Mulheres no front: conheça três DJs que vão tocar no Gop Tun Festival
A alemã Helena Hauff, a canadense Marie Davidson e a brasileira Ananda falam à ELLE sobre a Gop Tun, música, igualdade nas pistas e moda.
DJs e produtores homens sempre estiveram à frente de grandes festivais, produções, festas e da música eletrônica, em geral. O cenário começou a mudar, pelo menos no Brasil, quando uma geração de mulheres abriu com muito esforço espaço em clubes e raves, seguida por outra que passou a criar suas próprias festas, caso de Cashu e Laura Diaz (aka Carne e Osso), da festa paulistana Mamba Negra, e de Ananda Nobre, da carioca Kode.
A ideia era – e ainda é – criar novos ambientes, já que não havia tantos lugares para elas nas grandes festas. Com o tempo, os produtores começaram a perceber que este é um caminho sem volta.
A Gop Tun é um exemplo, mostrando que dá para ter mais igualdade e diversidade de gênero no line-up. Na edição deste ano do festival organizado pelo crew paulista de DJs, que acontece no próximo sábado (20.04), em São Paulo, dos 40 nomes que irão se apresentar no estádio do Canindé, 18 são mulheres. Ainda não é igualdade, mas estamos próximas.
Conversamos com Helena Hauff, Marie Davidson e Ananda Gomes, que estarão nos palcos da Gop, para entender como está o espaço feminino nas festas ao redor do globo e saber mais sobre suas batidas:
Helena Hauff, uma das headliners do Gop Tun Festival. Foto: Divulgação
HELENA HAUFF
Um dos grandes nomes mundiais do techno, electro e acid, a alemã é uma das headliners do Gop Tun Festival. “Eu amo tocar no Brasil, a energia é muito especial e tenho os fãs mais incríveis no país.” Essa é a quarta vez que a DJ alemã visita o país – ela sonha em escalar o Pão de Açúcar – e diz estar animada para ouvir o set das duplas Octave One e Eris Drew & Octo Octa (nossas favoritas também!).
Por que é importante ter mais DJs mulheres nos palcos?
Representação é importante porque é fundamental termos modelos. Nós precisamos mostrar para as pessoas que é possível fazer parte disso, não importa quem você é, como você é ou de onde você vem. Nós ainda temos uma jornada longa até a equidade entre sexos, raças, origens e classes, infelizmente. Mas se todos nós estivermos cientes destes problemas, talvez eles se tornem menores com o tempo.
Você escuta música brasileira?
Eu amo Os Mutantes, Gal Costa e Milton Nascimento!
Qual é o seu look favorito para tocar?
Eu amo moda. Coisas que são agradáveis ao olhar me trazem felicidade. Como toco com vinil, infelizmente, não tenho espaço na mala para levar muitas roupas. Meu look preferido é um cropped e jeans, uma saia ou um vestido. E sapatos que me permitam dançar. Adoro simplicidade e elegância, mas também curto roupas estranhas, ousadas e peculiares. Não consigo decidir. Preciso? (risos). Gosto de marcas como Alexander McQueen, Vivienne Westwood, Dries Van Noten e Prada.
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A canadense Marie Davidson. Foto: Divulgação
MARIE DAVIDSON
A canadense conquistou o coração das fashionistas quando, no desfile de verão 2020 da Margiela, sua track “Work it” (em remix do Soulwax, projeto voltado ao rock dos mesmos integrantes dos 2manydjs) embalou os passos de Leon Dame, destaque da apresentação. Curiosamente, a DJ conta rindo que não conhecia a etiqueta até aquele momento. “Eles são ousados, a Margiela não é uma marca aleatória. Fiquei muito feliz e orgulhosa quando usaram minha música no desfile.”
Conhecida tanto por seus DJ sets quanto por suas performances ao vivo, em que também canta, Marie vai do electro ao techno. No Brasil, ela faz DJ set no Bar Caracol nesta sexta-feira (19.04) e, no dia seguinte, no festival, também canta suas próprias músicas. Em outubro, a DJ lança um disco em colaboração com o Soulwax.
Qual a diferença entre fazer um DJ set e uma live?
São duas performances completamente diferentes. Quando faço um DJ set, posso sempre mudar de ideia sobre quais músicas vou tocar. Como DJ, acho muito mais interessante tocar músicas de outras pessoas, escolho apenas duas ou três minhas. Para a live, passo meses ensaiando. E nem tenho como mudar, é um desafio maior. Mas quando as pessoas se conectam com aquilo, é um êxtase maior também.
Você escuta música brasileira?
Meu marido é um grande fã de música brasileira, especialmente dos artistas mais antigos. Dos novos nomes, eu adoro Badsista. É uma das coisas mais empolgantes que eu ouvi no ano passado.
Qual é sua relação com moda?
Vou te contar uma coisa: quando era criança, minha mãe assinava a ELLE, em Quebec, onde nasci. Então, a moda era muito importante para mim, porque lia todas aquelas revistas. Gosto de me vestir bem, mas não é minha maior preocupação. Eu me mexo muito no palco. Primeiro, minha roupa não pode desmoronar e, segundo, eu preciso sempre usar sapatos baixos. Não uso minhas roupas do dia a dia no palco, mas eu ainda estou tentando encontrar meu look perfeito.
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Ananda Gomes, DJ e dona da festa Kode. Foto: Divulgação
ANANDA
Carioca, Ananda trabalhou com hotelaria antes de virar DJ. Desde os 16 anos, ela frequentava a Bunker, boate no Rio de Janeiro, e aprendeu a tocar aos 24. Criadora da Kode, uma das festas referência da cena de música eletrônica underground da cidade, ela mistura techno, acid e breaks como ninguém.
Quando você decidiu virar DJ?
Meu primeiro contato com música eletrônica foi indo a Bunker. Eu super me apaixonei pela música, pela atmosfera – aquela coisa da noite. Eu era uma adolescente super-reprimida e esse ambiente me fez me entender melhor. Mas nessa época, não passou pela minha cabeça que pudesse também ser DJ. Hoje em dia, acho até que foi por causa da falta de referências femininas. Só via homens fazendo aquilo. Então, achava que não era pra mim. Mas eu adorava tudo.
Você ainda sai bastante?
Eu sou super-rolezeira. Estou tentando ser menos, porque a gente vai ficando mais velha, mais cansada… Se eu me jogo muito no final de semana, continuo tendo que trabalhar na segunda-feira (Ananda produz festas, um trabalho que vai além dos finais de semana). Mas comecei como uma clubber, né? Então, acho que vou ser uma eterna clubber. E quando você frequenta o rolê, tem um entendimento de como está a pista, o que está mudando, além de conhecer novas músicas e DJs.
Para você, qual a importância da equivalência de homens e mulheres nos line-ups das festas?
Quando comecei, tinha muito pouca mulher tocando. Já faz 12 anos, hoje está muito diferente, mas acho que a gente ainda não chegou ao ideal. Acho que a gente tem que estar sempre puxando essas pautas. Não só das mulheres, mas de pessoas LGBTQIA+, pessoas pretas. Vejo que a gente já caminhou e conseguiu muita coisa, mas muitas delas foram conquistadas porque nós estamos criando essas oportunidades.
Gop Tun Festival: 20.04, no Estádio do Canindé, às 15h. Ingressos de R$ 170 a R$ 280. Mais informações aqui.
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