz (Carey Mulligan), melhor fotografia, melhor roteiro original, melhor edição de som.
Onde assistir: Netflix

Oppenheimer

Beauty artists: Luisa Abel
Histórico: Colaboradora de longa data de Christopher Nolan, participou de longas do diretor como Interestelar (2014) e A Origem (2010).
A beleza: Os números de Oppenheimer impressionam: são 73 personagens com falas e 18 que envelhecem na tela, três a cinco décadas de salto temporal no filme e seis diferentes fases do protagonista – tudo filmado em IMAX. Ou seja, muito trabalho para Abel que, por sinal, mandou fazer uma versão amplificada de seus óculos de graus (apelidados carinhosamente de “óculos IMAX”). Foi com eles que ela corrigiu e finalizou todos os visuais do longa-metragem.
Nota do editor: “É muito difícil que Oppenheimer perca esta estatueta. Este é o trabalho mais desafiador, mais complexo, entre todos os indicados e, de fato, há uma naturalidade invejável no trabalho de Abel. Vai ser muito legal ver seus esforços sendo reconhecidos em um ano em que tantos veteranos e nomes queridinhos da Academia concorrem ao lado dela.”
Outras indicações: Melhor filme, melhor direção, melhor ator (Cillian Murphy), melhor ator coadjuvante (Robert Downey Jr.), melhor atriz coadjuvante (Emily Blunt), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor edição de som, melhor trilha sonora original, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor montagem.
Onde assistir: Netflix

Pobres criaturas

Beauty artists: Nadia Stacey, Mark Coulier e Josh Weston
Histórico:
Nadia Stacey: Voando alto (2015), Cruella (2021) – indicado ao Oscar –, A favorita (2018) e Bob Marley: One love (2024).
Mark Coulier: Elvis (2022) – indicado ao Oscar –, Suspiria (2018), Grande Hotel Budapeste (2014) – vencedor do Oscar –, A dama de ferro (2011) – vencedor do Oscar.
Josh Weston: Trabalhou junto com Stacey em Bob Marley: One Love e junto de Coulier em Suspiria. Fez também Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco da Rua Fleet (2007), Branca de Neve e o caçador (2012).
A beleza: O diretor Yorgos Lanthimos proibiu a equipe de beleza de usar perucas em Emma Stone – ainda que, no roteiro, estivesse especificado que o cabelo de sua personagem cresce a uma velocidade maior que a normal. A resolução foi criar um mix de extensões capilares que dessem esse efeito sem perder a naturalidade da raiz de verdade. Sobre a maquiagem, a atriz passa metade do filme sem nada no rosto e, na sequência – dentro do contexto de um bordel em Paris – o make entra em cena sempre em “cores anatômicas”: roxo de hematomas, rosa da pele, verde das veias, etc.
Nota do editor: “Com certeza, este é o filme entre os indicados que representa o lado mais lúdico que a maquiagem e o cabelo podem representar no cinema. O que é muito legal de ver o Oscar valorizar. Do ponto de vista da beleza, não sou o maior fã de como as coisas se desenrolam em Pobres criaturas. A técnica das extensões, por exemplo, preserva a raiz, mas em momentos de maior movimentação de Emma Stone, fica muito nítida a divisão das mechas. As próteses de Willem Dafoe – ainda que o intuito seja o do exagero – me parecem agressivas. De modo geral, acho o universo estético do filme tão pretensioso que seria difícil não cair em alguns problemas de execução.”
Outras indicações: Melhor filme, melhor direção, melhor atriz (Emma Stone), melhor ator coadjuvante (Mark Ruffalo), melhor fotografia, melhor roteiro adaptado, melhor direção de arte, melhor trilha sonora original, melhor figurino, melhor montagem.
Onde assistir: em cartaz nos cinemas

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